Brincar. Como qualquer outra criança, era isso o que enchia de vida o pequeno Leib. E, além das brincadeiras, as descobertas de quem saíra de um pequeno vilarejo, Narewka, na Polônia, para uma cidade grande, a próspera e fascinante Cracóvia. Porém, quando o exército alemão ocupa o território polonês, brincar deixou de ser uma opção e trabalhar numa fábrica comandada justamente por um nazista, Oskar Schindler, tornou-se a única forma de sobrevivência. Eis o mote do emocionante O menino da lista de Schindler, a história real de luta, superação e esperança de Leib Lejson, ou Leon Leyson, o mais jovem sobrevivente salvo entre outros mais de mil judeus dos campos de concentração pelo empresário alemão.
Inédito por anos, seu testemunho traz à tona não só a dor e o temor vividos naquele período, nem apenas a opressão e a crueldade sem precedentes imposta pelos nazistas à população judia, como também uma perspectiva única sobre o Holocausto o olhar de uma criança, então inocente e sonhadora, amadurecida às pressas pela dura realidade e sob constante ameaça de morte e um retrato íntimo (e de profunda gratidão) sobre um homem que arriscou tudo para salvar seus semelhantes, independente de origens e credos: Schindler.
Muita coisa se poderia falar sobre o empresário: malandro, mulherengo, beberrão, oportunista — verdades incontestes. Homem complexo e repleto de contradições, contudo, ele fora ainda conspirador, corajoso, revolucionário, salvador. Um herói. Entre tantos alemães que queriam enriquecer com a guerra, Oskar Schindler tratava seus empregados judeus com humanidade. Sua crescente repulsa pela brutalidade da perseguição antissemita transformou sua avidez egoísta e imoral por lucros em um sentimento de compaixão. E, para tanto, não hesitou em falsificar documentos, pagar propinas, fazer tratos escusos e empregar de crianças e domésticas até advogados como experientes mecânicos.
Foi assim que os destinos de Oskar e Leon se cruzaram em 1939, quando o industrial alemão contratou o pai do menino, Moshe Leyson, para sua fábrica de esmaltados (e, anos mais tarde, de munições). Ao rememorar e ponderar, já adulto, sobre a inteligência, o coração, o jogo de cintura e a fortuna gasta por Schindler para manter seus operários judeus a salvo das câmaras de gás de Auschwitz, Leon revisita em detalhes suas origens: como seu pai e sua mãe, Chanah, se conheceram; as tradições e o convívio com seus avós; a vida na aldeia de Narewka e os sonhos depositados na ida para Cracóvia; a relação com seus irmãos, Hershel, Tsalig e David, e com sua irmã, Pesza; a infância interrompida pelo medo; a vida no gueto; o trabalho sobre um caixote de madeira para alcançar os controles da máquina de uma fábrica que lhe deu a chance de permanecer vivo; enfim, as dificuldades, provações e perdas de sua família em meio ao terror nazista até, finalmente, a imigração para os EUA e para um recomeço.
O pequeno Leyson, no entanto, não deixou que seu passado o definisse, mas que o tornasse mais forte para seguir em frente. Embora fosse só um garoto, sem contatos ou quaisquer habilidades especiais naquele cenário de exceção, ele teve a seu favor alguém que acreditou que sua vida era importante. A confiança do garoto em dias melhores e na superação dos obstáculos mais vis infligidos sem pena pelos homens de Hitler encontrou em Oskar e em suas ações ousadas um bastião de esperança, e, em sua família, a força para lutar e viver. Ao entrar aos 13 anos na “lista de Schindler”, trabalhando em sua fábrica, Leon não podia imaginar que estava entrando na história, mas sim que reescrevia a partir dali a “sua” história — que poderia ser abreviada por um ponto final a qualquer momento.
Com um texto fluido e de fácil leitura, O menino da lista de Schindler é um relato forte, comovente e corajoso sobre um dos mais tristes e cruéis episódios da humanidade, a Segunda Guerra Mundial, e que deve ser lido por todas as idades, sem exceção. Na voz de um sobrevivente improvável do genocídio nazista, um convite à reflexão tanto sobre a violência irracional, o racismo e a intolerância que persistem nos dias de hoje quanto sobre a vida daqueles que perderam a oportunidade de construir o seu futuro e o do mundo.