Cultuado por grandes poetas e pensadores em todo o mundo, Yehuda Amichai (1924-2000) construiu uma das mais ricas e diversificadas produções poéticas de seu tempo. Nela, a cultura e tradição judaicas ganham uma leitura renovada e dividem espaço com os temas de intimidade amorosa, da vida em Israel, da guerra e da paz.
É a partir de Jerusalém, sua cidade-mundo, que o poeta revê a própria história, matéria viva de sua escrita: integrou o exército britânico na Segunda Guerra Mundial, lutou na Guerra da Independência - deflagrada pelos países árabes após a fundação do Estado judaico em 1948, na Guerra do Sinai em 1956 e na Guerra do Yom Kipur em 1973, ao mesmo tempo em que se tornava professor, atividade exercida durante toda a sua vida profissional, ao lado da literatura.
Mas como ele mesmo se definia, foi um verdadeiro "fanático da paz"; e é essa evocação pacífica que atravessa a sua produção poética. "(...) eu não estive entre todos aqueles mas o fogo e a fumaça ficaram em mim e as colunas de fogo e fumaça mostram o caminho noite e dia, restou em mim a busca insana por uma saída de emergência e por lugares macios,pela nudez da terra para me abrigar dentro da fragilidade para dentro da esperança, restou em mim o desejo da busca de água fresca falando em voz baixa para a rocha e batendo loucamente."
O autor não deixa esquecer que escreveu num dos umbigos do planeta, partilhando conosco o seu propósito de refazer o mundo a partir de sua casa e lançando mão de acento próprio na busca do universal. Nele, convivem o diálogo com passado bíblico, as vivências cotidianas e amorosas, a erudição transmitida de forma coloquial, a mistura entre o humano e o divino, essa síntese de humanidade contemporânea que ele busca em cada poema.
A tradução dos 80 poemas do livro foi feita diretamente do hebraico por Moacir Amâncio, professor da Universidade de São Paulo, também ensaísta, jornalista, escritor e poeta.