Em Bereshit (Gênesis) 1:26 está escrito: "E D-us disse: 'Façamos o homem à Nossa imagem e semelhança". Esse versículo, mal interpretado por muitos, pode ser desdobrado em várias dúvidas e, consequentemente, em várias respostas. Talvez, se formos obrigados a uma resposta simples, possamos dizer que "imagem e semelhança", obviamente, não trata de aparência física ou atributos materiais, mas de uma essência que todos nós, a humanidade, temos de semelhante ao Criador.
Quase todas as tradições e escolas de pensamento humanas, religiosas ou não, entendem o mesmo que nós, judeus, sabemos através de nossa Tradição: assim como D-us é único, o homem é único entre toda a Criação. E entre os atributos que nos conferem essa condição de singularidade está a capacidade humana de criação: de trazer algo que existe no plano das ideias para o plano material.
É fundamental pontuar, aqui, a diferença entre a criação humana com atividades de construção, assim por dizer, dos animais. O joão-de-barro constrói casas; as formigas, formigueiros; os castores, barragens; muitas dessas construções com altos níveis de complexidade e demonstrações inequívocas da magnitude do Criador. Mas nenhum joão-de-barro, ou formiga, ou castor constrói a partir de um processo mental, consciente e decisório, a nível individual; tampouco suas construções apresentam singularidade ou capacidade de expressar qualquer tipo de intenção ou significado superior. Essa faculdade, na Criação, é exclusiva do homem.
Essa semelhança na essência criadora entre o Criador e o homem permite que nós apreciemos a presente obra do Rabino Shimshon Bisker, "O Criador e a Criação: Uma Obra de Arte", da brilhante alegoria entre D-us e um artista, e da Criação com uma obra de arte. Bisker traça esse paralelo, justamente, a partir da capacidade humana de projetar, com sua mente, uma ideia, formar uma imagem e, em instantes, o que eram ondas cerebrais começa a ser executado no mundo material. Intencionalidade na criação, parte da nossa semelhança com D-us.
Uma leitura agradável, que flui de forma leve, como o pincel alegre de um artista.
Akiva Vital