Tive de cuidar de alguns papéis em um escritório do governo em Jerusalém. Caminhei por um longo corredor cheio de portas, procurando o escritório que eu precisava. Cada porta tinha uma placa indicando o nome e a posição da pessoa que estava sentada lá dentro.
Sem querer, passei por uma porta que se parecia com todas as outras, mas com uma placa que fez meu coração bater forte:
David Fruchter - Diretor
Sem bater, entrei no escritório e parei em frente a uma mesa grande de escritório. Atrás dela havia um jovem sentado, talvez em seus vinte e tantos anos. Apesar do fato de eu ter acabado de entrar, ele sorriu educadamente e perguntou como poderia me ajudar.
Tentei me recompor, mas meu corpo inteiro estava tremendo.
De onde veio seu nome, Dovid Fruchter?, perguntei - na verdade, eu praticamente gritei.
O sorriso do Sr. Fruchter desapareceu, e ele olhou para mim com espanto.
- Por favor, diga!, implorei. É que... o nome do meu pai era Dovid Fruchter. Eu não sabia que qualquer outro membro da família tinha sobrevivido, exceto eu a última frase saiu em um sussurro.
Embora ele estivesse claramente surpreso, me respondeu com cortesia.
-Tenho o nome do pai da minha mãe, Dovid Aharon Goldberg. Meu pai era Chayim Moshê Fruchter, e faleceu há um ano e meio. Até onde eu sei, ele também foi o único de sua família a sobreviver ao Holocausto. Ele não falava muito sobre isso.
O Sr. Fruchter parecia um tanto constrangido; ele se sentou à minha frente, em silêncio e sério, e então percebeu que eu ainda estava de pé e tremendo. Ele saiu de seu lugar, deu a volta na mesa, se aproximou de mim e me ofereceu uma cadeira.
- Por favor, sente-se. Olhe, deixe-me servir-lhe um copo d'água disse ele, educadamente. - Sinto muito. Meu pai, alav hashalom, não nos contou nada sobre a família dele, por isso não conseguirei ajudá-la - acrescentou.
Bebi a água, resmunguei, pedi desculpas e corri para casa. Não me lembro exatamente o que aconteceu depois disso. Tudo do que consigo me lembrar é que me encontrei deitada na cama, chorando incontro- lavelmente. Eu escondi minha cabeça no travesseiro, e lágrimas me inundaram, enquanto as memórias apareciam.
Daquele momento em diante, passei dias inteiros andando como se es- tivesse em um sonho. Eu não fazia nada em casa e não produzia muito no trabalho; eu estava imersa em outro mundo. Mas, de alguma forma, eu sabia o que tinha de fazer: escrever a história da minha vida, mesmo que apenas para voltar à sanidade.
Minhas memórias estão entrelaçadas com as de minha mãe. Nos sentávamos em casa à noite e conversávamos à luz da lanterna. Mamãe me contou suas próprias memórias tantas vezes e eu perguntei várias vezes, até que essas memórias se tornaram minhas. Elas se misturaram em minha mente e depois ficaram gravadas em meu coração. Talvez ninguém acredite que essas histórias realmente aconteceram, mas aconteceram...