INTRODUÇÃO
"Amado é Israel, a quem foi dado um tesouro precioso" (Avot 3:14)
Há mais de três mil e trezentos anos, o povo judeu recebeu um presente no Har Sinai que estaria com eles para sempre: a Torá. Os primeiros anos após o Sinai foram de uma excelsa era de profecia e de reis na Terra Santa, e do Mishcan e de dois templos. Mas também houve muitos séculos de exílio e agonizante perseguição. Ao longo de tudo isso, tanto nos momentos bons quanto nos dolorosamente ruins, a Torá nunca nos deixou. Tragicamente, nos últimos dois séculos, muitos de nosso povo caíram, puxados por influências externas e lutas internas. No entanto, mesmo com a devastação da Reforma e outras forças ideológicas, quando o futuro parecia sombrio para a continuidade do judaísmo da Torá, sempre houve um núcleo de judeus leais que permaneceram fiéis à Torá.
Nós mesmos, em nossos dias, testemunhamos um fenômeno milagroso: o incrível renascimento e incrível crescimento da comunidade da Torá após a destruição dos judeus europeus e o desarraigamento dos judeus sefaradim. Contrariando todas as predições, o estudo de Torá nas ieshivot e colelim está florescendo, com um número sem precedentes de pessoas estudando Torá em tempo integral. Trabalhadores também estão reservando tempo para o estudo diário da Torá, como fica evidente no número cada vez maior de participantes do Daf Haiomi Sium Hashas que ocorre a cada sete anos e meio. O que vale para a quantidade também vale para a qualidade. A geração do pós-guerra abraçou o estudo da Torá com amor e devoção, merecendo receber como um presente do Céu um sucesso excepcional em seu aprendizado (cf. Ruach Chaim, Avot 4: 1, citando Meguilá 6b). O que é a nossa Torá e por que nos agarramos a ela durante as perseguições dos tempos ruins e as tentações dos tempos bons?
Nós conhecemos a Torá como a sabedoria Divina dada ao nosso povo no Har Sinai. Cada versículo e cada palavra dela são eternos, verdadeiros e inestimáveis. Suas leis guiam nossa vida e seu estudo é nossa maior alegria e privilégio. Para nós, a Torá é um presente, um "tesouro precioso" concedido ao nosso povo como indicação do amor excepcional de Deus (cf. Avot 3:14). A vida de um estudioso da Torá pode não ser luxuosa no sentido material, mas será feliz e boa mesmo assim: "Este é o caminho da Torá. Comer pão com sal, beber um pouco de água, dormir no chão e viver uma vida de privação e labuta na Torá. Se fizer isso, você será feliz e isso te será bom. Será feliz neste mundo e te será bom no Olam Habá" (Avot 6:4). A Torá nos dá felicidade, sentimento de realização e vários e bons anos neste mundo, e é a nossa chave para a vida eterna no Olam Habá.
A Torá é sabedoria, um modo de vida e muito mais.
O estudo da Torá ajuda a restaurar pelo menos parte do que perdemos com a destruição do Templo. Quando o Templo existia, éramos protegidos pela presença da Shechiná. Pelo mérito do estudo da Torá, a Shechiná está com nosso povo mesmo hoje em dia: "Desde o dia em que o Templo foi destruído, o Santíssimo, bendito seja, não tem nada em Seu mundo além dos quatro cúbitos da halachá (Berachot 8a). A Shechiná está presente não apenas entre um grande número de pessoas reunidas para estudar a Torá; mas também com o judeu solitário que estuda a Torá (Avot 3:6; Berachot 6a). No Templo, os sacrifícios expiavam o pecado. Em nossos tempos, "Aquele que se dedica ao estudo da Torá é considerado como se oferecesse todos os sacrifícios do mundo diante do Santíssimo, bendito seja. E não apenas isso, mas o Santíssimo; bendito seja, expia todos os seus pecados para a pessoa, e vários tronos são preparados para ela no Olam Habá" (Nefesh Hachaim, Tomo Quatro, capítulo 31, citando o Zôhar, vol. III, p. 159a, cf. também Menachót 110a). A labuta da Torá pode substituir outras formas mais difíceis de sofrimento.
A Torá protege nosso povo em muitos níveis. "[Ela) salva e protege... Assim como a luz oferece proteção para sempre, a Torá também oferece proteção para sempre" (Sotá 21a). Ela nos salva do sofrimento e nos protege de nosso próprio iétser hard (Rashi). A proteção conferida pela Torá se estende aos campos de batalha; são os esforços espirituais de nossos estudiosos da Torá que ganharam nossas guerras (cf. San'hedrin 49a; Macót 10a). Cada nação tem seu próprio anjo da guarda (sar) no Céu. As batalhas entre as nações são travadas primeiro no Céu por esses anjos da guarda e depois repetidas na terra pelas nações correspondentes. Mesmo quando exércitos adversários estão se confrontando, o resultado já foi determinado no Céu. Quando o anjo de uma nação é vitorioso no Céu, a nação será vitoriosa no campo de batalha terrestre. O derrotado no Céu perde na terra. O mérito da Torá que estudamos dá aos nossos próprios anjos da guarda o poder de prevalecer no Céu, para que possamos prevalecer na terra.' O estudo da Torá tem o poder de afastar o Anjo da Morte. Quando o Rei David soube por profecia que morreria no Shabat, ele começou a dedicar todos Shabat ao estudo ininterrupto da Torá. Sua Torá o protegeu, e o Anjo da Morte foi incapaz de se aproximar dele. Foi só quando o Anjo da Morte recorreu a um truque que distraiu o Rei David de seus estudos que ele foi capaz de tirar sua alma (Shabat 30a-b).
O poder protetor da Torá está conosco mesmo após a morte. Ele protege o corpo do sofrimento vivenciado na sepultura e acompanha a alma quando ela busca a admissão no Olam Habá. Os anjos que guardam os portões do Olam Habá podem negar totalmente a entrada de uma alma ou impedi-la de passar por portões adicionais nos níveis superiores. A Torá protege a alma diante dos Portões do Céu e a acompanha de nível a nível no Olam Habá (cf. Avot 6:9). Não há limites para o que o estudo da Torá faz por nós, assim como não há limites para sua beleza e profundidade. Ela abrange toda a sabedoria do mundo e aperfeiçoa e retifica tanto o nosso mundo material como os mundos espirituais superiores. Ela foi destinada ao nosso povo ainda antes do início dos tempos e nos acompanhará até o fim dos tempos. Vejamos como a Torá é o pilar da Criação.