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  • Reflexões sobre a Torá

Reflexões sobre a Torá

Nova edição! Nova Capa! Novo formato!
Autor: Moshe Grylak
Editora: Sêfer
SKU: 1007
Páginas: 304
Avaliação geral:

Esta obra reúne uma seleção de comentários sobre as porções semanais da Torá lidas a cada manhã de sábado em todas as sinagogas do mundo. Originalmente publicadas na coluna Parasha Ufishra, presente nas edições das sextas-feiras do diário israelense Maariv durante 16 anos, os textos tornaram-se um grande sucesso junto ao público leitor graças à linguagem simples e direta de Moshe Grylak, consagrado educador e estudioso de fama mundial.

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Descrição

A cada manhã de sábado, judeus observantes do mundo inteiro caminham até suas sinagogas e leem exatamente a mesma Parashá, a porção da Torá referente àquela semana. Sem jamais abrir mão da profundidade de conteúdo, Reflexões sobre a Torá traz diversas destas passagens explicadas e comentadas em linguagem jornalística, simples e direta. Graças ao dom único de Moshe Grylak, o prazer e o enriquecimento espiritual que derivam desta leitura, normalmente restritos ao universo religioso judaico, tornam-se acessíveis a milhares de pessoas.

Grande parte dos textos que compõem este livro foi originalmente publicada nas edições de final de semana do diário israelense Maariv. Ao longo de 16 anos consecutivos, Parashá Ufishrá, a coluna escrita por Grylak, conquistou e tornou cativos leitores de todas as vertentes. Uma das explicações para o sucesso que obteve junto ao grande público diz respeito à sua habilidade inata em trazer para o presente, de forma acessível e coloquial, as lições mais profundas dos textos sagrados, levando o leitor a conhecer de perto a única luz capaz de elevar o espírito humano - a luz da Torá.

É com imenso orgulho que a Editora Sêfer lança no Brasil uma obra como esta, capaz de iluminar e alimentar o espírito com os ensinamentos mais caros do judaísmo, expostos de maneira especialmente atraente ao público religioso e laico, a judeus e não judeus. Boa leitura! 

Jairo Fridlin


 

Esta obra reúne uma seleção de comentários sobre as porções semanais da Torá lidas a cada manhã de sábado em todas as sinagogas do mundo.

Originalmente publicadas na coluna Parasha Ufishra, presente nas edições das sextas-feiras do diário israelense Maariv durante 16 anos, os textos tornaram-se um grande sucesso junto ao público leitor graças à linguagem simples e direta de Moshe Grylak, consagrado educador e estudioso de fama mundial.

Ao trazer para o presente as passagens da Torá, tornando sua temática acessível àqueles não familiarizados com os textos sagrados, ele ampliou horizontes e enriqueceu a vida de milhares de pessoas. Alguma vez você certamente se perguntou: o que a Torá (o Pentateuco), escrita há tantos milênios, tem a me ensinar? Como podem afirmar que há tanta sabedoria nela, quando só vejo um texto que não me diz nada? Para mudar sua forma de pensar, sugerimos a leitura de uma obra sobre a Torá: Reflexões sobre a Torá .

É uma coletânea de prédicas - digamos assim - que analisa e contemporaliza passagens da Torá, apresentadas de acordo com a tradicional divisão semanal judaica da Torá.

Nele, algumas passagens da Tora são analisadas, extraindo-se delas insights desconcertantes e reveladores, que descortinam ao leitor uma nova dimensão da Bíblia, muito rica e introspectiva. Tanto judeus como cristãos irão se espantar com a facilidade com que o autor transita pelos textos bíblicos, talmúdicos e laicos, relacionando-os e revelando a pura seiva da milenar sabedoria judaica que emana da Torá. Uma dica: ler um destes comentários, ou fragmentos deles na mesa do Shabat, vai enriquecer o seu jantar e dar um gostinho de quero mais todo especial à ocasião.

 

Veja também:
Par Parashá da Semana (Torá Hoje e Reflexões sobre a Torá)


Índice e trechos

Índice

BERESHIT / GÊNESIS 

Bereshit                  No Solo da Gênese

                                 Caim Mata Abel

Nôach                   Testando Um Sobrevivente

Lech Lechá         Na Terra da Fome e das Guerras

Vaierá                   Imagens em Branco e Preto

Chaiê Sará           Ao lado do Túmulo de Sara

Toledot                Virtude em Contrapartida à Virtude

Vaietsê                  O Exílio de Jacob

                                Calada na Dor e na Tristeza

Vayishlach           Sozinho na Noite Decisiva

Vaieshev                Um reino à Sombra da Fogueira

Mikêts                   Enxergando Corretamente

                                Um Servo na Casa do Rei

Vayigásh              Jacob não Morreu

Vaichi                    À Beira do Leito de Morte do Pai

 

SHEMOT / ÊXODO

 

Shemot                    A Sarça, o Fogo e os Espinhos

Vaerá                    Diante da Pouca Fé do Povo

                             O Relógio da Renovação

Beshalách                O Truque das Águas Amargas

Yitró                          Um Mundo Partido Ao Meio

                            Fragmentos dos Mandamentos Eternos

Mishpatim          Favor Se Afastar

Terumá                    Segredos de uma Economia Correta

Tetsavê                     A Segunda Pele do Homem

Ki Tissá                     Um Presente Guardado no Cofre

Vaiac'hel                  Entusiasmo em Dose Dupla

Pecudê                     Um Ignorante na Farmácia

 

VAYICRÁ / LEVÍTICO

Vayicrá                  Jornada ao Interior do Ser Humano

Tsav                        Como o Primeiro Homem

Shemini                  Uma Ideia Puramente"Corporal" 

Tazría                    A Morte que Contamina

Metsorá                O Isolamento da Língua Desencaminhada

Acharê-Mot         Uma Corrida de Obstáculos no Deserto

Kedoshím              A Cegueira do Comércio de Armas

Emór                      O Homem e o Animal

                                Retrato do Ciclo e Contagem dos Dias

Behar                     Greve!

Bechucotai          Moral Histórica

 

BAMIDBAR / NÚMEROS

 

Bamidbar               Levantando a Moral dos Escravos

Nassó                     A Coroa do Nazireu

Behaalotechá          O Bom e Velho Egito

Shelách                 O Pranto dos que Desprezaram a Terra

Côrach                  No Meio da Discórdia

Chucat                  Combater e Recuar

Balac                     A Moção de Condenação a Israel

Pinchás                 O Assassinato de um Príncipe de Israel

Matót                  Amar o Dinheiro No Exterior

Massê                   A Lei do Ar Puro

 

DEVARIM / DEUTERONÔMIO

 

Devarim              Ouvir, Simplesmente Ouvir

Vaetchanán         A Lei que está Além da Lei

Ékev                                O Elogio da Boa Terra

Reê                                  Educação por Dez Porcento

Shofetim                         Somos Todos Assassinos

Ki Tetsê                            Três  "Pequenas" Histórias

Ki Tavô                             Absurdos na Relva da História

Nitsavim                          Como é Possível Obrigar?!

                                          Mark Twain no Rastro de Moisés

Vaiêlech                           O Momento da Separação

Haazínu                            Daqui Não Podem ser Expulsos

                                          "E Eu, Certamente Esconderei Meu Rosto..." 

Vezot Haberacha            As Bênçãos do Último Dia

 

*   *   *

O que aconteceu depois da abertura do Mar Vermelho?

Não foi fácil para Moisés conseguir afastar o povo da praia do milagre. Moisés tinha que tirar o povo de perto do Mar Vermelho, onde o milagre da travessia havia sido vivenciado. A conjugação de uma palavra específica no texto bíblico indica-nos a relutância do povo em se afastar do local do grande milagre:

"E fez partir Moisés a Israel do Mar Vermelho, e saíram ao deserto de Sur." (Êxodo 15:22)

A expressão "fez partir" demonstra com clareza que Moisés teve que levá-los contra sua vontade.

O povo de Israel estava assombrado e impressionado com a força do evento que acabara de viver: o mar sendo partido ao meio para que seus integrantes pudessem atravessá-lo, fechando-se em seguida para impedir a passagem dos egípcios que os perseguiam. E na beira da praia, diante do mar que o havia salvo e da armada egípcia que se afogava, o povo estava assombrado, e seu assombro se transformou em um canto: o Cântico do Mar (Êxodo 15:1-21). E mesmo assim surgiram problemas e reclamações, incompreensíveis no contexto das maravilhas que haviam ocorrido.

A leitura do ocorrido apenas aumentará nosso espanto:

"E andaram três dias pelo deserto e não acharam água. E vieram a Mará e não puderam beber as águas de Mará porque eram amargas ... e queixou-se o povo a Moisés dizendo: Que beberemos?" (Êxodo 15:22-24)

A questão que surge da leitura do episódio das águas amargas (e do episódio da falta de comida logo a seguir) possui dois aspectos: um referente a Deus e outro ao povo de Israel.

O primeiro aspecto é saber porque Deus dificultou a vida do povo. Por que Ele, o Todo-poderoso, que mostrou ao povo Seu completo domínio sobre a natureza através das dez pragas do Egito e da abertura do Mar Vermelho, não forneceu água sem criar empecilhos? Por que esperou que fossem assolados pela sede e pelas reclamações naturalmente decorrentes? Este povo não havia sofrido o suficiente? Para que criar uma nova situação de tensão se havia chegado a hora da redenção?

Por outro lado, o comportamento pessimista e precipitado do povo também nos causa espanto. Ele tinha acabado de presenciar a derrota total de seus inimigos egípcios e a destruição da terra de seu cativeiro, e ainda tinha vivenciado o milagre da travessia do Mar Vermelho, o qual deu à sua fé um brilho comparável ao do cristal puro, tanto que a própria escritura testemunha que "viu Israel o grande poder que exerceu o Eterno sobre os egípcios e temeu o povo ao Eterno e creram no Eterno e em Moisés, seu servo" (Êxodo 14:31). Portanto, é surpreendente que tal fé tenha-se volatilizado com o primeiro contratempo que atingiu o povo. Mais grave ainda é a forma como o povo expressou sua nostalgia pelos prazeres do Egito durante o episódio do maná:

"Quando estávamos sentados junto às panelas de carne, quando comíamos pão a fartar; e foste nos trazer a este deserto para matar toda esta congregação com a fome." (Êxodo 16:3)

Por que motivo o povo encarava o futuro de modo pessimista? Por que ele não se lembrou, baseado no que acabara de ocorrer, que Deus, ao menos nesta fase, encontrava-se ao seu lado e lhe estenderia a salvação no devido momento? Qual seria a razão das reclamações e lamentos?

Estamos nos estendendo propositadamente nas questões acima, pois na história destas reclamações e nos episódios da água amarga e do maná, oculta-se toda a verdade bíblica e a visão desta sobre o papel do homem no mundo. A chave para a compreensão encontra-se no seguinte versículo:

"E clamou ao Eterno e mostrou-lhe o Eterno uma árvore, e jogou-a nas águas e adoçaram-se as águas. Ali deu-lhe (Deus ao povo) estatutos e leis, e ali o provou." (Êxodo 15:25)

Um versículo construído de forma estranha, pois trata de três assuntos aparentemente sem relação entre si. O primeiro é a transformação da água salgada em água doce por meio de um tronco de árvore, o segundo é o anúncio da aplicação de alguma lei sobre o povo, e o terceiro é introduzido por uma única palavra que fala sobre algum tipo de prova à qual o povo foi submetido.

Apesar de aparentemente estranha, a união destes três assuntos em um único versículo é um indício de que estão interligados. Entendemos assim que a dessalinização das águas depende de algum modo de estatutos e leis que, por sua vez, dependem de algum tipo de prova cuja natureza devemos decodificar.

Qual o significado bíblico do verbo "provar" e qual seu sentido neste contexto? A resposta nos é fornecida pelo Rabino Hirsch:

"Provar, experimentar, testar e também exercitar: todo exercício é uma tentativa de solucionar algum problema que ainda não tenha sido total ou satisfatoriamente resolvido. Como, por exemplo, na luta entre David e Golias descrita em I Samuel 17:39, quando David retira de seu uniforme a espada, pois não exercitou-se em seu uso: 'Não posso andar com isto pois nunca a usei (experimentei)'. Neste versículo e ao longo de toda a caminhada no deserto, podemos interpretar a palavra 'provou' com o seguinte sentido: 'Deus quis exercitar seu povo na observância de seus mandamentos, através das experiências a que o submeteu'."

As águas amargas com as quais o povo se deparou no deserto não foram nada mais do que um teste pelo qual este deveria passar. Tal teste destinava-se a avaliar a consistência de seus valores e a força de sua fé em Deus e em Suas palavras, estas últimas conhecidas à beira do Mar Vermelho. Percebemos, assim, que esta experimentação contínua é lei e estatuto para o povo judeu.

Entendido o sentido literal do texto, resta-nos explicar seu significado interior e espiritual. Por que motivo a relação entre Deus e os homens deve ser baseada na experimentação contínua do homem? Qual o benefício de Deus decorrente deste tipo de relação?

A necessidade do homem ser examinado constantemente não traz qualquer tipo de benefício a Deus, mas sim ao homem. Aquele que conhece o espírito da Torá sabe que as provas e necessidades passadas no deserto, assim como em toda a Bíblia e na vida de modo geral, têm o único objetivo de libertar o homem e capacitá-lo a agir com total liberdade espiritual em seu mundo. Uma liberdade que deriva da liberdade do próprio Eterno, o qual imprimiu no homem um lampejo de sua essência misteriosa: a alma.

Esta situação foi bem descrita pelo filósofo judeu alemão Franz Rosenzweig:

"Deus deseja homens livres. Seu Reino é oculto aos olhos. Mas isto não basta para diferenciar o homem livre do escravo... Deus, em sua vontade de distinguir entre as almas, não só evita causar prazer como provoca dor. Aparentemente Ele não tem alternativas: precisa provar o homem. Não apenas tem de ocultar o Seu Reino, como deve criar locais que possam confundir o homem em sua busca pelo Reino Divino, até que se suponha invisível. Isto para que possa ter fé verdadeira em Deus, ou seja, crer e confiar Nele por livre iniciativa." (A Estrela da Redenção)

Quando é posto à prova, o homem descobre haver discrepância entre sua fé e seu comportamento. Pode, por exemplo, acreditar piamente na necessidade de "amar ao próximo como a si mesmo" e não estar disposto, de forma alguma, a auxiliar ao próximo nos conflitos que lhe são impostos cotidianamente. O instinto de sobrevivência o escraviza, impedindo-o de agir de acordo com sua consciência. Após a travessia do Mar Vermelho, o povo de Israel também estava convencido que sua fé era vigorosa e eterna, assim como todas as implicações decorrentes dela. E eis que na prova da água descobriram não ser este o caso, pois eram escravos das dificuldades impostas pelas condições ambientais adversas. A própria descoberta desta situação é um ato de libertação, que desperta a esperança de que possam suportar a prova de forma mais digna na próxima oportunidade e de que seus espíritos desatem, ao menos parcialmente, os laços que os mantém atados aos instintos. Assim, cada prova consiste em um exercício adicional, um tipo especial de ginástica espiritual que fortifica os músculos da alma e modela o espírito do homem, como este é entendido na Bíblia, sendo esta liberdade a razão da existência do homem no mundo.

Trechos

OS DEZ MANDAMENTOS
Primeiro as mulheres - depois os homens


Deus não se revelou no deserto de forma repentina. A entrega da Torá foi antecedida de muitos preparativos, que estão detalhados nos versículos que antecedem a Revelação (Êxodo, capítulo 19). Foram tentativas de aproximar os corações e de estabelecer uma fraternidade verdadeira entre as diversas facções do povo, pois a união de todas elas - sem exceção - era condição sine qua non para o surgimento de uma interligação entre o Divino e o humano.

 

Entre os preparativos encontramos conversas e explicações que formam a base conceitual do acontecimento que se aproxima, como por exemplo neste versículo: 

"Tendes visto o que fiz no Egito, e vos levei sobre asas de águias... e vós sereis para mim um reino de sacerdotes e um povo santo." (Êxodo 19:4-6)

Nossa atenção é atraída particularmente pelo começo desta fala:

"Assim dirás à casa de Jacob, e anunciará aos filhos de Israel." (Êxodo 19:3)

"À casa de Jacob - estas são as mulheres. A elas falará com linguagem suave. Aos filhos de Israel - estes são os homens. A eles falarás de castigos e de forma meticulosa, palavras duras como os tendões." (Midrash)

Neste comentário, nossos sábios são fiéis à distinção clara feita no texto bíblico entre os verbos "dizer", que tem uma conotação mais suave, e "falar", que tem uma conotação mais decisiva. 

Vemos, assim, uma atenção especial às mulheres. Deus pede a Moisés que explique antes a elas o que está por ocorrer, utilizando uma linguagem adequada a suas características, já que elas se distinguem dos homens por sua sensibilidade e delicadeza.

Aprendemos então que a entrega da Torá no monte Sinai, assim como a experiência de caráter profético na qual esta foi centrada, foi partilhada também pelas mulheres. Fica demonstrada assim a igualdade entre homens e mulheres outorgada pelo judaísmo - através do direito de aproximação de Deus - apesar de haver funções e deveres distintos.

Esta atenção dedicada às mulheres de forma geral se opõe claramente à usual posição da mulher nas sociedades de então, e até mesmo nas gerações posteriores. Este é outro fato que nos mostra a revolução de conceitos que se iniciou naquele dia.

Os dez mandamentos

Os dez mandamentos foram ouvidos pelo povo quando este se encontrava aos pés da montanha fumegante "como fumo de fornalha" (Êxodo 19:18). Estes dez mandamentos, juntamente com as 620 letras necessárias para escrevê-los, contêm todos os 613 mandamentos da Torá, assim como outros sete mandamentos acrescentados ao longo dos tempos por sábios inspirados na própria Torá.

O primeiro e o último dos mandamentos assemelham-se em sua essência. Tanto o primeiro "Eu sou o Eterno, teu Deus", como o décimo "não cobiçarás" não têm implicações práticas, nem exigem que algo seja feito. São apenas mandamentos conceituais, direcionados ao coração das pessoas. O primeiro enfoca um relacionamento correto com o mundo, enquanto o último é uma orientação no labirinto das relações humanas. Os outros oito mandamentos que se encontram entre eles, são mandamentos práticos, que exigem que a pessoa faça ou deixe de fazer algum ato concreto.

Os dez mandamentos estavam gravados em dois blocos de pedra. O primeiro bloco incluía os mandamentos que regem as relações entre o homem e Deus, enquanto o segundo continha aqueles que regem as relações entre o homem e seu semelhante. Usando uma terminologia moderna, podemos dizer que foram colocados lado a lado mandamentos "religiosos" e "civis". 

O primeiro bloco começa, conforme já foi dito, com um mandamento conceitual: a fé em Deus. No entanto, o último mandamento deste primeiro bloco é bastante prático e palpável, retirado diretamente da problemática cotidiana: "Honrarás a teu pai e a tua mãe".

Por outro lado, o bloco dos mandamentos "civis" começa com um mandamento de ordem extremamente prática, "não matarás", e termina com um apelo aos sentimentos humanos, "não cobiçaras".

O Midrash aborda estes dois mandamentos no comentário ao texto introdutório aos dez mandamentos:

"A frase 'E falou Deus todas estas palavras' vem nos ensinar que elas foram ditas todas ao mesmo tempo, de um modo que a boca não pode dizer e o ouvido não pode escutar." 

Por quê? Para nos indicar e ensinar desde o princípio que todos os mandamentos foram ditos juntos e, consequentemente, que não devemos separar a vida prática e secular do nosso mundo espiritual interior. Não há como ser "religioso de coração", nem o judaísmo é algo a ser praticado apenas em sinagogas. Nossa vida deve estar pronta, em todos os aspectos, para ser examinada de acordo com as leis gravadas em ambos os blocos de pedra.


ANALISANDO OS DEZ MANDAMENTOS

"Não terás outros deuses diante de mim"

Não há lugar para dois deuses no universo. É inadmissível a existência de uma força Divina adicional. Todas as forças existentes no mundo provêm do mesmo Ser Supremo e Único. Também não há espaço para a pergunta provocativa "quem criou Deus?", pois "'exigir uma  causa à primeira causa', escreveu Frank Ballard, "é o mesmo que pedir que o primeiro seja, ao mesmo tempo, também o segundo". Isto significa exigir que a grande causa de tudo não seja, ao mesmo tempo, a causa de tudo, pois seria ao mesmo tempo uma consequência. Esta suposição contém um ridículo suficiente para justificar por si só sua negação total e imediata? (Herbert S. Box em God and the Modern World).

De fato, todo aquele que aceita o jugo do Reino Divino, e para quem as palavras "Eu sou" preenchem todo o seu ser, está livre de qualquer forma de obediência ou servidão a outras forças existentes no Universo.

Na antiguidade, os objetos eram cultuados como divindades. Hoje, na formulação de Franz Rosenzweig, "apenas os nomes mudaram. A multiplicidade do culto continua existindo. Cultura e civilização, povo e país, nação e raça, arte e ciência, economia e posição social, eis uma resenha curta, e certamente incompleta, do Panteão de divindades modernas. E quem poderá negar a existência destas divindades? Jamais um idólatra adorou com tanto sacrifício e fé como nossos contemporâneos fazem aos deuses acima... e assim continua viva, até os nossos dias, a guerra entre a dedicação ao único e a dedicação aos muitos no coração do homem, e o desfecho desta batalha continua sendo incerto" (Franz Rosenzweig em seu livro sobre Iehuda Halevi, citado por Nechama Leibowitz em uma de suas obras).

A proibição de fazermos figuras ou esculturas inclui a proibição de adorarmos qualquer "fruto de nossas mãos" e de atribuirmos valor absoluto a qualquer obra ou pensamento humano, de toda e qualquer área, de modo a nos tornarmos servos destes.

Leia com atenção as palavras do comentarista Rabi Yits'chac Arama que, apesar de ter vivido séculos atrás, escreve como se fosse nosso contemporâneo:

"E de modo geral, a grande idolatria de nosso mundo é uma realidade vigorosa. Esta idolatria são os esforços e os pensamentos investidos nos negócios e no acúmulo de bens.  Tais esforços e pensamentos brandem contra Deus; apoiam-se e sustentam-se nos bens e nos negócios, e por eles negam a existência do Divino, caracterizando a essência da idolatria." (Rabi Yits'chac Arama)

Vemos assim que as coisas não mudaram com o passar do tempo, pois não evoluímos moral ou espiritualmente. Apesar de nosso "progresso", abandonamos os deuses de ouro e de prata para transformar o próprio ouro e a própria prata em divindades próprias.

"Estejas lembrado do dia do Shabat para santificá-lo"

O Shabat é o testemunho do homem aos seis dias da Criação do Mundo. O Shabat é dia de descanso para todos, em igualdade absoluta. O Shabat cria o equilíbrio entre a vida material e a vida espiritual do homem. O sacrifício concreto que o homem judeu faz neste dia, ao não realizar qualquer obra, cria-lhe uma ilha de liberdade na rotina do tempo, no passar das semanas e dos anos. 

O Shabat sempre despertou a inveja dos gentios. Ele faz palpitar, com sua força vital, aqueles que atualmente redescobrem o Shabat e que veem nele "um castelo que construímos no tempo. Suas paredes são feitas de  alma, alegria e da virtude do autocontrole, e assim ficamos próximos à eternidade" (Prof. Avraham Iehoshua Heschel em O Shabat e seu Sentido Atual ).  

É um "dia durante o qual experimentamos o gosto da vida e da existência, ao invés do gosto da ação e realização".  Há ainda outras expressões que descrevem o Shabat, mas não são mais do que um reflexo do que foi dito no Talmud:

"Um belo presente guardo em meu cofre, ele se chama Shabat." (Tratado Shabat)

Acrescentaremos apenas mais algumas palavras expressas por Harvey Kooks, um americano não judeu, que publicou um artigo in­titulado A meditação e o Shabat. Após analisar todas as religiões orientais, especialmente aquelas como Meditação Transcendental, Hare Krishna, Maharaji e Zen-Budismo, as quais têm varrido o ocidente nos últimos anos, ele as comparou à experiência do conhecimento do Shabat! Justo esta experiência "primitiva", que nos priva de prazeres modernos como eletricidade e automóveis, e que Kooks vivenciou quando estava hospedado na casa de um rabino ortodoxo. E ele concluiu assim: 

"O redescobrimento, em nossos dias, do sentido maravilhoso do Shabat pode levar muitos jovens judeus a repensarem se devem continuar no caminho de seus cultos e eruditos pais, os quais abandonaram o Shabat como se fosse um objeto embaraçoso e deprimente." (Harvey Kooks)

"Honrarás a teu pai e a tua mãe"

Este é um mandamento que exige que o selo da verdade Divina seja estampado também nas relações sociais, em sua forma mais concreta possível. Não está se exigindo aqui o respeito à lei, rei, governo ou democracia, mas o respeito e a honra aos nossos pais, que nos deram o que há de mais valioso: a própria vida. Esta é uma exigência fundamental para combatermos o sentimento de nos acharmos merecedores de privilégios ou favores. Este sentimento, tão profundamente gravado em nossas personalidades, é o gerador de todas as desgraças que o homem atrai sobre si mesmo.

Este mandamento foi gravado no primeiro bloco de pedra, na tábua que contém os mandamentos que regem as relações entre os homens e Deus. No entanto, apesar de a honra e o respeito aos pais serem uma obrigação moral e "civil", o judaísmo interpreta este mandamento como uma obrigação perante Deus, pois apenas desse modo poderemos, talvez, cumprir as exigências severas deste mandamento.

"Até que ponto se estende a honra ao pai e à mãe?" pergunta o Talmud, respondendo a seguir: "Mesmo que estejas sentado à cabeceira da mesa, cercado pelos ministros do rei, e vier tua mãe e rasgar tuas roupas e cuspir em teu rosto - cala-te e não reage."

Esta abordagem severa já não pertence mais à moral normalmente aceita, mas esta é a abordagem Divina.

Avaliação dos Clientes

    • Livro incrivel sobre a parashá da semana
    • 05 de março de 2022
  • Tamara Aron
  • recomendo este produto
  • As explicações do autor são profundas mas fáceis de entender e trazem para nosso mundo material a divindade da Torah. 

    • gostei muito
    • 14 de janeiro de 2013
  • anônimo
  • recomendo este produto
  • Excelente livro!