PREFÁCIO DA AUTORA
Algumas palavras...
Nos tempos sombrios em que vivemos, não pude deixar de relacionar a realidade global de pandemia por corona vírus com o Holocausto/Shoá/ II Guerra Mundial.
Em um primeiro momento de isolamento, refleti sobre nosso privilégio de ter uma casa para morar, um companheiro com quem dividir a solidão, trabalho e dinheiro para viver. Em 1933, com a ascensão do nazismo na Alemanha, a maioria de nossos irmãos judeus, bem como comunistas, homossexuais, ciganos e portadores de deficiência tinham igualmente esses privilégios que foram aos poucos lhes sendo usurpados. Na iminência do começo da II Grande Guerra, esses seres humanos já haviam perdido quase tudo e viviam aterrorizados com o momento em que seriam deportados.
Lembrando aquela realidade, comentei com meu marido que não podíamos reclamar da nossa sina, pensando em nossos antepassados recentes que viveram aquela história trágica.
Lembrei-me, então, de Naftali Stern, primo de meu falecido pai que, naquele momento, não sabia se estaria ainda vivo, pois havia perdido o contato com ele. Recordei-me de sua história de vida e resolvi que faria minha primeira tentativa literária, já que sou uma “devoradora de livros”.
Procurei encontrar Naftali através de seus filhos e, após um mês de espera, sua filha Varda me mandou uma mensagem com o WhatsApp de Naftali. Liguei, imediatamente, para ele e o encontrei lúcido e saudável, como sempre aos 94 anos, lembrando o nome de meus filhos. Contou-me, na ocasião, que dava aulas de reforço escolar para crianças e jovens com dificuldades de aprendizagem. Relatou também as suas viagens às Filipinas, antes da pandemia pelo Covid-19.
Iniciei a escrita com a intenção de escrever um livro biográfico, mas, no fluxo da escrita, me vi criando uma ficção relacionada com minhas próprias crenças e ideias, que não eram necessariamente parte da história de Naftali e Rachel. Decidi, então, mudar os nomes dos protagonistas, já que minha narrativa não correspondia à sua história de vida.
Chegando ao final da narrativa, dei-me conta de que não conseguia enxergar meus personagens com outro nome que não os reais, e voltei a apresentá-los com os nomes verdadeiros.
Peço perdão à família Stern, se não fui fiel à sua história; mas minha inspiração, com certeza, está em sua significativa história de resiliência e exemplo de atitudes empáticas.
Iara Feldman