O princípio de dividir o fardo espiritual com um falecido é fundamental no judaísmo e é chamado de "uma bondade verdadeira". Em um de seus discursos, o Rabino Iechezkel Levinshtein - o supervisor espiritual da Ieshivá de Ponovitch - citou as palavras do sábio Rabino Saba miKelm: O princípio por trás do luto é dividir o fardo espiritual do falecido, aliviando o peso que ele carrega. Por esse motivo a Torá é tão rigorosa e exigente no que diz respeito à obrigação do luto na Shivá e no Sheloshim!
O Rabino Levinshtein explicou as palavras do Saba miKelm: Durante o luto deve-se ter em mente os motivos por trás dele - aliviar os sofrimentos e os castigos que o falecido enfrenta. Esse é inclusive o motivo por trás da Mitsót de visitar o enlutado: aliviar o peso sobre o falecido. Conforme uma alma falecida disse a Rav Iehudá (que sentou a Shivá por um morto que não tinha família): "Descanse, pois você me concedeu descanso." Essa Mitsvá é parte integral da Torá, porém infelizmente, muitas vezes nós nos contentamos em cumprir apenas os aspectos "técnicos" do luto e nos esquecemos do principal.
O Rabino Levinshtein inclusive acrescenta um exemplo de como nossos sábios mais antigos lidam com essa Mitsvá. O Midrash nos conta que, certa vez, Rabi Akivá estava no cemitério quando ouviu uma alma que chorava e gemia: "Escutei que se meu filho fpsse Chazan e recitasse "Barechu et HaShem hamevorach" eu seria poupado." Após esse dia, Rabi Akivá não descansou. Ele buscou o filho dessa alma e após encontrá-lo, jejuou por quarenta dias implorando aos Céus para que o menino aprendesse Torá. Uma voz dos Céus inclusive o repreendeu: "Por essa alma (perversa) você jejua?!" Porém Rabi Akivá não se intimidou e respondeu sem hesitar: "Sim." Existe maior testemunho da grandeza dessa Mitsvá, de dividir o fardo espiritual de um falecido? Imaginem Rabi Akivá indo de cidade em cidade; de país em país, procurando pelo filho daquela alma - que ainda por cima era de um perverso -"Por essa alma você jejua?!" Essa Mitsvá é uma das aplicações práticas de uma ainda maior: a Mitsvá de amar ao próximo como a sim mesmo. Este é o fim que espera por todos os homens, e todo aquele que se dedica a ajudar ao próximo será ajudado quando chegar a sua vez. Este livro apresenta uma coletânea de textos e artigos, sobre a importância de dividir o fardo espiritual dos falecidos. A maior parte deste material foi editada e publicada durante como apostilas nos últimos anos. Eu comecei a dedicar-me a estes assuntos imediatamente após o falecimento de minha mãe e mestra, a justa Rabanit, a senhora Chava de abençoada memória - filha do grande sábio e justo, o Rabino Iaacov Marcovitch, presidente do tribunal judaico de Nur, na Polônia - que faleceu no domingo, dia 23 de Shevat de 5749. Eu publiquei esses textos pela elevação de sua alma pura.
Recentemente meus amigos me incentivaram a completar o que meu pai - de abençoada memória - já me havia instruído a fazer: publicar um livro que abrangesse todos esses textos. A principal mensagem deste livro são as palavras do grande Rabino Eliahu Gutmacher em seu livro Sucat Shalom: Há um erro muito difundido que deve ser corrigido. As pessoas acreditam que a única maneira de confortar a alma de seus pais é sendo chazanim ou recitando o Cadish. Elas inclusive provocam grandes discussões na Sinagoga por conta disso. Porém, elas deixam de cumprir as coisas mais importantes - que não requerem nenhuma discussão. Deve-se ensiná-los que o mais importante nos dias de luto e do Iortsait é dedicar-se a reforçar o cumprimento das Mitsvot práticas em todas as circunstâncias. Esse é o principal!
O Rabino Gutmacher acrescenta inclusive que todo aquele que difundir essas palavras concederá méritos a todos. Eu quero agradecer e reconhecer os méritos de meu senhor, mestre, pai e rabino, um justo de abençoada memória, e de minha mãe e mestra, de abençoada memória. Juntos, eles se dedicaram de corpo e alma para nos criar e educar através dos caminhos da Torá e do temor a Hashem. Nesta mesma oportunidade ressalto os méritos de meu sogro, um homem de muitas obras dedicadas à Torá, o Rabino Moshê Tsvi, filho do Rabino Shemuel Fridman, de abençoada memória, que faleceu no dia 2 do mês de Shevat de 5743. Também ressalto os méritos de minha sogra, a senhora Chaia Doba, filha do Rabino Chaim Eliahu Zalman, de abençoada memória, que faleceu no dia 5 do mês de Tevet de 5758. Acima de tudo eu quero agradecer à beleza de minha casa, a abençoada das mulheres, a senhora Miriam, que Deus lhe conceda uma longa vida. Pois ela se dedica de corpo e alma, movida por um grande amor a Torá, para permitir que eu possa viver dentro da tenda da Torá. Queira Deus que possamos criar juntos nossos filhos com muita saúde, iluminados pela luz divina, dedicados a Torá, às Mitsvot, ao temor a Hashem e com um bom caráter. Queira Hashem que se aproximem os dias da ressurreição dos mortos, e que Ele nos traga o Mashiach para que "a terra se inunde com o conhecimento de Deus, da mesma forma que as águas inundam o oceano", brevemente em nossos dias, Amén.
Rabino Tsvi Yavrov