A ouvirem que eu estava escrevendo um livro sobre Henny Machlis, algumas pessoas me perguntavam: "Você a conheceu?".
Se eu conheci Henny Machlis? Eu não tenho certeza sobre como responder a essa questão.
Eu me encontrei com Henny pela primeira vez em 2002, quando Rav Nechemia Coopersmith, editor do Aish.com, me enviou para entrevistá-la para um artigo. Ao deixar sua casa, após a entrevista, eu não podia conter minha empolgação. Eu telefonei para o Rav Coopersmith do meu celular e lhe contei que tinha material suficiente - grandes histórias e sabedoria profunda para preencher, no mínimo, dois artigos.
Obviamente, eu tinha ouvido, por anos, sobre a legendária hospitalidade de Shabat dos Machlis, mas somente no Shabat seguinte eu e minha família fomos vivenciá-la, por nós mesmos. Eu fiquei impressionada com o número e a variedade de convidados - cem pessoas que abrangiam toda a gama de tipos, desde bachurim de yeshivá a turistas de olhos arregalados e com a deliciosa variedade de comida. Mas, acima de tudo, fiquei impressionada quando, durante o prato principal, um homem perturbado (ou ele estava bêbado?) entrou e começou a gritar com Rav Machlis, repreendendo-o em um hebraico distorcido. Rav Machlis, imperturbável, continuou seu dvar Torá enquanto Henny emergia da cozinha e, gentilmente, falou com o homem. Depois de alguns minutos, ele saiu. Claramente tais explosões eram ocorrências comuns na casa dos Machlis.
Depois disso, eu via Henny regularmente. Ela e ela frequentávamos as aulas de massar do Rav Leib Kelemen, e Henny, sempre acompanhada por duas ou três de suas filhas, ia às aulas semanais da Rebetsin Tziporah Heller, em minha casa. Comecei a ir ao minian matinal de Shabat do Rav Machlis, no Cotel. O ponto alto da minha semana era ouvir Rav Machlis ler a Tord, com seu amor palpável por cada palavra. Henny vinha com algumas de suas fi lhas, seu sorriso entusiasmado e calorosa saudação iluminando minha vida, de uma forma que nunca poderia ser replicada. Henny me considerava uma amiga, me convidava para os casamentos de seus filhos e me procurava para ajudar na venda de rifas para arrecadar fundos para o Projeto de Shabat.
Mas eu conhecia Henny Machlis? Não, até eu começar a pesquisar sobre sua vida para este livro, eu nem fazia ideia de quem foi Henny Machlis. Certamente, eu a conhecia como o grande exemplo de chêssed, mas eu não tinha noção de que ela também foi o grande exemplo de oração, de devoção à Tord, de trabalho das midot, de criação dos filhos com amor incondicional e de emuná. Pesquisar a vida de Henny foi como entrar em uma caverna de tesouros. Quanto mais fundo eu ia, mais fascinada ficava pela quantidade infinita de pedras preciosas que descobria.
A parte mais difícil de escrever este livro não foram as mais de oitenta entrevistas que fiz, nem viajar para a América, para entrevistar os parentes e as colegas de escola de Henny, nem vasculhar as centenas de páginas de transcrições das gravações feitas na shivá. A parte mais difícil de escrever este livro foi me sentir cobrada, em relação à minha própria vida, para me tornar mais parecida com Henny Machlis, para responder à pergunta incô- moda: "O que Henny faria nessa situação?".
Henny, é claro, não gostaria que nenhum de nós se tornasse como ela, mas sim, que se tornasse seu próprio eu mais elevado. Eu escrevi (junto com a Rebetsin Heller) um livro sobre o yêtser hará e como enfrentá-lo. O livro que você está segurando é sobre o yêtser tov e como fortalecê-lo - pelo exemplo inspirador de Henny e seus ensinamentos profundos. Como ela insistia, cada um de nós deve manifestar seu próprio e único yêtser tov.
Recentemente, uma amiga me desejou que este livro fosse um sucesso. Esta manhã, quando eu estava no Cotel, uma mulher etíope, cega, estava se afas tando do Muro, caminhando com a ajuda de suas duas filhas. Ao passarem pela minha cadeira, abençoei-as que ela tivesse uma recuperação com pleta, que toda a família tivesse saúde e sucesso, e que as duas meninas encontrassem seu verdadeiro zivwg e se casassem neste ano. A mulher cega e suas filhas se alegraram e sorriram. Assim que elas passaram por mim, entendi que o que fiz era coisa de Henny.
Este livro já é um sucesso, pelo menos para esta Judia que o escreveu.
Rav Avraham Willig, genro de Henny, me contou que no fim do verão do último ano de Henny, enquanto ela estava em Nova York, se tratando, ele telefonou para ela de Israel e disse que um filantropo anônimo queria fazer algo qualquer coisa por ela. "Dinheiro não é um problema, faça um pedido. Quais são seus sonhos?"
"Qualquer coisa?", Henny respondeu, rindo. "Eu posso ter qualquer coisa?"
"Sim", Avraham devolveu, "qualquer coisa."
Henny pensou por um minuto, e então disse: "Eu gostaria de escrever um livro".
"Bem, eu estou indo para Nova York para Rosh Hashaná, e assim que chegar aí, eu a ajudarei a começar."
Uma semana depois, seus aviões se cruzaram sobre o Atlântico, quando Henny voltou para sua casa, em Israel. Gosto de pensar que este livro é aquele livro.
Sara Yoheved Rigler
6 de Elul de 5776/9 de setembro de 2016
Cidade Velha, Jerusalém