O autor escreve em seu prefácio que "o foco deste trabalho, é o ser marrano - o marranismo enquanto cultura e identidade. Nascido neste ambiente, e após vários anos de pesquisas, creio que posso contribuir um pouco para a história dos marranos, ao apresentar neste pequeno livro, alguns fatos e fontes inéditas, ou no mínimo pouco exploradas.
Comparando o que vivenciei, com o que já foi escrito no meio acadêmico sobre marranismo, buscando o que ainda resta de experiências memorizadas ao longo de muitos anos, e também pesquisando contos de famílias antigas, tradições orais, ou vasculhando arquivos públicos, me pareceu prudente, escrever o que segue neste livro. Nele enfatizo pontos e detalhes da historiografia geral, que por muitos anos esteve abafado e desconsiderado, quando se escreveu a história oficial do povoamento do Brasil.
Tracejei um perfil étnico ainda preservado no meio marrano, aspecto que ainda não foi bem explorado por antropólogos e etnólogos.
Trato da antroponímia do cristão-novo, baseado em fontes e tradições pouco conhecidas, tema que, aliás, tem sido tratado com certa confusão, nos tempos atuais.
Com fidelidade ao que vi, percebi e pesquisei sobre costumes e fé dos marranos, relato-os de forma resumida, mas trazendo fatos inéditos.
Finalmente, esforço-me em revelar uma "abreugrafia" da alma do marrano, que aliás, é o que ele possui de mais concreto. Hospedado há quinhentos anos na religião e cultura alheias, eles não puderam produzir fatos e artefatos muito concretos para servir de matéria de pesquisas de historiadores. Fizeram, de alguns retalhos de memorias remanescente, uma espécie de cripta, um casulo para praticar sua fé e cultura - e dali se recusam a sair, e quando o fazem, é ao modo de zumbis: oscilantes, cambaleantes, deslocados do convencional - logo, está no terreno da psicologia o "sítio arqueológico" que mais contém informações para um estudo histórico dos marranos. Está na psique do marrano o campo onde ele deixou rastros e pistas, pois herdaram do cripto-judaísmo, a mania de fazer uma espécie de "cripto-cultura", e assim caminharam pelo curso do tempo, sem deixar rastros.
Logo, para se escrever a história dos marranos, sempre se demandará, além do convencional, um pouco de tato, para entender a alma e psicologia de seus remanescentes.