Yitzhak Rabin: A Biografia definitiva do estadista
LEOM - 24 de fevereiro de 2021
Por Samuel Feldberg
O jubileu da morte de Itzhak Rabin neste mês de novembro de 2020 trouxe aos holofotes mais uma vez a discussão sobre sua missão, sua personalidade e o que teria ocorrido se ele não fosse assassinado naquela noite de novembro de 1995 por um fanático nacionalista, hoje idolatrado pela direita israelense.
E para lembrá-lo, tive a honra e o privilégio de traduzir, com minha colega Débora Fleck, a biografia escrita por Itamar Rabinovich, que foi embaixador de Rabin em Washington e o negociador com os sírios, quando esta ainda era a prioridade de Rabin antes dos Acordos de Oslo.
Rabinovich, diferentemente de outros autores, teve um íntimo relacionamento com Rabin e conheceu os meandros do poder, dando a esta biografia um peso especial.
Talvez o aspecto mais discutido da vida de Rabin seja a sua hipotética transformação do soldado radical em político moderado. Mas nada seria mais equivocado. O mesmo ministro da defesa, que na época da Primeira Intifada, reprimiu com violência as manifestações palestinas, reconheceu anos mais tarde que não havia alternativa à negociação com a OLP, uma vez que em 1988 a Jordânia havia declarado que não mais se envolveria com a Cisjordânia ocupada por Israel.
Rabin sempre foi duro em questões de segurança e moderado em seu posicionamento político. As declarações usadas contra ele, de que vislumbrava "uma entidade palestina que seria menos que um estado", são justamente a evidência de sua moderação política. No contexto em que foram proferidas, tinham por objetivo garantir o apoio político necessário para o avanço dos Acordos de Oslo, que certamente teriam sido abortados se o termo 'Estado Palestino" tivesse sido utilizado na Knesset.
Nem foi o reconhecimento da OLP algo inédito. Desde que promoveu a sua iniciativa de paz em 1989, Rabin buscou uma forma de dar representatividade aos palestinos exilados em Túnis, ciente de que eram eles que davam as cartas, mesmo quando as negociações se travavam com lideranças locais na Cisjordânia.
Mas Rabin nunca deixou de considerar o que significaram os Acordos de Oslo para a segurança israelense. Foi Sharon, dez anos após o assassinato de Rabin, quem retirou os colonos da Faixa de Gaza e qualquer avanço em direção a uma entidade palestina independente teria sido minimamente baseado no Plano Allon, que contemplava o controle do Vale do Jordão já em 1967.
A história das negociações que levaram à assinatura dos acordos na Casa Branca, e ao aperto de mão entre Rabin e Arafat, demonstra como Rabin articulou, cuidadosamente, a estratégia para garantir o seu sucesso.
Mas nada garante que Rabin poderia ter avançado com seu projeto, caso não tivesse sido assassinado. A sociedade israelense, já naquele momento vinha se radicalizando e este processo se acentua a cada ano. A incitação à violência, promovida pela direita, já havia matado um manifestante do movimento Paz Agora, dezenas de muçulmanos inocentes na Tumba dos Patriarcas e permeava uma cena política que talvez alijasse a Rabin do poder a qualquer momento. Tanto que Oslo só pôde ser aprovado com o apoio dos parlamentares árabes da Knesset.
Nunca saberemos o que poderia ter ocorrido caso Rabin tivesse sobrevivido ao atentado. O que sim sabemos é que não surgiu outro líder capaz de articular negociações que afastem Israel do terrível destino de um estado binacional.