Introdução
Os heróis da Torá Oral são um tipo especial de heróis. Suas histórias não são relatos de guerra e de batalhas, e suas crônicas, destituídas de eventos impressionantes. Esses heróis são heróis do espírito, cujos atos de heroísmo estão em seus pensamentos e palavras. Os palácios e as fortalezas que eles estabeleceram são invisíveis aos olhos.
Os próprios sábios talmúdicos declararam que é inapropriado erigir mausoléus nos túmulos desses eruditos, pois seus ensinamentos são seus monumentos. Mais do que isso, os livros criados por esses eruditos - a Mishná e o Talmud, a Tossefta, o Midrash Halachá e o Midrash Agadá - não pretendem, por natureza, contar a história de eruditos individuais. A preocupação principal deles é com ideias e pensamentos, debates e conversas dos sábios de Israel.
Assim, estes textos não nos dizem nada dos heróis daquele período, e até mesmo os eventos históricos são mencionados apenas de passagem. Além disso, uma tendência básica na literatura da Torá Oral é deixar as coisas numa espécie de eterno presente, no qual as ideias são o elemento permanente, enquanto a cronologia do tempo e das gerações tem significação apenas secundária. Isto não ocorre porque os sábios considerassem o conhecimento da história da nação e de seus eruditos algo sem importância. E que, sim, esse tipo de informação não foi escrito ou organizado. Mesmo que ela estivesse registrada geralmente ficava relegada aos arquivos das grandes ieshivót [academias de estudo das Escrituras e da religião judaica]. Apenas poucos desses textos sobreviveram. Portanto, não surpreende que, apenas em tempos recentes, a história dos sábios da Mishná e do Talmud foi reunida a partir do material espalhado por toda a literatura da Torá Oral. Apesar dos grandes esforços de acadêmicos e eruditos, o que permanece desconhecido supera o que foi revelado.
No entanto, a literatura da Torá Oral, mesmo em suas partes mais técnicas, não é nem árida nem impessoal. As personalidades dos diferentes sábios e seus caracteres espirituais - e, às vezes, até mesmo os acontecimentos privados e triviais de suas vidas - emergem desse material aparentemente legalístico. O modo especial pelo qual essa literatura é editada - na forma de debates e discussões - produz figuras vívidas e humanas, personagens com os quais podemos nos relacionar, identificar e amar. Reunidos, os muitos detalhes encontrados nas várias fontes revelam as personalidades que produziram a Torá Oral, com toda a multiplicidade de tipos e as diferenças entre eles.
Este livro pouco volumoso não pretende prover a história dos sábios, nem descrever suas distintas escolas de pensamento. Tem a intenção de dar uma certa impressão, um esboço de personalidades como pensadores e eruditos e como seres humanos, os quais nós - assim como outros durante gerações - podemos ver diante de nós, vivos, ainda hoje.