Prefácio do tradutor
Sobre a vida de Maimônides
Maimônides - bendita seja a sua memória! -, o RAMBAM, acrônimo de Rabi Moshe, filho de Maimon, (1138-1204), nasceu em Córdoba na Espanha e faleceu no dia 20 do mês de Tevet, e de acordo com a tradição está enterrado na cidade de Tiberíades, em Israel. Seu mestre principal foi seu pai, o Rabino Maimon, filho de Iossef Hadaián, discípulo do Rabino Iossef ibn Migash. O RAMBAM é a maior das autoridades haláchicas (poskim) de todas as gerações, um dos mais importantes filósofos da Idade Média, líder das comunidades judaicas do Egito e arredores, cientista e médico, que influenciou todas as gerações desde então.
Após Córdoba ter sido conquistada pelos almóadas, uma seita islâmica fundamentalista que invadiu a Península Ibérica a partir do ano 1148, Maimônides teve de abandonar a cidade com sua família e fugir para o Norte da África. Dezessete anos mais tarde, Maimônides foi morar na Terra de Israel. Naqueles dias, ela era governada pelos cruzados e, aparentemente, por causa do perigo, Maimônides teve de sair de Israel, indo morar em Fostat, a cidade antiga do Cairo, no Egito. Rapidamente Maimônides ocupou uma função central entre os judeus do Egito. Maimônides faleceu em 1204.
Em todos esses lugares - Espanha, Norte da África, Egito, Israel e suas vizinhanças -, o idioma usado pelos judeus era o árabe-judaico (árabe escrito com caracteres hebraicos). Apesar de os judeus falarem em cada um desses países um dialeto específico, eles escreviam na língua árabe judaica literária que era entendida por todos os judeus que viviam nos países nos quais a cultura árabe era preponderante. Nesta língua era feita a correspondência internacional e até mesmo escritos sobre o pensamento (hagut). Maimônides escreveu suas obras neste idioma, com exceção do Mishnê Torá, que foi escrito em hebraico.
Sobre o Guia dos Perplexos
Em sua introdução ao Guia dos Perplexos, o Rabino Kapach - bendita seja a sua memória! - indica que, após Maimônides haver terminado o Mishnê Torá, ele iniciou a redação do Guia, que tem 178 capítulos e se divide em três partes: a primeira contém 76 capítulos; a segunda, 48, e a terceira, 54.
Traduções
Escrito originalmente em árabe-judaico, o Guia dos Perplexos foi traduzido para o hebraico pelo Rabino Shemuel ibn Tivon - bendita seja a sua memória! - ainda durante a vida de Maimônides. Foram feitas outras traduções para o hebraico, e as modernas, de grande importância, são as do Rabino Iossef Kapach (1917-2000) e do Prof. Michael Schwartz (1929-2011) - benditas sejam suas memórias!
Já em tempos antigos esta obra foi traduzida para vários idiomas. A tradução para o francês de Salomon Munk (1803-1867) com seus comentários é datada de 1856 e é de enorme importância até os dias de hoje.
O Guia dos Perplexos foi comentado por vários sábios judeus e sua influência no pensamento judaico é incomensurável.
Sobre esta tradução
Esta é a primeira tradução integral feita para o idioma português. Os livros utilizados nesta tradução são principalmente três: (1) a tradução do Professor Michael Schwartz; (2) a tradução do Rabino Iossef Kapach; e (3) a tradução para o francês de Salomon Munk - benditas sejam suas memórias! Foi consultada também a tradução do Rabino Shemuel ibn Tivon (~1160 ~1230), bem como as traduções ao inglês de Michael Friedlander, ao espanhol de David Gonzalo Maeso e das partes traduzidas ao português por Uri Lam.
A tradução foi feita de modo a facilitar a leitura sem alterar o texto original. Às vezes foi necessário abdicar das regras estritas do português com o intuito de facilitar a fluência da leitura. As notas de rodapé têm como função facilitar ao leitor e não intentam comentar ou interpretar o livro. A maioria das notas, incluindo as referências bibliográficas a outros livros, foram tiradas das notas do Prof. Schwartz e do Rabino Kapach.
Às vezes foi colocada na nota outra possibilidade de traduzir determinada palavra, ou que ela está diferente na tradução de Munk ou em outra tradução.
A transliteração foi feita de modo a facilitar o leitor, sem usar o formato acadêmico que não é conhecido pela maioria das pessoas. A inclusão de termos hebraicos entre parênteses ao longo do texto tem caráter pedagógico e visa permitir ao leitor identificar certos conceitos para maior aprofundamento sobre eles.
Os títulos dos capítulos e seus intertítulos foram acrescentados a esta edição (e não se encontram no texto original) e baseiam-se nos textos do Rabino Kapach, do Prof. Schwartz e de Salomon Munk.
Agradecimentos
Agradeço a Deus.
Agradeço ao meu mestre e rabino, Rabino Dr. Smadja - que tenha longa vida!
Agradeço ao meu mestre e meu rabino, Rabino Dr. Arussi - que tenha longa vida!
Agradeço ao meu amigo Yonatan Smadja.
Agradeço ao amigo prof. Jairo Fridlin todo seu esforço para a publicação deste livro.
Agradeço ao Prof. Dr. Moacir Amâncio.
Agradeço a toda a minha família.
A Maimônides, dedico esta tradução.
Jerusalém, Tamuz de 5777.
Julho de 2017.
Yosef Flavio Horwitz
Yosef Flavio Horwitz nasceu no Rio de Janeiro em 1970. Imigrou para Israel em 1988 e reside desde então em Jerusalém.
Graduou-se em Filosofia Judaica e Filosofia Geral pela Universidade Hebraica de Jerusalém e concluiu seu mestrado e doutorado pela Universidade Bar-Ilan, ambas em Israel.
Seus estudos judaicos - incluindo O Guia dos Perplexos - iniciaram-se desde sua chegada a Israel, tendo se aproximado do caminho ensinado pelo Rambam por meio do Rabino Dr. Smadja, conforme transmitido a ele diretamente pela tradição dos rabinos da Tunísia, tanto em relação à halachá (lei judaica) quanto ao pensamento judaico.