Prefácio à Edição
Brasileira
Praticar
o que ensina é a melhor lição que um professor pode dar ao aluno. Não foi por
acaso que o autor deste livro, num ato de imensa humildade, preferiu manter o
anonimato. Ainda assim, muitos tentaram descobrir quem escreveu este verdadeiro
tesouro.
O Rabino Shabetai Meshurar Bass, de Praga, autor de Siftê
Chachamim, o famoso comentário sobre Rashi, diz em seu livro que Orchot
Tsadikim foi escrito pelo mestre do Rabino Iehuda Migash, um dos
professores do Rambam (Maimônides).
O livro Sêder Hadorot, do Rabino Chaim Iossef David
Azulay, o Chidá, afirma que Orchot Tsadikim também pode ser chamado de Sêfer
Hamidot, um título que Rambam cita em suas obras – o que confirmaria a
hipótese do autor ter sido mestre de um de seus professores.
Segundo outra opinião, o autor de “Orchot Tsadikim”
seria o Rabino Iom Tov Hacohen, que também escreveu outro livro famoso, chamado
Hanitzachon.
Em Sedê Chemed, obra do Rabino Chaim Chizkiyáhu
Medini, afirma-se ainda que o autor jamais poderia ser alguém tão anterior à
época de Maimônides, uma vez que o livro (Orchot Tsadikim) cita em suas
páginas o próprio Rambam e outros rabinos que viveram depois dele. E ainda
acrescenta que o Sêfer Hamidot citado pelo Rambam não seria o Orchot
Tsadikim.
Daí concluímos que o verdadeiro autor de tão magnífico
manancial de sabedoria determinou-se a fazer o tipo mais elevado de Tsedacá
– escreveu e doou anonimamente sua obra, a qual viemos a receber sem conhecer a
identidade do doador.
Sabemos apenas que a primeira edição do livro foi em yidish
e que veio à luz no ano judaico de 5302 (1502). Para o hebraico, foi traduzido
somente no ano de 5341(1581). Podemos inferir da leitura que o autor teria
vivido durante o período posterior à expulsão dos judeus na França, porque cita
alguns dos sábios da época.
Também encontramos em Orchot Tsadikim citações de
obras como Chovot Halevavot, de Bachiá ibn Pacuda (publicado
recentemente em português pela Editora Sêfer sob o título “Deveres do
Coração”), de Shaarê Teshuvá, escrito pelo Rabênu Ioná, do Mishnê
Torá, obra do Rambam, do Sêfer Mitsvót Gadol e do Sefer Chassidim,
entre outros.
Orchot Tsadikim também é citado por outros grandes
sábios em suas obras, como, por exemplo, no Reshit Hochmá e no Migdal
Oz, do Iaabets. Na introdução de uma edição de Orchot Tsadikim de
5570 (1770), escrita pelo Rabino Iechezkel Michalzhon, ele cita o Sefat Emet,
um dos Rebes de Gur, que aconselhava seus discípulos a estudarem os livros Orchot
Tsadikim e Chovot Halevavot.
Como se vê, dispomos apenas de indicações mas de nenhuma
certeza quanto ao nome do autor de Orchot Tsadikim. Tomemos como
inspiração a humildade desse ilustre erudito e façamos de sua grandiosa obra um
instrumento que nos ajude a lapidar nosso próprio caráter.
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A
época que vivemos incita ao culto das aparências. Não nos referimos aos
cuidados para manter a saúde ou a boa forma física, essenciais para a saúde
espiritual. Esta requer cuidados ainda maiores. Quando os recebe, estes
cuidados refletem-se imediatamente na maneira como nos relacionamos com a vida
e com nossos semelhantes.
Orchot Tsadikim analisa minuciosamente o perigo de
nos tornarmos pessoas falsas e vazias, como é citado no Tratado Iomá
86b: “Alguém que se faz de Tsadic e Chassid é chamada de Chonef,
um bajulador e um falso, e é uma Mitsvá desmascará-lo.”
“A Psicologia dos Justos”, nome da edição brasileira do Orchot
Tsadikim, é composto de 28 capítulos que têm o poder de despertar nossa
capacidade reflexiva, convidando-nos a prestar atenção ao que ocorre em nosso
mundo interior. O conteúdo profundo é transmitido de forma clara e direta, e
inclui indicações de ordem prática cuja finalidade é a de nos levar a alcançar
níveis cada vez mais elevados de Ticun Hamidot – o aperfeiçoamento das
nossas virtudes.
As lições de vida contidas em Orchot Tsadikim transformam-no
em obra de referência para todos os que têm o sagrado anseio de desenvolverem
seu potencial espiritual. A ampliação do entendimento dos conceitos expostos,
que invariavelmente resulta de várias leituras, conduz à pratica e à aplicação
de tudo o que nossa Torá ensina.
Em sintonia com a humildade que levou-o a omitir o próprio
nome, o autor respeitosamente citou as fontes que deram origem às suas
considerações. Com o intuito de facilitar a leitura, parte das fontes foi
transferida para o final desta edição em português.
Que este livro nos incentive a apreciar a grande força
espiritual de que dispomos, o precioso potencial explicado com tanta felicidade
pelo autor no último capítulo, através da analogia que estabelece entre o corpo
humano e o universo.
Que esta obra magnífica possa aperfeiçoar o que nossa alma
possui de melhor, contribuindo para transformá-la de pedra bruta no mais
brilhante diamante lapidado.
Nissan de
5763.
Rabino Chaim Vital Passy