Maimônides, no início de suas leis referente ao casamento, relata que, antes da outorga da Torá no monte Sinai, quando um homem encontrava
uma mulher que o agradava e ela consentia em se casar com ele, ele a levava para
casa e dessa forma o casamento era consumado. No momento que o casal desejasse
separar-se, bastaria ela abandonar a casa do marido e dessa forma era
considerada divorciada.
Quando o povo recebeu a Torá no monte Sinai, foram ordenados
sobre os 613 preceitos que envolvem todos os aspectos da vida, inclusive o
casamento e seus detalhes.
Desta forma, fomos ordenados que, antes de consumar o
casamento, o futuro marido deve "adquirir" sua esposa através de uma ato
chamado de kidushin, e por meio deste ato a mulher fica considerada uma
mulher casada, eshet ish, ficando proibida de se relacionar com qualquer
outro homem sob pena capital. Para que a mulher se separe de seu marido
livrando-se desta proibição, ela precisa receber um guet (documento de
divórcio) escrito de forma precisa com todos os detalhes das leis do Talmud.
O termo kidushin, literalmente traduzido como "consagração", vem do radical kadosh, que significa sagrado. Nossos
sábios explicam que este termo é usado para esta aquisição para nos indicar que
da mesma forma que um objeto sagrado pertencente ao Templo não pode ser usado
por qualquer pessoa, pois se isto ocorre a pessoa que o fez transgride a
proibição de meilá (profanação) podendo
ser punido com pena capital, assim também uma mulher mekudeshet (consagrada)
por um homem pertence apenas a ele e não pode ser "profanada" por outro.
Como também isto vem nos indicar que, diferente da visão de
outras religiões, o casamento judaico é
algo sagrado que conecta o casal com D-us, como nossos sábios nos ensinam que um
homem e uma mulher casados, que tem méritos e se portam conforme as leis da
Torá, atraem sobre si a Shechiná (presença Divina).
Todas as leis relacionadas ao kidushim e casamento são
abordados de forma abrangente neste tratado. Como também, muitas leis
relacionadas com o cotidiano de um lar judaico, como educação dos filhos,
respeito aos pais, são abordados neste primeiro capitulo do tratado.
Nossos sábios nos ensinam que pelo mérito do estudo da
Mishaniot o povo de Israel será redimido. Temos certeza absoluta, que
difundindo este estudo também na língua portuguesa, estaremos abrindo o caminho
da era messiânica, e apressando ainda mais sua chegada, quando então ocorrerá
uma grande festa de casamento do Todo-poderoso com o povo de Israel.
* * *
A execução desse projeto pela Yeshivá Tomchei Tmimim
Lubavitch do Brasil não seria possível sem o apoio de vários membros da
comunidade, que tornam acessível o estudo do Talmud para milhares de
pessoas. Certamente o mérito do estudo da Torá pelo público atrai bênçãos
Divinas sobre eles e seus familiares, em todos os sentidos.
Os cinco Tratados que já foram editados até o momento - Berachót
(três volumes), Macót (um volume), Meguilá (dois volumes), Rosh Hashaná (um volume) e San'hedrín
(três volumes) - têm sido muito bem recebidos pelo público em geral, e
alguns desses volumes já foram reimpressos algumas vezes. Continuamente
recebemos muitas declarações positivas e críticas construtivas que visam
aperfeiçoar o nosso trabalho; esforçamo-nos ao máximo para dar continuidade a
ele e procuramos aprimorá-lo cada vez mais.
Já que o ser humano é limitado e
suscetível a erros, é possível que no decorrer de qualquer tradução - ainda
mais de uma obra complexa como esta - possam ocorrer falhas involuntárias. Rogamos,
portanto, ao grande público que nos perdoe por eventuais enganos e nos envie as
suas críticas construtivas, para podermos aperfeiçoar ainda mais a qualidade
dos futuros lançamentos deste projeto.
Esperamos poder continuar com dedicação
e afinco esta obra magnífica, que tem como finalidade proporcionar à coletividade judaica
brasileira a oportunidade de ter acesso às fontes da Sabedoria Divina, e de
estudar nossa sagrada Torá. Que o Todo-Poderoso Deus nos dê força e coragem
para concluí-lo!
E que muito em breve a sabedoria esteja ao alcance de todos,
nas palavras do profeta (Jeremias 31:33): "E não mais o homem precisará
ensinar a seu próximo e a seu irmão o conhecimento de Deus, pois todos Me
conhecerão, dos menores aos maiores."
Rabino Shamai Ende
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