PREFÁCIO
“Não só de pão vive o homem... mas de tudo o mais que vem do Eterno.”
Esta frase do 5o livro de Moisés (Deuteronômio 8:3) foi interpretada de várias maneiras pelos comentaristas bíblicos. Para alguns, significa que, assim como o pão, tudo aquilo que alimenta o ser humano é uma dádiva do Eterno. Outros consideram que tanto a sobrevivência física – simbolizada pelo pão – quanto a motivação intelectual, espiritual e filosófica, indispensáveis para dar significado à vida, emanam de Deus. Para outros ainda, o alimento e também todos os acontecimentos da vida do ser humano são determinados pelo Eterno.
Cada uma destas formas de pensar tem valor e revela como, ao longo da história, as experiências humanas fazem surgir interpretações e explicações diferentes para todos os fenômenos que norteiam nossa vida.
Cada geração, vivendo em circunstâncias diferentes da anterior, incorpora novas informações. Ela altera o legado intelectual recebido e prepara o terreno para a geração seguinte, por sua vez, criar uma nova percepção do mundo e de seus valores.
Entretanto, há mais de 3000 anos, o povo judeu recebeu leis que se mantêm até hoje, mesmo quando tentativas de buscar as razões que as fundamentam apresentaram diferentes respostas ao longo do tempo, às vezes até numa mesma geração. As leis alimentares da Cashrut, em particular, têm sido explicadas sob diferentes óticas: para alguns, elas reafirmam suas bases eternas; para outros, são anacrônicas e ultrapassadas.
As diversas tentativas feitas no passado para proibir sua prática gerou uma forte reação e levou o povo judeu a lutar corajosamente por este direito, como prova de sua importância para a afirmação do judaísmo e o fortalecimento da identidade judaica.
Ao pronunciarmos a bênção “Bendito sejas Tu, Eterno, nosso Deus, Rei do Universo, que fazes brotar o pão da terra”, afirmamos nosso reconhecimento de que é Ele que nos provê de alimentos por intermédio de tudo o que criou no Universo. Gratos por tudo que Ele nos dá, submetemo-nos às leis que promulgou através da sagrada Torá e transformamos nossa alimentação num ato em Seu louvor.
E como se manifestaram a este respeito nossos sábios nos últimos 200 anos?
Este breve trabalho coletou e resumiu artigos de diversos autores sobre o tema da Cashrut, na ânsia de apresentar um panorama amplo sobre como é compreendida e por que é cumprida por uma parcela significativa do povo judeu.
Desafiamos o leitor a acompanhar os diferentes caminhos pelos quais estes artigos nos conduzem. Para alguns, a leitura reavivará o cumprimento de leis que já conhecem e praticam. Outros, quem sabe, encontrarão orientações que lhes abrirão novos horizontes rumo à valorização de suas vidas.
Os Editores