Povos Indígenas
Para produzir "Hakitia" - dialeto dos sefaraditas do Marrocos -, Goifman fez quatro viagens para a Amazônia, somando 80 dias entre rios, igarapés, floresta e cidades. Segundo ele, há muitas semelhanças entre a história da região e a do povo de Israel.
- A resistência histórica do povo judeu tem grande semelhança com a resistência indígena. Ambos são civilizações que resistem com sua própria cultura através dos tempos, evitando a assimilação total à cultura dominante - diz ele.
O resultado dessa resistência está nas fotos de "Hakitia", que se dividem entre registros de famílias com suas práticas religiosas, a arquitetura própria da tradição judaica, hábitos cotidianos em várias cidades da região e a grandiosidade da floresta, como se vê em algumas imagens reproduzidas nestas duas páginas.
Hoje, cerca de três mil pessoas se declaram judeus na Amazônia, mas estima-se que existam mais de cem mil descendentes diretos dos primeiros judeus que chegaram à região - muitos dos quais formavam até mais que uma família, enquanto outros tantos se desligaram do judaísmo para poderem se casar com as mulheres de outros credos.
É assim que vamos conhecer famílias que estão na Amazônia há séculos, mantendo ritos milenares. A história delas começou, invariavelmente, com a prática do comércio, desbravando o labirinto de rios. Muitas enriqueceram.
Algumas escolheram a vida ribeirinha desde sempre, fugindo das cidades. São "verdadeiros caboclos de alma judia", diz Goifman, numa vida híbrida, quase anfíbia:
- É uma natureza que pulsa tão forte dentro da gente que, quando saímos da floresta, sentimos o efeito inverso de ficarmos mareados sem a presença do mato, da água, dos ruídos, cheiros e do balanço sem fim dessa terra, meio navio, meio ilha, essência vital neste planeta em risco.
Decadência
A paixão pela floresta e pelos rios não quer dizer que Goifman passe pano para a degradação ambiental e urbana da região. O texto de ?Hakitia? faz críticas veementes à decadência que ele presenciou em cidades como Belém e Óbidos, no Pará, ou Manaus, no Amazonas.
"Hakitia" é o terceiro de uma série de cinco livros (e filmes) do projeto de Goifman sobre a imigração judaica no Brasil. Os próximos volumes vão tratar das comunidades da Região Sul, além de Argentina e Uruguai. Mais sobre o autor e o livro está disponível no Instagram @felipegoifman.