A obra, da israelense Hadassa Ben-Itto, 91, foi lançada em 1998 e traduzida a 11 línguas desde então, mas ainda era inédita em português. Ben-Itto conta uma história de um século atrás, mas a ideia de uma falsidade que tem poder mesmo depois de desmentida é um tema bastante contemporâneo.
A própria tese de uma conspiração judaica continua a fomentar o crescente antissemitismo nos EUA e na Europa. "'Fake news' virou uma coisa da moda, mas os protocolos são 'fake news' há cem anos", a autora diz à Folha. "Líderes políticos ainda utilizam a tese da trama judaica até hoje, como os nazistas fizeram. Serve de álibi para o que está acontecendo de ruim em seus países?.
Nascida na Polônia, Ben-Itto foi juíza por 31 anos em Israel, um período durante o qual se deparou inúmeras vezes com histórias sobre os "Protocolos dos Sábios de Sião", um livro que forja as minutas de uma inexistente reunião de judeus para discutir a dominação mundial. Se a princípio ela tratou a história como algo trivial, aos poucos passou a lhe incomodar o fato de que uma mentira sobre os judeus perdurasse tanto tempo. "O livro foi publicado por décadas em todo o mundo, em dezenas de línguas, sem ninguém fazer nada", afirma.
Ela decidiu antecipar a aposentadoria, abandonar as cortes e viajar ao redor do mundo com um laptop embaixo do braço para investigar a história dos protocolos. Seis anos depois, publicou seu best-seller ("sem notas de rodapé, sem linguagem acadêmica, para ser lido"). "Lidei com muitos fatos enquanto era juíza, e sei que os fatos são importantes", diz à Folha. "Mas o que fazer quando os fatos são pervertidos? A única solução é dizermos a verdade?.
Hadassa Ben-Itto, juíza da Suprema Corte de Israel, investiu seis anos de sua vida para pesquisar e escrever uma obra impecável sobre a origem e a trajetória da maior farsa literária do século 20, o infame livro Os Protocolos dos Sábios de Sião.