TEFILÍN - Capítulo 55 do livro JUDAÍSMO PARA O SÉCULO 21, de Aryeh Carmell
(1) Atando a Torá a si
"Atar a Torá a si", no idioma hebraico, é uma metáfora para absorvê-la e identificar-se completamente com ela. Esta Mitsvá nos pede para transpormos a metáfora à vida real. Temos que selecionar certas passagens da Torá e escrevê-las cuidadosamente num pergaminho especial, revestido com caixinhas de couro em formato cúbico e atá-las ao nosso braço e cabeça durante o serviço matutino. (Originalmente, deveríamos cumprir esta Mitsvá o dia todo, para que o espírito da Torá pudesse guiar todas as nossas atividades.) Cada uma das caixinhas é chamada de Tefilá (plural: Tefilín), cujo termo deriva do radical hebraico "palal", ou "pensar", pois temos que pensar nelas continuamente enquanto as vestimos. (Tefilá também significa oração - veja capítulo 65.)
Cada regulamentação envolvendo os Tefilín tem seu significado simbólico. Tentaremos elucidar alguns deles nesta seção.
(2) As quatro Parashiót (porções da Torá)
As quatro passagens que inserimos nos Tefilín descrevem esta mitsvá na Torá. São elas:
1. Cadêsh ("santificai..." - Êxodo 13:1-10). Os primogênitos são consagrados a Deus. Lembrai do Êxodo!
2. Vehaiá Ki ieviacha ("quando Ele vos trará..." - Êxodo 13:11-16). O faraó usou este poder para o mal. Nós o usaremos para as Mitsvót.
3. Shemá ("Ouve, Israel..." - Deuteronômio 6:4-9). Um Deus único significa total comprometimento. (Veja capítulo 43).
4. Vehaiá Imshamôa ("Se ouvirdes..." - Deuteronômio 11:13-21). Nosso destino nacional depende de como cumprimos nossa missão.
Com estas quatro Parashiót, atamos ao nosso corpo uma Torá em miniatura.
(3) Cabeça e braço
A Lei Oral ensina que a Tefilá que atamos ao braço deve ser colocada no braço esquerdo, sobre o bíceps (músculo que controla a ação), enquanto os Tefilín "entre os olhos" devem ficar um pouco acima da testa (contraposto ao lóbulo frontal do cérebro, que controla a visão e parece estar envolvido com nosso processo de tomada de decisões). Este ponto parece ser claro: a Torá deseja que controlemos nossas decisões (cabeça) e o modo como as colocamos em prática (braço).
Se os Tefilín da cabeça (shel Rosh) representam a teoria enquanto os Tefilín do braço (shel Iad) representam a prática, podemos então entender por que colocamos os Tefilín do braço antes dos Tefilín da cabeça. No judaísmo da Torá, a prática precede a teoria. Primeiro fazemos, depois compreendemos. Sabemos de antemão que o caminho da Torá é bom, mesmo que ainda não compreendamos como isto se dá. Os Tefilín da cabeça tem quatro compartimentos (visíveis por fora - veja figura 2). Em cada um deles está inserida uma Parashá. Por sua vez, o Tefilín que colocamos no braço só tem um compartimento, dentro do qual inserimos todas as quatro parashiót, escritas num só pergaminho. Quando pensamos, analisamos; temos portanto que refletir sobre a mensagem de cada uma das parashiót em separado. Mas quando colocamos nossos pensamentos em prática, os unificamos numa só atitude.
A Torá escolheu o braço "mais fraco" como veículo de sua lição, para que a ação de atar seja realizada pelo braço mais forte.
(4) Os Batím (receptáculos ou "casas" para as Parashiót)
(a) O material
Os Batím (singular: Bait) são feitos com o couro de um animal permitido para a alimentação do judeu, tais como o carneiro e o boi. O material com o qual são confeccionados os Tefilín deve ser "comestível" a princípio. Isto indica que devemos "absorver" a mensagem dos Tefilín dentro do nosso sistema; ela deve fazer parte da nossa constituição. O mesmo se aplica às correias, aos pergaminhos onde as Parashiót são escritas e aos tendões usados para costurar os Batím e amarrar as parashiót: todos estes materiais devem provir de animais casher (veja capítulo 25).
A intenção tem um papel preponderante em tudo o que se relaciona aos Tefilín. O próprio couro usado na sua confecção deve ter o propósito de ser usado para esta mitsvá. Símbolos devem ser deliberados e não escolhidos por acaso.
(b) A forma
Assim como o Altar no Templo Sagrado, os Tefilín são precisamente quadrados. A forma retangular representa a habilidade humana para criar. (Raramente ou quase não se encontram formas retangulares no mundo orgânico não humano, onde a forma circular é a norma.)
Uma vez mais, assim como no Altar, os Tefilín possuem uma base. Isto significa que nosso compromisso com Deus deve ser firmemente baseado numa apreciação racional com os objetivos da Torá.
Uma letra hebraica Shin é moldada em cada um dos lados do Bait do Tefilín shel Rosh (cabeça), por ser a inicial do Nome Divino Shadái - o Todo-Poderoso. A letra Shin do lado esquerdo possui quatro braços. Os três braços originais aludem aos patriarcas Abrahão, Isaac e Jacob, que nos iniciaram na nossa jornada histórica. Já o braço adicional alude ao rei David, cujo descendente, Mashiach (o Messias), completará o processo. Os Tefilín, como tais, mediam entre a promessa e o cumprimento do nosso destino.
(c) As correias
Atar os Tefilín ao nosso corpo simboliza atar-nos a Deus. Significa que o único modo de nos atar ao Todo-Poderoso é atar-nos às mitsvót da Torá.
(d) A negrura
As correias do Tefilín devem ser negras do lado externo, assim como os Batím. Isto talvez se explique pelo fato de a cor negra absorver toda a luz nela refletida. Os Tefilín devem absorver toda a luz deste mundo, convertê-la em Torá e conduzi-la à mente e ao corpo de quem os coloca. Mas esta absorção não precisa necessariamente ser um processo passivo.