O holocausto, apesar de sua bibliografia se multiplicar nos últimos anos, é um tema cujo horror e cuja lição a passagem do tempo não apaga na medida em que se queira distinguir nas ações humanas o bestial. É por essa razão que "Os Anos de Extermínio, 1939-1945", segundo volume de "Alemanha Nazista e os Judeus," adquire um significado especial.
Nele, Saul Friedländer conclui, com a mesma abordagem cronológica e não tópica do primeiro volume, "Os Anos de Perseguição, 1933-1939", o seu vasto painel histórico sobre o papel do homem comum e do que ele chama de “antissemitismo redentor” nos eventos que culminaram no genocídio.
Demonstra como as ações e o ideário nazista, a passividade ou aceitação silenciosa do povo alemão e das populações dos países ocupados tiveram como aliada fundamental a omissão ou mesmo a conivência de suas elites (autoridades políticas e judiciais, forças policiais, lideranças sociais e espirituais) e como a implementação da política de extermínio contava, em alguma medida, também com certa inação por parte das vítimas, que buscavam, assim, numa tentativa trágica e desesperada de autossalvação, apenas sobreviver tempo suficiente para fugir ao destino ditado por Berlim.
Além da exposição das entranhas burocráticas do Terceiro Reich, o historiador traz à tona os aspectos culturais e ideológicos do extermínio promovido pelos nazistas, para inseri-lo no contexto mais amplo da política e dos ódios raciais europeus, histórica e religiosamente insuflados, revelando ainda o que havia de contingente na primazia da morte sobre a vida, agora restrita às meras “necessidades do corpo”.
O que distingue esta magistral e multifacetada obra, e faz dela já um clássico, é a recusa do autor às respostas fáceis, domesticadas, preferindo antes transmitir a percepção da magnitude, complexidade e inter-relação dos muitos aspectos desses acontecimentos que se entrelaçaram e convergiram para tecer o véu de trevas que cobriu a Europa e sua consciência supostamente civilizada, qualidade que explica por que este primoroso