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A menina que foi vento

Autor: Symona Gropper
SKU: 14534
Páginas: 249
Ano: 2017
Avaliação geral:

O leitor se sente como se estivesse ao lado do divã da psicanalista que, na verdade, a analisou, na busca de desentranhar, do fundo da alma, os traumas acumulados por uma criança vitimada pelo drama da perseguição e do preconceito racial. O texto é um legado para as novas e futuras gerações, de judeus ou não, que precisam conhecer além do que, eventualmente, aprenderam nos bancos escolares.

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Descrição

Uma experiência humana incomum

Magda de Almeida*

Não é livro para se ler de vez em quando. Decididamente, não. É pegar e não largar. Esqueça o sono e o relógio.  

Mais do que um relato sobre a história de uma menina arrancada de seu chão e de suas raízes culturais pela insensatez e loucura humanas, A menina que foi vento - Memórias de uma imigrante, da jornalista Symona Gropper, é um legado para as novas e futuras gerações, de judeus ou não, que precisam conhecer além do que, eventualmente, aprenderam nos bancos escolares.

 

Symona ainda não tinha nascido quando o nazismo mostrou sua verdadeira face. O terror se instalou na Romênia, atingindo a família Gropper, amigos, parentes próximos e distantes, espalhando-se por toda a comunidade judaica de Bucareste, onde nasceram e sempre viveram seus ancestrais, todos forçados a deixar para trás, depois da Segunda Guerra Mundial, o próprio país e tudo que ele representou na vida de gerações. 

 

A Menina que foi vento é uma narrativa intensa e comovente de uma história real de venturas e desventuras, sonhos, medos, encontros, desencontros e coragem, muita coragem. Symona Gropper desnuda-se para seus leitores nas 250 páginas de suas memórias, que não se esgotam em si mesma, mas nos conduzem para bem dentro de um dos mais dramáticos momentos da História da humanidade e seus efeitos sobre a vida física e emocional de centenas de milhares de judeus expulsos de suas terras e de suas referências. 

A Menina que foi vento não poderia chegar em momento mais oportuno, quando  o mundo assiste, em tempo real, ao calvário de milhões de refugiados que fogem das guerras, ou por causa delas são expulsos, em diversos pontos do planeta. Symona Gropper sabe o que é isso, por ter sido ela própria parte da leva de refugiados que, expulsos de sua Romênia, partiram para Israel. Ela estava com apenas cinco anos.

Originária de uma família de empresários mercantis, Symona nos fala do forte impacto dessa brusca mudança socioeconômica na vida domestica e profissional de sua família,  na difícil adaptação a esses novos tempos, àquele entorno multicultural, tão instigante quanto assustador, aquela infância, inicialmente  passada nos toscos abrigos que o recém-criado Estado de Israel reservara para os refugiados que chegavam em grandes levas ao país  em busca de um acolhimento que parte do mundo negava. Não era coisa para os mais fracos.

A ser verdade que o sofrimento pode ser transformador, foi uma adolescente  disposta a enfrentar seus traumas, medos e fantasmas, e o que mais o destino lhe reservasse,  que o Brasil recebeu e onde ela cresceu disposta a abrir todas as portas que lhe aparecessem. E encarar de frente o que encontraria do outro lado. A leitura de A menina que foi vento às vezes nos faz achar que não é um livro que estamos lendo, mas um filme bem estruturado, roteiro de primeira, com princípio, meio e fim impecáveis. Tudo está ali, até o comovente reencontro, muitas décadas depois, com sua Bucareste, especialmente com o nunca esquecido parque que ilustra a capa do livro e onde passara o que, talvez, tenham sido os melhores momentos de sua vida enquanto criança.

Romance também não falta nesta biografia. Ela nos fala de suas paixões, as reais e as "recolhidas". O impacto da chegada ao Rio de Janeiro, seu primeiro pouso no Brasil, a liberdade e o conforto conquistados após um longo período de privação, o primeiro beijo, a primeira  decepção amorosa, as diferenças culturais e seus múltiplos desafios, por fim, "aquele" casamento, os filhos e os netos que vieram para lhe mostrar que, apesar de tudo, tudo valeu.

Aquela menina  que um dia foi vento cresceu, batalhou como poucos para ser uma jornalista com passagem por importantes jornais do país, como repórter e editora. São dela, também, as biografias Silvio Robatto - Um homem feliz e Diógenes Rebouças - O arquiteto da Bahia

*A jornalista carioca Magda Almeida foi repórter especial do Jornal do Brasil e do Estadão