"Vocês devem guardar meus Shabatot, pois ele é um sinal entre eu e vocês por todas as gerações" (Êxodo 31:13)
O Shabat é um sinal eterno do profundo vínculo pessoal do povo judeu com o Todo-Poderoso, que remonta à Criação. Ao longo de nossa história, outras nações tentaram ridicularizar, negar ou extinguir o Shabat. Conhecemos a história de Chanucá e a tentativa dos gregos de eliminar a Torá e impor sua filosofia herética ao nosso povo, Deus nos livre. Eles declararam guerra à pedra angular de nossa fé: o conceito de nossa conexão pessoal com Hashem e a santidade que dela decorre. A ideia era um anátema para os gregos, que defendiam as ciências exatas e procuravam definir a existência do mundo e da humanidade no contexto de princípios científicos que limitam o homem aos limites do mundo físico. O povo judeu, por outro lado, era fiel à Torá, um sistema espiritual divino de pensamento e crença que transcende a lógica e o intelecto humanos. Essa era a lógica por trás dos decretos gregos contra as mitsvót; eles tinham por objetivo eliminar a crença em uma conexão com Deus que supera a razão do homem. Os gregos não podiam aceitar o conceito de Shabat. Como um dia poderia ser mais santificado que outro? Em um nível material e mensurável, não há diferença entre um dia e outro. Cientificamente, não há nada que torne determinado dia "santo", como a Torá ensina e os judeus acreditam. Um dia é apenas um dia, um período de vinte e quatro horas, nada mais. Consequentemente, eles proibiram a observância do sábado - e nosso povo se apegou a ela.
Os romanos, a potência mundial que sucedeu aos gregos, eram igualmente incapazes de apreciar a santidade das mitsvót, incluindo o Shabat, porque a espiritualidade não é mensurável por um barômetro ou termômetro. A simples ideia era antitética às crenças romanas, como aprendemos de uma conversa entre o Rabi Akiva e o governador romano Tinneius Rufus (Ialcut Shimoni, Kedoshim 617, Shoftim 918).
Tinneius Rufus perguntou zombeteiramente: "O que torna um dia diferente do outro?" Em outras palavras, por que os judeus atribuem uma "santidade" intangível ao sétimo dia da semana? Fisicamente, o sétimo dia não é diferente de nenhum dos outros seis dias. O sol nasce e se põe como de costume, e a lua e as estrelas à noite permanecem inalteradas.
O Rabi Akiva respondeu: "E o que torna um homem diferente de outros homens?" Por que você, Tinneius Rufus, é um grande enquanto outros homens são meros plebeus?
Disse: "Porque o rei quis me honrar."
O Rabi Akiva disse: "Do mesmo modo, o Santíssimo, bendito seja, desejou honrar esse [dia]".
Tanto os gregos como os romanos já se foram há muito tempo, e o Shabat ainda é estimado, observado e guardado pelos judeus em todo o mundo.
Os Sábios relatam que o vice-rei romano perguntou ao torna Rabi Iehoshua ben Chanania sobre o delicioso aroma da comida servida em sua casa no Shabat - o que dava à comida sua fragrância especial? O Rabi Iehoshua ben Chanania respondeu: "Temos um tempero chamado Shabat. Nós o colocamos na comida e ele dá esse aroma". O romano pediu um pouco do tempero para usar em casa. O Sábio disse que só funcionava para aqueles que guardam o Shabat. Para quem não observa o dia sagrado, o "tempero" não tem efeito (Shabat 119a).
O vice-rei, certamente nenhum estranho à boa culinária não conseguiu identificar o aroma extraordinário que exalava sua fragrância na casa do Rabi Iehoshua ben Chanania. Não era nenhum condimento ou tempero que ele já havia encontrado. Ele percebeu que tinha que haver algo mais, e estava certo. O Sábio explicou-lhe que ele estava sentindo o cheiro de uma entidade espiritual, que não podia ser comprada ou dada como presente (ver Ramatáim Tsofim, Tana Deve Eliáhu Zuta 16:12). A santidade do Shabat é tão poderosa que até um visitante não-judeu foi capaz de sentir o cheiro no nível físico. No entanto, apenas a alma judia é capaz de discernir que o prazer físico especial experimentado no Shabat é realmente de natureza totalmente espiritual. Não é mera indulgência material; é santidade celestial.
Antigamente, nossos ancestrais tinham uma apreciação poderosa da santidade do Shabat. O rabino Shimshon Pincus relatou que as mãos de seu avô tremiam visivelmente não apenas no próprio Shabat, mas até mesmo quando o horário do Shabat se aproximava toda semana, tão grande era o medo dele de tocar inadvertidamente em múctse (objetos que não podemos manusear no Shabat porque são usados para ações proibidas no Shabat).
O rabino Chaim Palagi escreveu que durante sua vida, no final dos anos 1800, não havia um único judeu em toda Izmir que profanasse o Shabat. Talvez uma vez em muitos anos alguém transgredisse as leis do Shabat por engano. Se um fumante inveterado acendesse um cigarro sem pensar em estado semiadormecido na sexta-feira à noite, toda a cidade ficava em alvoroço. O infrator era transportado ao bet din local, onde era humilhado e multado (Tsavaá Michaim, parágrafo 15). Em Bagdá e em muitas outras comunidades do Oriente Médio, os negócios paravam no sábado porque estavam em grande parte nas mãos dos judeus, e os judeus não trabalhavam no Shabat.
O Shabat é um mandamento, mas é acima de tudo uma dádiva divina concedida ao nosso povo. Se honrarmos e observarmos o Shabat, temos uma fonte de grande felicidade e deleite, além de bênçãos espirituais e materiais. Vamos entender como e por que o Shabat eleva o mundo e é a alma da nossa semana.