Entrevista realizada em 12/05/2015 por Denise Wasserman ao "Nosso Jornal"
"A busca consciente da espiritualidade surge
normalmente em oposição à submissão a uma ordem religiosa ou a líderes de
religião que escravizam mentes e corações, ao segmentar as criaturas em
classes, provocando medo, produzindo ameaças e gerando danos ao psiquismo
humano, ou mesmo de todo um povo."
Esses conceitos fazem parte do livro Luzes Espirituais da
Torá, de Ricardo Gaz, engenheiro e doutor em Ciências da Engenharia
de Produção.
Ricardo Gaz nasceu em 1968, na cidade do Rio de Janeiro. Recebeu uma educação
em valores ético-espirituais, estudando a Torá e praticando o judaísmo em seu
lar.
Estudou em colégios judaicos, foi aluno e depois professor de movimento juvenil
judaico, participou de seminários, cursos e workshops sobre judaísmo, tanto no
Brasil quanto em Israel, recebendo ensinamentos de diversos rabinos e mestres
da Torá.
Este
seu livro é resultado de uma dessas pesquisas e estudos realizados ao longo dos
anos e que tem por objetivo principal o autodesenvolvimento humano a partir da
construção de pensamentos refletidos da Torá e de ensinamentos milenares
transmitidos até os nossos dias.
Para conhecer mais profundamente os pensamentos do autor, siga-nos nesta
entrevista exclusiva para o Nosso Jornal
É o seu primeiro livro? Como se deu a escolha do tema?
Na
linha específica de religião, da espiritualidade e a abordagem ao tema Torá é o
primeiro livro. Apesar de ter estudado em colégios israelitas, participado de
movimentos juvenis judaicos, entre outros, sempre houve uma curiosidade natural
pelas fontes religiosas da humanidade desde bem jovem. Vale dizer que minha
família, meus pais, me deram as condições necessárias para que esta curiosidade
pudesse ser preenchida de modo adequado, num processo educacional gradual e
edificante. Mas, os conhecimentos científicos que adquiri nos estudos formais
não eram suficientes para explicar os porquês da vida. Dessa forma, estudei e
pesquisei sobre as ciências espirituais, integrando a ciência terrestre
(ensinada formalmente nas escolas e universidades). Ao amadurecer, compreendi
que estes conhecimentos espirituais estão presentes em uma memória maior e mais
profunda de todo ser humano, mas que não podem ser expressos ou naturalmente
potencializados sem esforço próprio, sem estudo, sem reflexão, sem disciplina,
além de requerer o devido equilíbrio psicoemocional. Nesse processo de
construção, o livro e o tema foram uma consequência natural, daquilo que já se
encontrava dentro de mim e da vontade de compartilhar com todos na forma
escrita um pouco do que havia conhecido e aprendido.
Você diz que a espiritualidade vai contra a submissão da
religião e a imposições. Como cada pessoa pode buscar esse sentimento dentro de
si, independentemente das referências de cada religião?
Não
precisamos ter expertise e estudar em profundidade as religiões e a história da
humanidade para observarmos nos sistemas sociais e religiosos a existência de
estruturas, hierarquias, ordens, princípios, postulados ou dogmas, enfim, da
presença de toda uma sistemática e corpo doutrinário para que seus cidadãos e
séquitos se conduzam. Nesse contexto, a abordagem da espiritualidade entra no
cenário, ou por necessidade do próprio indivíduo e este se espiritualiza, ou
pelo crescimento e evolução espiritual do planeta Terra (há também ?idades?
espirituais também para cada planeta e ser humano). Apesar de ser raro e o que
observamos (superficialmente) parece indicar o contrário, o processo de
espiritualização do ser humano e/ou da evolução espiritual do planeta Terra, é
uma condição sine qua non, seja por vias dolorosas, de guerras e de
catástrofes, seja por vias da sabedoria, da paz e do equilíbrio. Em termos
concretos e numa tentativa didática, esta espiritualização vem caracterizada
por três grandes fatores e que podem ser exercitadas desde já por todos nós:
estado moral e cognitivo elevado de consciência, diferindo de moralismos
estéticos, de modelagens racionais exclusivistas ou de comportamentos externos
sociais falsos; sentimento real de fraternidade, percebendo o outro, não mais
como um estranho ou opositor, e até mesmo conseguindo se aproximar e gostar
dele, diferindo-se de doutrinas que excluem o outro, que se manifestam como
detentoras da verdade e sabedoria, que fomentam a violência e a destruição quando
este outro não é do seu grupo, não age ou não pensa de igual maneira e
conhecimento universalista, onde a segmentação ou separação por ?castas? é
apenas mais uma ilusão e convenção humana. Esse conhecimento traz ou acarreta
em seu bojo a transcendência e a integração de conhecimentos, aparentemente
contraditórios (divergentes entre si) ou contrários (opostos), conduzindo-se a
uma saída da polaridade e culminando em soluções profícuas, sadias e
construtivas para a sociedade.
Sendo a religião judaica baseada em princípios milenares, como a
Cabalá, ela possui mais elementos espirituais do que as demais religiões?
A
Cabalá é o quarto nível de compreensão da Torá. O último nível, mais profundo e
essencial. Os mestres da Torá dizem que a Cabalá é a alma da Torá. Como
pré-requisito, de modo a iniciarmos um tráfego e termos acesso a esse quarto
nível de compreensão (não é algo meramente racional e técnico) é necessário
praticarmos uma humanidade em nossas vivências. Assim, o livro é permeado por
pensamentos-frases, que mesmo dentro do contexto das cinquenta e quatro porções
da Torá (dos cinco livros recebidos por Moisés no Monte Sinai há mais de 3300
anos) na primeira parte e dos ensinamentos dos mestres do judaísmo ao longo do
tempo na segunda parte, estes pensamentos-frases são refletidos de forma a
cunhar nas mentes (e corações!) de quem lê um processo universalista, sem
intencionar refutar ou agredir aquele que segue uma religião, judaica ou não
judaica.
Qual é o objetivo do seu livro?
Todo
processo de espiritualização ou de espiritualidade humana engloba o processo da
introspecção, sendo este último capaz de nos conduzir a ?respostas?
interessantes, advindas de nossas próprias camadas psíquicas, as mais
superiores (leia-se também: alma), seja para nossas vidas particulares, seja
para nossos ambientes étnicos, sociais, culturais, políticos e econômicos.
Nesse sentido, o objetivo precípuo do livro é conduzir o leitor a refletir
sobre a espiritualidade, buscando nela seu próprio autodesenvolvimento.
Qual é o público-alvo do seu livro?
Ensinam
o Marketing e a Gestão Estratégica que ao produzirmos um produto (ou serviço),
é preciso focar um nicho mercadológico, ou seja, alinhar público-alvo existente
ao produto criado ou desenvolvido. Mais ainda, em termos modernos, a criação de
um produto, inovador principalmente, pode ir além dessa conceituação, gerando
novos nichos de mercado e mexendo na dinâmica cotidiana das pessoas. A partir
dessas duas colocações e consciente de que todas as pessoas perpassarão pelo processo
de espiritualização, mais cedo ou mais tarde, compreendemos que, embora o
conteúdo do livro esteja embasado na Torá e nos ensinamentos dos mestres da
Torá, judeus e não judeus, que já se despertaram para a busca de uma formação
espiritual, ou que estão se despertando para essa espiritualidade, poderão se
beneficiar deste ?produto?.
Muitas pessoas afirmam que ser judeu, não implica
necessariamente em ser religioso ou seguir a religião. Isso tem a ver com a
espiritualidade? Ao sentimento puro do judaísmo?
Todas
as pessoas, seres, planetas e sistemas estão imersos em D´us. Sob um olhar
científico, entrelaçado à Cabalá, uma das ciências espirituais: a Presença
Divina ? Shechiná, uma das manifestações de D´us, está no espaço infinito
existente entre os átomos e entre todas subpartículas bem como no espaço
infinito existente entre os sistemas estelares. Cada qual está em um nível de
consciência que reflete ou manifesta-se de uma forma ou de outra. No contexto
judaico milenar, por exemplo, os patriarcas e matriarcas: Abraão, Isaac, Jacó,
Sara, Rebeca, Rachel e Léa (no hebraico e dentro da sabedoria judaica
codificada, cada início da letra dos nomes dos patriarcas e matriarcas está nas
iniciais da palavra hebraica: Israel) foram seres muito especiais e quando
encarnados atraíram essa Presença Divina para a Terra, isto é, toda alma que
ativa seu aspecto divino interior atrai para si e ao seu redor a Shechiná. No
contexto geral, a linha de religiosidade não interfere no processo de
espiritualização do ser humano. As designações são criações humanas e isso
pouco importa na esfera da realidade espiritual superior ou divina.
Como a poesia e a filosofia se misturam com o texto da Torá?
Os
mestres da Torá, naturalmente abalizados pelo quarto nível de compreensão, ensinam
que toda a Torá é uma grande canção divina, cujos ?Nomes Divinos? estão
expressos em todas as suas passagens, muitas vezes de forma explícita, muitas
outras, senão a grande maioria das vezes, de forma codificada. Para tanto, é
preciso uma escuta: o "verdadeiro shemá", indo além de um intenso estudo
racional, sistemático e/ou por uma pesquisa metodológica. É uma união entre
sensibilidade, artes, percepções, intuições (níveis de profecia) com a
capacidade analítica e sintética ao mesmo tempo.Não é à toa que buscamos
escrever no livro nas suas duas partes um pouco desses diversos aspectos, por
exemplo, apresentando uma noção da Árvore da Vida, estrutura essencial da
Cabalá, produzindo um poema que envolve atributos que estão implícitos nas
emanações (sefirot) dessa Árvore, tecendo alguns comentários no final de cada
uma das cinquenta e quatro porções sobre história, filosofia e numerologia
judaica (guematria) bem como na parte final, nos pontos singulares da Torá,
gerando algumas ilações matemáticas para mostrar a consonância entre ciência
(terrestre) e Torá.
Você diz que o seu livro pode responder questões sobre os
desafios do mundo atual. Isso não vai um pouco para o lado de autoajuda?
Todo
livro agrega valor (ou deveria agregar valor), ou seja, é algo que traz valor
ao ser humano. Por exemplo, os categorizados como ficção ou suspense poderão
fazer com que as informações ali contidas junto à motivação de ler ativem nos
cérebros dos leitores um tipo de aprendizado-prazer. Mais ainda, um livro que
?toca o coração? pode ser do tipo romanceado, histórico, religioso,
autobiográfico ou até mesmo técnico. Escritores de vários países e épocas bem
sabem que um livro se torna amigo íntimo de quem o lê, aproximando mundos ?
internos e externos. De acordo com os nossos níveis de consciência podemos ter
um nível melhor de leitura e de compreensão do texto, elevando assim seu valor.
Este livro Luzes
Espirituais da Torá encabeça uma abordagem da espiritualidade que
não se detém unicamente no plano espiritual sobrepondo-se ao do terrestre, e,
por outro lado, não se reduz às visões das escolas materialistas que somente
conseguem ver o ser humano como um aglomerado bioquímico e efeito aleatório ou
da desordem do Universo. Mas, tudo isso caberá ao leitor identificar e ao mesmo
tempo discernir.