Tive grande satisfação em ler o livro que descreve a trajetória da pessoa e do empresário Elie Horn, e procurei, dentro das minhas limitações, escrever um prefácio que fizesse jus a tudo o que ele representa, tão bem descrito no livro.
Em certo momento de nossas vidas, buscamos um propósito para dar um sentido a nossa existência, e, como não existe uma única forma de satisfazer esse sentimento, cada pessoa encontra seu próprio caminho por meio de diferentes ações. Alguns dedicam sua existência a Deus, outros ao trabalho, outros ao amor, outros a ajudar o próximo, outros a alguma missão a que se propõem. Enfim, há diversas possibilidades que podemos seguir para dar sentido a nossa presença no mundo.
Conheci Elie Horn em 1993 ao adquirir um apartamento da Cyrela, negociando pessoalmente com ele o fechamento da transação, num episódio que me marcou profundamente e me permitiu entender, em um ato, quem era ele e qual era seu propósito de vida. Esse episódio está descrito no livro, o que me deixou sensibilizado por perceber que também foi marcante para ele, possivelmente porque ele sabe que sua proposta de doação do nosso desacordo comercial foi especial, inspirando-me a fazer muitas doações ao longo de minha vida. Aprendi com ele que a razão para doar é a própria doação.
Neste livro não veremos simplesmente a história de um empresário de sucesso; aqui está descrito o sentir e pensar desse homem, uma pessoa dedicada à filantropia.
Elie Horn escolheu "fazer o bem" como propósito de vida, o que é louvável especialmente por utilizar a maior parte do patrimônio que construiu com muito trabalho ao longo de sua vida como alavanca para ajudar os outros, fazendo grandes e pequenas doações, pois ele valoriza qualquer ajuda ao próximo, grande ou pequena. Para ele, o importante é fazer o bem diante da necessidade de alguém. Dessa forma, deu também um sentido ao seu trabalho e à riqueza acumulada, já que, para ele, tanto um como o outro não são um propósito em si, e só fazem sentido se forem dedicados a fazer o bem e ajudar aqueles que têm menos condições. Como descobriremos nestas páginas, essa é sua grande motivação para trabalhar - uma motivação social acima de tudo.
Essa atitude descreve a vida de Elie e tem sua origem na convivência com seus pais. Imigrou para o Brasil com seus pais e irmãos e sentiu, ainda criança, o que é lidar com dificuldades financeiras, o que deixou marcas profundas em sua formação, pois também aprendeu que não podemos desistir e que perseverar no trabalho é o caminho para superar as dificuldades. Também foi muito cedo que descobriu, com seu pai, a alegria no ato de doar; entendeu, conforme ensina a religião judaica, que a doação faz mais bem ao doador do que àquele que a recebe, e assim a generosidade passou a fazer parte de sua vida. A religião exerceu forte influência em Elie, que também desenvolveu uma profunda espiritualidade. Ele vive permanentemente questionando a si e a seus interlocutores com diversos temas, entre eles, o sentido da vida, o porquê de estarmos vivos, a existência de Deus e a vida eterna. A única resposta que parece fazer sentido ao Elie para essas questões é: fazer o bem.
Veremos que sua disposição para o trabalho combinada com um excelente tino para os negócios e uma extraordinária percepção de pessoas foram os elementos-chave para seu sucesso empresarial, criando a Cyrela e levando-a a se tornar a maior e, reconhecidamente, a melhor construtora e incorporadora de imóveis residenciais do Brasil. Seu estilo simples, aberto e direto, olho no olho, sem hierarquia, alinha-se com sua personalidade e foi também marcante na formação da empresa.
É de se esperar que uma pessoa que escolhe como propósito fazer o bem tenha elevados princípios éticos. E encontramos esses princípios não apenas nas palavras ou doações de Elie, mas também os veremos incorporados na cultura da empresa, sendo orgulho para todos que lá trabalham, relatando diversos episódios em que esses valores falaram mais alto em momentos que podemos chamar de "hora da verdade". A coerência das atitudes em todos os campos de atuação de Elie é bastante visível em vários aspectos de sua vida, reforçando que o escopo escolhido vai muito além das palavras: ele faz parte da alma de Elie Horn.
Hoje, com orgulho e desprendimento, Elie passou o comando da Cyrela para os filhos, acreditando que, para ter sucesso no negócio de incorporação, é essencial o comando do empreendedor-dono, pois apenas ele pode assumir os riscos envolvidos nessa atividade. É fascinante observar no livro como os filhos claramente entendem, apoiam e admiram o pai no seu propósito de vida, embora essa atitude os afete patrimonialmente.
Com os filhos tocando os negócios, Elie se dedica primordialmente à filantropia, apoiando diversas ONGs com grande envolvimento pessoal, as quais visita pessoalmente, discute suas ações e programas, falando com admiração de suas atividades, as quais parece conhecer em detalhes. Essa é uma de suas características - envolver-se profundamente, indo no detalhe em tudo o que faz. E continua a procurar e se envolver com outras ONGs com a mesma energia de sempre - afinal, fazer o bem não tem fim.
Acredito que o leitor irá se envolver e admirar essa pessoa com características tão marcantes que dificilmente se combinam numa mesma pessoa - de um lado, um empresário muito competente que construiu um verdadeiro império; de outro, um homem extremamente generoso que se dedica a fazer o bem.
Roberto Setúbal