Existiam poucas e confusas informações sobre a vida de Bento
Teixeira. Alguns chegam a considerá-lo brasileiro, natural de Olinda. Sua
biografia somente adquiriu contornos sólidos em 1929, com o exame os documentos
chamados Denunciações de Pernambuco - o conjunto referente aos registros da
Primeira Visitação do Santo Ofício às Partes do Brasil, de 1581-1592 - por
Rodolfo Garcia, que encontrou neles menção de um depoimento ao Tribunal de um
poeta cristão novo, batizado como Bento Teixeira. De acordo com o relato, o
poeta teria nascido na cidade do Porto, filho de Manuel Alvares de Barros e
Lianor Rodrigues, ambos criptojudeus.
Sabe-se que estudou no Colégio da Bahia e que frequentou um
seminário no mesmo estado, após ter vindo, com sua família, de Portugal,
provavelmente em 1567. Ao revelar que era judeu, teve que fugir para o estado
do Pernambuco, onde teria começado a trabalhar como professor de aritmética,
gramática e língua latina. Teria se casado com Filipa Raposa, em 1584, na
cidade baiana de Ilhéus.
Alegando adultério, Bento Teixeira assassinou a esposa. Tal
fato o obrigou a fugir novamente, refugiando-se no Mosteiro de São Bento em
Olinda. Lá, teria escrito sua grande obra - Prosopopeia.
Outra versão dos acontecimentos diz que Bento Teixeira foi
acusado pela esposa de ser judeu. O poeta teria, então, sido julgado e
absolvido pelo ouvidor da Vara Eclesiástica da Inquisição, em 1589. Intimado
posteriormente pelo visitador do Santo Ofício, acabou confessando ser seguidor
da religião judia. Irritado com a denúncia da esposa, assassinou-a,
refugiando-se no mesmo Mosteiro de São Bento. Localizado, foi preso e enviado
para Lisboa, por volta de. 1595, onde permaneceu até a morte.
Após quatro anos aprisionados, o poeta Bento Teixeira, judeu
e novo-cristão, mestre de moços e "professor", se dizia transformado:
tinha a "prisão por recreação, a solidão por companhia e a tristeza por
prazer". Entender a dinâmica do Santo Ofício e sua ação no Brasil tornam
muito mais clara - e necessária - a compreensão de nossa história,
principalmente em momentos como os atuais, nos quais presenciamos elementos de
incompreensão, intolerância e mesmo violência.