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Mishná em hebraico e português - Ordem MOÊD

volumes avulsos
SKU: 146915
Ano: 2020
Avaliação geral:

Edição bilíngue (hebraico e português) no formato 14x21 cm e encadernação de luxo de cada um dos tratados da Ordem Moêd (Data Festiva), que trata dos preceitos referentes ao Shabat e às festas do calendário judaico. Ver abaixo a relação dos tratados. Para adquiri-los de forma avulsa, clique na janela de opções abaixo e escolha um livro de cada vez. Os preços variam de livro para livro.

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Disponibilidade: Imediata

Descrição

Edição bilíngue (hebraico e português) no formato 14x21 cm e encadernação de luxo de cada um dos tratados da Ordem Moêd (Data Festiva), que trata dos preceitos referentes ao Shabat e às festas do calendário judaico. Ver abaixo a relação dos tratados. Para adquiri-los de forma avulsa, clique na janela de opções acima e escolha um livro de cada vez. Os preços variam de livro para livro.

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Os 12 tratados (todos disponíveis) da Ordem Moêd são:

· Mishná - Tratado Eruvin

Analisa a questão de transportar (ou carregar) objetos de um domínio privado para um público. (352 páginas)

· Mishná - Tratado Taanit

Fala sobre jejuns que devem ser observados por uma comunidade quando esta se defronta com um desastre. E o objetivo dessas leis é nos mostrar que a sentença vem dos Céus e, portanto, somente através do arrependimento e da oração o perigo pode ser afastado. (132 páginas)

· Mishná - Tratado Sucá

Trata dos preceitos especiais relativos à festa de Sucót, a Festa das Cabanas: habitar numa sucá (capítulos 1-2), pegar as Quatro Espécies (capítulo 3), a cerimônia da aravá no Templo (capítulo 4) e a mitsvá de derramar água no Altar (capítulos 4 e 5). (188 páginas)

· Mishná - Tratado Shecalim

Trata do imposto individual de meio shekel que cada judeu era obrigado a pagar anualmente ao Templo, quando este estava de pé, para financiar as oferendas comunitárias trazidas todos os dias, bem como em ocasiões especiais. (228 páginas)

· Mishná - Tratado Shabat

Trata de todos os preceitos e proibições relacionados ao Shabat. (472 páginas)

· Mishná - Tratado Rosh Hashaná

Trata de todos os preceitos e proibições relacionados ao Ano Novo judaico. E ao calendário judaico como um todo. (132 páginas)

· Mishná - Tratado Pessachim

Trata das leis e preceitos da festa de Pêssach, que comemora a redenção dos judeus da escravidão no Egito. (332 páginas)

· Mishná - Tratado Moêd Catan

Trata das leis e preceitos das datas menores do calendário judaico. (104 páginas)

· Mishná - Tratado Meguilá

Trata das leis e preceitos da festa de Purim, narrada no Livro de Ester. (128 páginas)

· Mishná - Tratado Iomá

Trata das leis e preceitos relativos ao Iom Kipúr, o Dia do Perdão (ou das Expiações), com foco especial no ritual realizado no Templo sagrado de Jerusalém. (212 páginas)

· Mishná - Tratado Chaguigá

Trata das leis relativas à oferenda especial trazida nas três festas de peregrinação ao Templo sagrado de Jerusalém. (124 páginas)

· Mishná - Tratado Beitsá

Define quais melachot (trabalhos) são autorizados de serem feitos em Iom Tov (dias de festa) e quais atividades são proibidas por decreto rabínico. (160 páginas)

Trechos

· MISHNÁ - TRATADO ERUVIN

A Torá proíbe trinta e nove tipos de trabalho (melachá) no Shabat. Eles estão listados na Mishná, Shabat 7:2. A melachá final da lista é transferir (literalmente, retirar), o que implica mover um objeto de um domínio privado para um domínio público, de um domínio público para um domínio privado, ou quatro amot em um domínio público. Esta melachá é comumente referida como "carregar", mas inclui todas as formas de mover objetos, como empurrar, puxar e jogar.

Os Quatro Domínios

As regras de transferência envolvem quatro domínios: (1) reshut haiachid, domínio privado; (2) reshut harabim, domínio público; (3) carmelita, uma área intermediária entre os domínios público e privado, e (4) mecom petur, área isenta.

Reshut haiachid

Um reshut haiachid (domínio privado) é uma área delimitada por divisórias com pelo menos dez tefachim de altura. Essa área deve ter pelo menos quatro tefachim de largura e quatro tefachim de comprimento. De acordo com a maioria das opiniões, ela precisa ser fechada apenas em três lados para se qualificar como reshut haiachid, de acordo com a Lei da Torá. Embora reshut haiachid signifique, literalmente, domínio privado, não é necessário que o local seja uma propriedade privada. A ideia por trás deste nome é que a área é fechada, e não é designada para uso público.

Reshut harabim

Um reshut harabim (domínio público) é uma rua ou outra área pública comumente usada. Deve ter pelo menos dezesseis amot de largura e ser aberta em suas duas extremidades. Segundo alguns, deve ser usado por pelo menos 600.000 pessoas (o total da população no acampamento Judeu durante suas viagens no Deserto) para se qualificar como domínio público.

Carmelit

Um carmelit é uma área que não é de domínio público, porque carece de uma das condições necessárias (por exemplo, não é reservada para uso público ou tem menos de dezesseis amot de largura), nem domínio privado, porque não possui as divisórias necessárias. Exemplos de carmelit são um campo aberto, um terreno vazio ou uma área elevada (como um pilar ou tronco de árvore) em um domínio público que se estende entre três e dez tefachim acima do solo. A área também deve ter pelo menos quatro tefachim de largura e quatro tefachim de comprimento para se qualificar como carmelit. Se for menor, é um mecom petur.

Mecom petur

Um mecom petur (área isenta) também é uma área que não é de domínio público nem privado, mas é menor que um carmelit, o que significa que possui menos de quatro tefachim de comprimento ou largura.

Outro caso de um mecom petur é o espaço aéreo que está acima de um domínio público ou de um carmelit. Um domínio público e carmelit se estendem apenas dez tefachim para cima; o espaço aéreo acima disso é um mecom petur.

De acordo com a Lei da Torá, a proibição de transferir objetos no Shabat se aplica apenas a transferências entre um domínio privado e um domínio público, e à movimentação de objetos quatro amot em um domínio público.

Como um carmelit se assemelha a um domínio público (na medida em que não é fechado) e a um domínio privado (na medida em que não é reservado para o público), os Sábios decretaram que fosse tratado com as restrições de ambos os domínios. Portanto, como é o caso de um domínio público, não se pode carregar um objeto quatro amot em um carmelit ou carregar entre ele e um domínio privado. E, como é o caso de um domínio privado, não se pode carregar entre um carmelit e um domínio público.

O transporte de qualquer domínio para um mecom petur (ou vice-versa), em geral, é totalmente permitido, mesmo sob a Lei Rabínica.

Divisórias

As divisórias (separações) que cercam um domínio privado devem ter dez tefachim de altura. Elas podem ser muros ou paredes normais que se erguem do solo a uma altura de dez tefachim; elas podem ser paredes de um buraco no solo que tenha dez tefachim de profundidade ou elas podem ser encostas íngremes que cercam um monte que tenha dez tefachim de altura. Qualquer combinação desses também pode formar um domínio privado; por exemplo, um buraco com cinco tefachim de profundidade e cercado por paredes com cinco tefachim de altura é um domínio privado.

Uma divisória pode ser válida, mesmo que não seja totalmente contínua, mas tenha lacunas. Obviamente, toda área fechada deve ter pelo menos uma abertura para que as pessoas possam entrar e sair dela. Como esse é um recurso necessário de toda área fechada, segue-se que uma divisória não está necessariamente desqualificada porque possui lacunas. Há uma diferença a esse respeito entre uma lacuna que é uma entrada e uma que é uma fenda. Uma entrada não desqualifica uma divisória, mas uma ruptura, sim. Além disso, não apenas uma entrada não desqualifica uma divisória, mas ela própria é considerada parte da divisória; isto é, considera-se que as paredes de ambos os lados se estendem através da abertura e a "fecham". Portanto, mesmo a área diretamente oposta à entrada também é considerada fechada.

A. Regras relativas a aberturas

1. um vão maior do que dez amot

Para se qualificar como entrada, um vão não pode ser maior do que dez amot. Qualquer abertura maior do que dez amot é uma ruptura que invalida a separação.

2. os vãos são maiores do que as partes muradas

Mesmo que cada vão em uma separação seja mais estreito do que dez amot, mas a largura total de todos os vãos seja superior à largura total de todas as partes contínuas, a divisória é inválida.

3. tsurat hapetach

Um tsurat hapetach (literalmente, forma da porta) é uma estrutura que lembra uma porta. Consiste de dois postes verticais e uma barra horizontal (ou corda) que se estende do topo de um poste até o topo do outro (formando assim uma porta, que possui dois batentes e uma verga). Por parecer uma porta, é mais eficaz do que as entradas discutidas até este ponto. Não é considerado uma "brecha" na parede, mesmo que seja maior que dez amot. De acordo com a maioria das opiniões, até divisórias feitas apenas dessas estruturas são válidas.

Hoje em dia, um tsurat hapetach é amplamente utilizado em um carmelit, onde o transporte é (rabinicamente) proibido e, assim, convertê-lo em um domínio privado, onde o transporte é permitido. (Isso é comumente chamado de eruv.)

B. Leniências a respeito das divisórias

A Lei Oral, proferida no Sinai, ensina que um vão (mesmo que não seja uma entrada) não desqualifica uma divisória, se ela atender a uma das seguintes condições:

Lavud

A regra de lavud (unida) nos diz que qualquer lacuna menor que três tefachim não é considerada uma lacuna, em absoluto; ao contrário, é vista como contínua por todo o caminho. Assim, uma divisória pode consistir apenas de varas estreitas fincadas no solo distantes uma da outra, desde que os vãos entre as varas sejam inferiores a três tefachim. Mesmo que a divisória esteja quase totalmente aberta, ela é válida, porque cada vão é considerado como se estivesse fechado.

Gud

Esta leniência nos permite "estender" divisórias para áreas mais altas ou mais baixas que elas não alcançam fisicamente. Isso acontece de duas maneiras:

Gud assic - estende [e] eleva a separação:

Uma divisória com dez tefachim de altura é vista como se estendendo para cima, formando uma separação para a área acima. Assim, o espaço acima de um domínio privado também é um domínio privado, porque as separações se estendem para cima e o fecham.

Gud achit - estende [e] abaixa a separação:

Uma divisória de dez tefachim de altura, que se ergue a partir do chão (uma cerca em torno de uma varanda, por exemplo) pode ser vista como se estendendo para baixo, convertendo, assim, a área aberta abaixo dela em um domínio privado.

Pi ticrá (a borda de um telhado se estende para baixo e veda):

Como essas palavras sugerem, considera-se que a borda de um telhado se estende para baixo, para o chão, para formar uma divisória. Assim, torna a área sob o telhado um domínio privado. Um telhado inclinado não está incluído nesta leniência (Guemará 25b, 94b).

Domínio Privado Proibido por Decreto Rabínico

A maior parte deste tratado aborda as leis de áreas que são de domínio privado, de acordo com a lei da Torá, mas onde os Sábios aplicavam certas proibições contra carregar. Vários tipos de áreas foram proibidos:

Um beco

Para entender grande parte deste tratado, é necessário estar familiarizado com a configuração das ruas e casas nos tempos da Mishná. Naqueles tempos, e, em muitos lugares, até os tempos modernos, várias casas se abriam para um pátio, e vários pátios, por sua vez, levavam a um beco, pelo qual as pessoas passavam para chegar à rua. Um beco assim é conhecido como mavoi (plural, mevoot).

Normalmente, o mavoi era um beco sem saída, fechado em três lados e aberto apenas no quarto lado em que se encontrava com o domínio público. Sob a Lei da Torá, o beco fechado é um domínio privado e é permitido carregar nele. Os Sábios estavam preocupados, no entanto, com a possibilidade de que as pessoas pudessem ver o beco como um domínio público, uma vez que é usado como uma rua e é completamente aberto de um lado. Portanto, se o transporte fosse permitido no beco, as pessoas também poderiam vir a carregar em um domínio público real (Rashi 2a). Para evitar isso, os Sábios proibiam o transporte no beco, a menos que um ajuste fosse feito em sua extremidade aberta. No entanto, não é necessário erguer uma divisória (ou qualquer um de seus equivalentes legais descritos acima) para fechar a abertura; em vez disso, basta colocar um corá (viga cruzada), no topo da abertura ou posicionar um, lechi (poste), próximo a uma das paredes da abertura.

Violado na sua totalidade a uma área proibida

Se uma área em que o transporte é permitido estiver completamente aberta a uma área em que o transporte é proibido, o transporte também será proibido na área permitida. Este é um decreto Rabínico. "Completamente aberto" significa que não há nenhuma divisória ao longo do lado que une as duas áreas. Por exemplo, se um pátio é aberto de um lado a um carmelit, isso torna proibido transportar também no pátio.

Mesmo que partes de uma divisória continuem separando as duas áreas, mas a abertura entre as partes seja superior a dez amot, de modo que seja considerada uma violação, e não uma entrada, as duas áreas serão consideradas "completamente abertas" uma para a outra, e a área proibida impede o transporte na área permitida. [Se, no entanto, a abertura entre elas puder ser considerada uma entrada, as duas áreas serão legalmente separadas e o transporte permanecerá permitido na área permitida.]

Há até mesmo casos nos quais o transporte se torna proibido como resultado de duas áreas permitidas estarem completamente abertas uma para a outra. Isso acontece quando o transporte é proibido por algum motivo entre as duas áreas permitidas e elas são completamente abertas uma à outra. Nesse caso, o transporte é proibido, mesmo dentro de cada área. Um exemplo disso é discutido em Mishná 9:2.

Carpef, uma área que é fechada, mas não para fins residenciais

Algumas áreas recebem a condição de carmelit, mesmo estando dentro de divisórias, que as tornam um domínio privado (reshut haiachid). Se uma área maior do que 5.000 amot quadrados for delimitada para fins não relacionados à vida cotidiana, ela será tratada Rabinicamente como um carmelit, apesar de suas divisórias. [Isso será explicado mais adiante, na Mishná 2:3.] Uma área fechada para fins não residenciais é geralmente referida como um carpef. Um exemplo comum disso é uma grande horta.

Eruvei Chatserot Shitufei Mevoot

Além das proibições de transporte em um beco ou pátio que vêm de sua abertura em um dos seus lados, existe outra proibição que resulta do fato de que - em comparação com casas - pátios e becos se assemelham a áreas públicas. As casas pertencem e são usadas por famílias individuais, enquanto os pátios pertencem e são usados pelos moradores de todas as casas que se abrem para eles. Os Rabinos estavam preocupados com o fato de que as pessoas pudessem pensar que transportar de uma casa para um pátio seria como transportar de um domínio privado para um domínio público. Eles, portanto, proibiram o transporte de uma casa para um pátio, a menos que algo fosse feito antes do Shabat para "unir", simbolicamente, todas as casas do pátio (chatser) em uma "casa" única. Esse procedimento é conhecido como eruvei chatserot, uma fusão do pátio. Eles criaram uma regra semelhante para os becos (mevoot), porque os pátios (que servem apenas às casas que estão neles) parecem mais particulares do que os becos, que são usados por todos os pátios que se abrem para eles. Aqui também eles exigiram unir simbolicamente os pátios de um beco em um "pátio" único para permitir o transporte de um pátio para um beco no Shabat. O procedimento para fazer isso é conhecido como shitufei mevoot.

Os Capítulos 6 a 9 tratam extensivamente das leis dos eruvei chatseirot e shitufei mevoot. Uma introdução mais completa a esses tópicos aparecerá, portanto, no início do Capítulo 6.

Techum e Eruvei Techumin

A outra grande proibição Rabínica discutida neste tratado é a restrição de fronteira do Shabat [que é comumente chamada simplesmente de techum] e o procedimento para mudá-la, que é conhecido como eruvei techumin.

Techum

No Shabat e nas Festividades, uma pessoa está proibida de ir para além de 2.000 amot de sua residência legalmente definida no início daquele dia. Esse limite é chamado techum (fronteira). Embora a Mishná (Sotá 5: 3) cite uma alusão na Torá a essa Lei, a maioria dos Tanaim assume que essa é uma Lei Rabínica, não da Torá. A halachá segue essa opinião.

Para calcular o techum, devemos primeiro determinar o local de residência da pessoa no início do Shabat. Este lugar é conhecido como sua residência de Shabat. Em geral, a residência de Shabat de uma pessoa é o local onde ela passa o Shabat, efetivamente. Se ela começou o Shabat em uma cidade, toda a cidade conta como sua residência e o techum é medido a partir da periferia da cidade. Se começou o Shabat em uma construção isolada (que não está em uma cidade), toda ela é considerada sua residência e o techum é medido a partir do lado de fora do muro da construção. Se iniciou o Shabat em um acampamento em um campo aberto, sua residência no Shabat são os quatro amot à sua volta.

Eruvei techumin

É possível, no entanto, que uma pessoa estabeleça sua residência no Shabat em um local diferente daquele onde ela realmente resida. Isso é feito criando um eruvei techumin em um local a até 2.000 amot de distância de sua localização real. Isso estabelece legalmente sua residência de Shabat naquele local e permite que ela vá de sua localização real até aquele ponto e 2.000 amot além dele. Com efeito, ele permite que ela vá, no máximo, até 4.000 amot de seu local de residência real, pois ela pode estabelecer o eruv até 2.000 amot de onde está.

Isso não dá ao indivíduo mais do que o limite de 2.000 amot; apenas muda o ponto a partir do qual é medido. Por exemplo, se alguém colocar seu eruv a um ponto até 2.000 amot de onde ele realmente passará o Shabat, ele será capaz de viajar 4.000 amot naquela direção (2.000 pelo eruv e 2.000 pela antiga localização), mas ele será proibido de ir mesmo um amá na direção oposta, pois isso o colocaria a mais de 2.000 amot de sua residência oficial de Shabat - o local de seu eruv. Assim, tudo o que ele ganha em uma direção vem em detrimento da direção oposta.

Um eruvei techumin é feito colocando, antes de Shabat, uma quantidade específica de alimento no local que ele deseja fazer sua residência no Shabat. A pessoa é então vista como residindo simbolicamente no local onde está seu eruv. Além disso, os rabinos decretaram maneiras especiais de estabelecer uma residência de Shabat para pessoas que se encontravam presas na estrada pouco antes do início do Shabat. Estas são discutidas pela Mishná no Capítulo 4 (Mishnaiot 4 a 8).

Um eruvei techumin pode ser feito apenas com o objetivo de realizar uma mitsvá, por exemplo, para consolar os enlutados, participar de um banquete de casamento ou cumprimentar seu mestre de Torá, conforme estabelecido na halachá (Orach Chaim 415:1).

Unidades de Medida

Muitas das Leis discutidas neste tratado abordam unidades de medida e são expressas em termos de amot, tefachim e assim por diante. Um, tefach [pl., tefachim] é, basicamente, um punho fechado. A Guemará (3b) conclui que um, amá [pl., amot], consiste em seis tefachim. A Guemará (Menachot 41b) afirma que um tefach tem a largura de quatro polegares (de um homem comum), lado a lado, no ponto mais largo, ou cinco dedos indicadores, ou seis dedinhos lado a lado.

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· MISHNÁ - TRATADO TAANIT

O Tratado Taanit tem seu nome a partir da palavra hebraica que significa jejum. A maior parte dele fala sobre jejuns que devem ser observados por uma comunidade quando esta se defronta com um desastre. Se uma tragédia, tal como uma fome ou doença, está à espreita, a comunidade é obrigada, de acordo com a Torá, a rezar e tocar trombetas. Também há uma obrigação rabínica de jejuar. O objetivo dessas Leis é nos mostrar, e aos demais, que a sentença vem dos Céus e, portanto, somente através do arrependimento e oração o perigo pode ser afastado.

No começo de Hilchot Taaniot 1:1-4, o Rambam expressa essas ideias da seguinte forma:

É um mandamento positivo da Torá gritar [para Hashem] e soar as trombetas quando qualquer desastre recai sobre a comunidade. Conforme está escrito (Bamidbar 10:9): ... contra o inimigo que lhes ameaça, toquem as trombetas; ou seja, contra qualquer ameaça, tal como seca, doença, gafanhotos, praga ou algo do gênero, clame e soe as trombetas.

Esse é um dos caminhos para o arrependimento. Quando ocorre um desastre e [as pessoas] clamam e soam as trombetas, todos reconhecem que é devido aos seus maus atos que essa desgraça recaiu sobre eles, conforme está escrito (Iermiahu 5:25): Seus pecados afastaram [as chuvas]. Isso fará com que [Hashem] remova o desastre de você.

Porém, se eles não clamarem e não soarem as trombetas, mas disserem "Isso aconteceu conosco devido a causas naturais; essa tragédia aconteceu por acaso", tal [atitude] é uma forma de crueldade. Isso faz com que [as pessoas] persistam em suas más ações e, [como consequência] a tragédia evolui para outras doenças. Esse é o significado daquilo que está escrito na Torá (Vaicrá 26: 27, 28): [E se] comportarem comigo como [se fosse uma] casualidade, Eu me comportarei com o furor da casualidade; ou seja, quando Eu trago a calamidade sobre você para que você se arrependa, se você afirmar que é uma coincidência, Eu irei intensificar a fúria [da assim chamada] coincidência.

É uma obrigação rabínica jejuar sempre que uma tragédia que ameace uma comunidade, até que a misericórdia seja concedida dos Céus. Durante esses dias de jejum, clamamos em oração, súplica e ao som de trombetas.

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· MISHNÁ - TRATADO SUCÁ

O Tratado Sucá lida com as mitsvot especiais da Festividade de Sucot: a de habitar em uma sucá (capítulos 1-2), pegar as Quatro Espécies (capítulo 3), a cerimônia da aravá no Templo (capítulo 4) e a mitsvá de derramar água no Altar (capítulos 4 e 5).

I. Habitar na Sucá

mitsvá de habitar na sucá está na Torá (Vaicrá 23:42): "Em sucot vocês devem habitar por sete dias". Os Sábios (Guemará 28b) interpretam as palavras "vocês devem habitar", como exigindo que habitemos na sucá da mesma maneira que vivemos em nossas casas, no restante do ano. Isso significa que, durante os sete dias de Sucot, a pessoa é obrigada, pela Torá, a tratar a sucá como sua casa. Todas as atividades que normalmente se realizam em casa, como comer, beber e dormir, devem ser realizadas na sucá.

A parte principal de uma sucá é o seu telhado, ou s'chach. Na verdade, sucá vem da palavra s'chach (Rashi 2a). S'chach é definido como um telhado que fornece sombra. Se foi construído ou instalado para algum outro propósito que não fornecer sombra, ele é inválido (Guemará 8b). O s'chach não precisa ser completamente sólido, mas a área total de todas as partes sólidas do s'chach deve ser maior do que a área total de todos os espaços vazios (Mishná 2:2). Ele deve ser feito de material que cresce no solo (mas que já foi colhido), e que seja incapaz de se tornar tamê, por exemplo, galhos ou palha (Mishná 1:4). A sucá deve medir, pelo menos, sete tefachim (uma medida de área usada na época da Mishná) por sete tefachim (Guemará 3a).

As paredes de uma sucá podem ser feitas de qualquer material. São necessárias ao menos três paredes, das quais duas devem ter pelo menos sete tefachim de largura (veja Mishná 1:1 nota 4). A altura de uma sucá não pode ser inferior a dez tefachim ou superior a vinte amot (outra unidade de medida utilizada naquela época) (Mishná 1:1).

II. As quatro espécies

A Torá declara (Vaicrá 23:40): "Vocês pegarão para si mesmos, no primeiro dia [de Sucot], o fruto de uma bela árvore, galhos de palmeiras e ramos da árvore entrelaçada e de salgueiros de um riacho; e vocês devem se alegrar diante de Hashem, seu D'us, por um período de sete dias". Aqui, a Torá nos ordena a realizar, em Sucot, a mitsvá de pegar as Quatro Espécies (arba minim), que são "os frutos de uma bela árvore" (etrog, um certo tipo de fruta cítrica), "o galho de uma tamareira" (lulav), "os ramos de uma árvore entrelaçada" (hadassim, os galhos frondosos de uma murta) e "os salgueiros de um riacho" (aravot, os galhos frondosos de um salgueiro).

A obrigação básica é possuir um lulav, um etrog, três hadassim e duas aravot. A maneira ideal de realizar a mitsvá é: depois de unir o lulav, as hadassim e as aravot, pegar o conjunto com a mão direita, o etrog com a mão esquerda e balançá-los nas quatro direções cardinais, para cima e para baixo (veja Mishnaiot 3:8-9).

No Templo, a mitsvá se aplicava a todos os sete dias de Sucot (como o versículo conclui: um período de sete dias), mas, fora do Templo, a obrigação se aplicava apenas ao primeiro dia (conforme declarado no início do versículo: no primeiro dia). Depois que o Segundo Templo foi destruído, os Rabinos instituíram que a mitsvá fosse realizada em todos os lugares, em todos os dias do festival (exceto Shabat), para comemorar a prática no Templo (Mishná 3:12).

III. A cerimônia da Aravá

Além da mitsvá de pegar duas aravot (os ramos de um salgueiro) como parte das Quatro Espécies, havia outra mitsvá envolvendo aravot em Sucot. Todos os dias, os Cohanim pegavam longas aravot, as balançavam, andavam em volta do Altar, segurando-as, e depois as colocavam encostadas nas laterais do Altar (Rashi 43b). Nos primeiros seis dias de Sucot, eles percorriam o Altar uma vez e, no sétimo dia, percorriam sete vezes (Mishná 4:5). Essa mitsvá não está escrita explicitamente na Torá, mas foi ensinada a Moshé no Monte Sinai e, depois, passada oralmente de uma geração para a seguinte.

Os profetas estabeleceram o costume de pegar as aravot no sétimo dia de Sucot, mesmo fora do Templo, e bater com elas no chão (Rambam, Hilchot Lulav 7:22). Essa prática é observada ainda hoje.

IV. Derramar água no altar

Todos os dias de Sucot, quando a oferta tamid da manhã era oferecida, um Cohen despejava certa quantidade de água retirada de uma nascente em um vaso no Altar. A água escorria através de um buraco no fundo do vaso para o topo do Altar e dali para um cano que descia para uma cavidade subterrânea profunda (Rashi 48b). Essa mitsvá, chamada de nissuch hamaim (derramamento da água), também foi ensinada a Moshé no Monte Sinai e transmitida oralmente através das gerações (Guemará 34a).

A água para a mitsvá era retirada de uma fonte natural em Shiloach, muito cedo pela manhã, antes do amanhecer (Mishná 4:9). Todas as noites de Chol HaMoed (exceto sexta-feira à noite), grandes festas eram realizadas no Pátio das Mulheres, no Templo, em preparação para a retirada da água (Rashi 50a). Homens piedosos cantavam e dançavam a noite toda, acompanhando a música tocada pelos Leviim (Mishná 5:4). Esta celebração é chamada de Simchat Beit HaShoevá (A Alegria da Casa da Extração). Diz-se que "Quem nunca viu a Simchat Beit HaShoevá nunca se alegrou em sua vida" (Mishná 5:1). No final da celebração, os Cohanim faziam uma caminhada, acompanhados de outras pessoas, até a nascente de Shiloach, tiravam a água e a traziam ao Templo para a mitsvá de nissuch hamaim (Mishná 5:4).

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· MISHNÁ - TRATADO SHECALIM

O assunto principal do Tratado Shecalim é o imposto individual de meio shekel que cada judeu era obrigado a pagar anualmente ao Templo, quando este estava de pé, para financiar as oferendas (em hebraico, corban; no plural corbanot) comunitárias trazidas todos os dias, bem como em ocasiões especiais. A contribuição do meio shekel é uma mitsvá ordenada pela Lei da Torá.

mitsvá do meio shekel

As oferendas (corbanot) que eram levadas ao Templo podiam ser particulares ou comunitárias. Ofertas comunitárias são aquelas trazidas em nome da Nação como um todo. Exemplos disso são as ofertas diárias tamid (um cordeiro de manhã e outro à tarde) e as ofertas mussaf de Rosh Chodesh, Shabat e Festividades.

Por serem ofertas comunitárias, elas devem ser pagas pela comunidade. Elas não são financiadas por doações esporádicas e voluntárias particulares; ao contrário, a Torá exige que todo homem Judeu tenha uma participação igual nessas ofertas comunitárias. Para cumprir esse objetivo, a Torá ordena que cada Judeu contribua com um valor fixo e igual - meio shekel -, uma vez por ano, para um fundo especial do Templo [conhecido como lishcá; literalmente, Câmara]. Esse dinheiro era então usado para comprar animais e outros itens necessários às ofertas comunitárias.

A exigência de dar o meio shekel é ensinada na seguinte passagem da Torá (Shemot 30:11-16):

Hashem falou a Moshé, dizendo: Quando você fizer um censo dos Filhos de Israel, de acordo com os números deles, cada homem deve dar a Hashem uma expiação por sua alma quando for contado, para que não haja uma praga entre eles quando forem contados. Isso eles devem dar - cada um que passar pelo censo - meio shekel, do shekel sagrado que é 20 guerás, meio shekel como uma porção sagrada para Hashem. Todos que passarem pelo censo, a partir de 20 anos para cima, devem dar a porção sagrada de Hashem. O rico não pode dar mais, nem o destituído de riqueza pode dar menos do que meio shekel - dar a porção sagrada de Hashem para expiar por suas almas.

Embora esses versos pareçam se referir à obrigação do meio shekel apenas com o objetivo de fazer um censo, eles também incluem um mandamento de contribuir com o fundo do Templo destinado à compra das ofertas comunitárias. Isso é visto na frase, o rico não pode dar mais, nem o destituído de riqueza pode dar menos do que meio shekel .... para expiar por suas almas, o que é entendido pelos Sábios como uma referência à expiação obtida pelas ofertas comunitárias. Uma vez que elas servem como expiação, todos os Judeus devem ter uma parte igual nelas (ver Guemará 2b; Rashi em Shemot ibid. v. 16; Ramban ali no v. 12; Sefer HaChinuch 105).

A cada ano, a partir do primeiro dia do mês de Nissan, todas as ofertas comunitárias deveriam vir dos novos shecalim coletados para aquele ano. Isto é mencionado no verso (Bamidbar 28:14):

Esta é a olá de cada mês em sua renovação, para os meses do ano. Os Sábios entendem que isso significa: renovem as ofertas uma vez por ano, trazendo as oferendas comunitárias dos shecalim recém-coletados para aquele ano. Como Nissan é chamado de o primeiro mês do ano (Shemot 12:2), a "renovação" mencionada no versículo começa no primeiro dia desse mês. Para tornar isso possível, os shecalim eram coletados no mês de Adar, para que pudessem ser usados para comprar as novas ofertas a partir de Nissan (ver Mishná 1:1 e Rosh Hashaná 7a).

Como todos tinham de contribuir, muitos milhares de shecalim eram coletados. Nem todos eram gastos de uma só vez. Três vezes por ano, grandes quantias eram retiradas do fundo principal para pagar a compra de ofertas para a próxima parte do ano (ver Capítulo 3). Como os shecalim de todos estavam reunidos no mesmo "cofre", o dinheiro retirado era considerado pertencente a todos, mesmo aqueles cujas moedas não eram realmente usadas.

Todos os homens Judeus são obrigados a pagar o imposto de meio shekel anualmente, sejam Cohanim, Leviim, Israelim, Convertidos ou escravos libertados. Mulheres e menores são isentos, pois o versículo (citado acima) específica todo homem.

A obrigação de pagar o meio shekel não se aplica apenas aos Judeus que vivem na Terra de Israel, mas também àqueles que vivem fora dela. Na época do Segundo Templo, quando muitos Judeus não viviam em Israel, boa parte dos shecalim doados de fora da Terra não conseguia chegar ao Templo até o início do mês de Nissan. No entanto, os moradores da diáspora tinham participação nas ofertas comunitárias daquele dia em diante, da mesma maneira que os que moravam na Terra de Israel. Para resolver essa questão, os oficiais do Templo tinham a intenção de que a retirada inicial de moedas do fundo servisse não apenas em nome daqueles cujos shecalim já estavam na Câmara, mas também em nome daqueles cujos shecalim estavam a caminho - e mesmo em nome daqueles cujos shecalim ainda não haviam sido coletados (Mishná 3:4). Desse modo, três retiradas de dinheiro eram realizadas em diferentes épocas do ano, para garantir que mesmo os shecalim enviados da diáspora pudessem ser usados para comprar as ofertas.

Embora a mitsvá do meio shekel fosse obrigatória apenas no momento em que o Templo estava de pé (Mishná 8:8), sua observância ainda é comemorada nos dias atuais, com o costume de contribuir com metade da atual unidade monetária a uma instituição de caridade em Adar, na véspera de Purim, antes da leitura da Meguilá (Remá, Orach Chaim 694:1).

II. O Fundo do Templo

A Mishná e os comentários deste Tratado farão repetidas referências a certos fundos do Templo. Os dois mais comuns são: o lishcá (e a terumat halishcá) e o fundo para a manutenção do templo.

lishcá é o fundo no qual as contribuições de meio shekel eram coletadas. Era usado para pagar as ofertas comunitárias. Como mencionado acima, uma parte das moedas desse fundo era periodicamente retirada para comprar as ofertas, e esse dinheiro era conhecido como terumat halishcá.

O dinheiro dessa conta também era usado para despesas gerais relacionadas ao Serviço do Templo, como o salário de estudiosos que ensinavam os Cohanim a executar os diferentes Serviços do Templo (Guemará 10b, Ketubot 106a-b; Rambam, Hilchot Shecalim 4:4-7). O dinheiro excedente desse fundo era gasto em outras necessidades do Templo (veja Mishná 4:2-4).

Há outro fundo importante do Templo, separado e distinto do fundo de meio shekel. Este era o fundo usado para a manutenção do Templo, para pagar seus reparos. Esse fundo não era financiado por nenhum imposto obrigatório. Em vez disso, as pessoas doavam voluntariamente, dando dinheiro, material adequado para uso na manutenção do Templo ou itens que poderiam ser vendidos pelo tesoureiro do Templo para pagar pelos reparos.

III. O meio shekel da Torá e o shekel da Mishná

shekel da Torá tinha o valor de quatro dinares, portanto, o meio shekel era igual a dois dinares. Na Mishná, no entanto, o termo "shekel" refere-se a uma moeda que valia justamente dois dinares, enquanto a moeda de quatro dinares é chamada de "sela" (ver, por exemplo, Shevuot 6:7).

Ramban (Shemot 30:13) explica que, quando as pessoas se acostumaram a pagar o imposto anual, começaram a se referir a ele como "pagamento do shekel" e isso, por sua vez, levou-as a chamar a moeda usada para esse pagamento de shekel (apesar de, na verdade, ser meio shekel). Ele sugere ainda que, na época do Segundo Templo, uma moeda especial foi cunhada para uso no pagamento desse imposto, e essa moeda recebeu o nome de shekel. A partir desse momento, a moeda de um shekel, de acordo com a Torá, começou a ser chamada de sela.

De qualquer forma, em todo este Tratado, a Mishná e a Guemará falam de "dar o shekel", em vez de "dar o meio shekel", pois isso refletia o uso comum do termo na época do Segundo Templo. Nossos comentários seguirão esse uso e falarão sempre em "dar um shekel", em vez de "meio shekel".

IV. Tratado Shecalim

A segunda metade deste Tratado discute a estrutura administrativa do Templo, o sistema usado para pagar pelas muitas ofertas particulares trazidas diariamente ao Templo, as regras para lidar com o dinheiro encontrado no Templo, bem como em Jerusalém, e outros aspectos do seu funcionamento.

Logicamente, o assunto deste Tratado parece pertencer ao Seder Codashim, que discute os procedimentos do Templo. No entanto, como o meio shekel era coletado em uma data fixa a cada ano, para cumprir com o requisito de "renovar" o Serviço do Templo anualmente (ver seção I), suas Leis foram reunidas no Seder Moêd, que trata dos mandamentos que estão relacionados com o calendário (Meiri, Introdução de Brachot). Como o tempo determinado para doar o meio shekel - o mês de Adar - fica bem próximo de Pessach, este Tratado foi colocado próximo ao Tratado Pessachim (Rav Sherira Gaon, citado por Tossafot Iom Tov; cf. Rambam citado lá).

O Tratado Shecalim é o único entre os tratados no Seder Moêd que não possui Guemará no Talmud Bavli. Por esta razão, o Ierushalmi é aceito como a Guemará padrão para este Tratado. Durante séculos, Shecalim esteve ligado ao Talmud Bavli, e o estudo do Bavli é considerado incompleto se não incluir este Tratado.

Infelizmente, por causa dos nossos pecados, não há Templo hoje em dia para dar as ofertas comunitárias que nos trazem tanta expiação. Portanto, não há razão para dar o meio shekel (Mishná 8:8). Esperamos ansiosamente o momento em que Hashem, em Sua abundante misericórdia, restaure o Templo para nós, para que possamos levar novamente as ofertas e contribuir com nosso meio shekel para compartilharmos delas.

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· MISHNÁ - TRATADO SHABAT

A Torá ordena ao povo Judeu que observe o Shabat de duas maneiras: 1) declarando que o Dia é sagrado, o que é cumprido recitando as orações de Shabat e fazendo o Kidush; 2) e abstendo-se de ?trabalho?. No entanto, a Torá não diz explicitamente o que "trabalho" significa neste contexto. A definição desse termo aqui no contexto de Shabat é extraída pelos Sábios do trecho Shemot (35:1-4), no qual a Torá repete a proibição de realizar trabalho imediatamente antes de descrever a construção do Mishcán. Ao mencionar esses dois assuntos juntos, a Torá sugere que os trabalhos proibidos no Shabat são aqueles necessários para a construção do Mishcán e seu conteúdo (Guemará 49b com Rashi).

I. As trinta e nove categorias de trabalhos proibidos

A expressão que a Mishná utiliza para os trabalhos proibidos no Shabat é melachá. A Mishná 7:2 lista os trabalhos realizados para a construção do Mishcán e o total deles é trinta e nove. Essas trinta e nove melachot (plural de melachá) são na verdade trinta e nove categorias de trabalho. Atividades semelhantes a um desses trinta e nove trabalhos também são proibidas.

A. Avot (trabalhos primários) e Toladot (trabalhos derivados dos primeiros)

Como os trinta e nove trabalhos listados na Mishná são a fonte de todas as atividades proibidas no Shabat, eles são conhecidos como avot melachot, trabalhos primários, ou simplesmente avot (no singular, av). Atividades proibidas por serem semelhantes a um desses trinta e nove trabalhos são conhecidas como toladot, trabalhos derivados (singular, toladá). As toladot também são proibidas pela Torá e quem as executa está sujeito às mesmas penalidades que quem faz uma das avot melachot.

Por exemplo, a primeira das trinta e nove avot melachot é plantar. Essa é uma categoria de trabalho que inclui não apenas plantar uma semente ou raiz no solo, mas também outras atividades que fazem com que a vegetação cresça, como regar uma planta ou mergulhar grãos na água. Essas duas últimas atividades são toladot da melachá de plantar (Rambam, Hilchot Shabat 8:2).

B. Responsável e Isento

Além das melachot da Torá, os Rabinos emitiram muitos Decretos destinados a impedir que as pessoas chegassem a violar umas das Leis da Torá. Geralmente, a Mishná distingue entre proibições da Torá e aquelas de origem Rabínica usando os termos responsável e isento. Quem realiza uma melachá da Torá inadvertidamente (veja abaixo) no Shabat é "responsável" por levar uma oferenda (um corban) do tipo chatat ao Templo para expiar por sua transgressão, enquanto alguém que inadvertidamente transgride uma proibição Rabínica está "isento" de levar uma oferenda (corban). Portanto, onde a Mishná declara, com relação às Leis do Shabat, que aquele que pratica um determinado ato é responsável, isso significa que o ato é proibido pela Lei da Torá. Onde a Mishná declara que o autor é isento, significa que ele está isento de ter de levar uma oferenda chatat ao Templo, mas, no entanto, o ato é Rabinicamente proibido. Em relação a um ato que é permitido, mesmo de acordo com a Lei Rabínica, a Mishná declara tal ação permitida.

C. Transgressões inadvertidas e deliberadas

Quem pratica uma melachá no Shabat comete uma infração capital punível com apedrejamento. Como em todos os casos de pena de morte, não se é culpado, a menos que a pessoa tenha agido de maneira deliberada, com intenção, ou seja, ela sabia que aquela ação é proibida pela Torá. Além disso, ela não é executada, a menos que tenha pecado na presença de duas testemunhas qualificadas, imediatamente depois que a alertaram de que o ato é proibido e qual castigo a Torá prescreve. Se alguma dessas condições não for atendida, a pessoa não será executada por um tribunal humano; nesse caso, ela está sujeita à punição de caret, que é imposta pela Corte Celestial.

Uma pessoa que faz uma melachá inadvertidamente, não é passível de pena de morte ou de caret, mas deve trazer uma oferenda chatat para reparar pelos seus erros. Uma transgressão inadvertida é aquela que foi feita por ignorância: ou o autor não sabia que o ato é proibido, ou ele não sabia (ou se esqueceu) que o dia é Shabat.

II. Trabalho calculado

Existe um princípio amplo, que é exclusivo das Leis de Shabat: a Torá proíbe [somente] um trabalho calculado. Isso também é derivado da construção do Mishcán. A Torá descreve Betsalel, o principal artesão e encarregado pelo Mishcán, da seguinte maneira (Shemot 35:31-33): E Ele [D'us] o encheu com o espírito de D'us, em sabedoria, em perspicácia, em conhecimento e em toda arte ..... para fazer todo tipo de trabalho calculado. Os Sábios inferem dessas palavras que uma pessoa não é culpada, sob a Lei da Torá, de fazer uma melachá no Shabat, a menos que seja "calculada". Dois conceitos estão implícitos aqui: intenção e criação. O conceito de intenção exige que o ato seja planejado e que o plano seja realizado. O conceito de criação implica que o trabalho seja criativo ou faça parte de um processo criativo.

O princípio "a Torá proibiu [apenas] o trabalho calculado" é um sistema amplo e complexo que leva a essas regras secundárias:

A. Um ato inconsciente

Quando uma pessoa faz algo acidentalmente, sem nenhuma intenção de fazê-lo e sem nem mesmo perceber que isso poderia ocorrer, o ato é chamado de inconsciente. Como o ato foi um acidente, ela não é considerada pecadora. Um exemplo seria alguém que se propusesse a cortar um vegetal que já havia sido colhido, mas sua mão escorregou e ele arrancou um vegetal diferente, que ainda estava crescendo, realizando, sem querer, a melachá de colher.

B. Um ato não intencional

Quando uma pessoa faz uma ação permitida e, como resultado, também ocorre um segundo ato proibido, o segundo ato é chamado de um ato não intencional. Ao contrário do ato involuntário mencionado acima, a pessoa, nesse caso, percebe que o ato proibido pode ocorrer, mas não tem intenção de fazê-lo. Por exemplo, ela arrasta uma cadeira pelo chão de forma que possa fazer um sulco na terra, que é a melachá de arar. Embora ela esteja certa de que pode fazer um sulco, ela não pretende fazê-lo; sua única intenção é mover a cadeira de um lugar para outro. Assim, mesmo que um sulco resulte de sua ação, seu ato de arar não é intencional. Ela está, portanto, isenta de responsabilidade sob a Lei da Torá. Os Tanaim discordam se tal ato é permitido de acordo com a Lei Rabínica ou não. Rabi Iehudá sustenta que é proibido Rabinicamente, uma vez que a pessoa percebe que uma melachá pode ocorrer como resultado de sua ação. De acordo com Rabi Shimon, no entanto, o ato é completamente permitido, pois ela não pretendia que a melachá ocorresse.

Resultado inevitável

A disputa anterior se aplica sempre que é possível, mas não há certeza, de que o ato proibido irá ocorrer. Se o ato, com certeza, resultar em uma melachá, é proibido, mesmo de acordo com Rabi Shimon. Por exemplo, Rabi Shimon concordaria que é proibido arrastar uma cadeira pesada por um terreno macio, pois, nesse caso, certamente será feito um sulco. Esse tipo de situação é conhecido como alguém pode cortar a cabeça e não morrerá? A analogia é feita pela situação em que alguém corta a cabeça de uma galinha para uma criança brincar de bola. A ação, inevitavelmente, causará a morte do animal, apesar de a pessoa ter apenas a intenção de "fazer um brinquedo".

C. Um ato destrutivo

Um trabalho destrutivo não é considerado uma melachá e uma pessoa não é culpada pela Lei da Torá por fazê-lo (embora seja proibido Rabinicamente). Assim, por exemplo, embora acender uma fogueira seja uma melachá, uma pessoa não é responsável sob a Lei da Torá por destruir algo ao colocá-lo em chamas. Em algumas circunstâncias, no entanto, a destruição é uma preparação necessária para algo construtivo, como demolir uma estrutura para construir uma nova em seu lugar ou apagar a escrita para escrever outra coisa naquele espaço. Nesses casos, o ato destrutivo é considerado uma melachá, porque faz parte de um projeto criativo.

D. Um ato realizado de maneira incomum

Uma pessoa não é culpada pela Lei da Torá por fazer uma melachá de maneira significativamente diferente do modo normal de se realizar esse ato (embora isso também seja proibido Rabinicamente). Todo o tempo em que a mudança for significativa, essa ação não se enquadrará na definição da Torá de melachá. Se, por exemplo, uma pessoa destra escrever com a mão esquerda, ela não é responsável pela melachá de escrever. Esse tipo de ação é chamado de mudança ou com a outra mão.

E. Um trabalho não necessário para seu objetivo definido

Uma melachá tem um propósito definido (como será explicado abaixo). Há uma questão discutida entre os Tanaim se alguém que realiza uma melachá é responsável, sob a Lei da Torá, somente se o fizer para seu propósito definido ou também se o fizer por algum outro motivo. Esse assunto é objeto de uma disputa entre Rabi Iehudá e Rabi Shimon. Rabi Iehudá sustenta que um trabalho não necessário (não feito) para a sua função (objetivo) definida é uma melachá da Torá, enquanto Rabi Shimon sustenta que não é. Todos concordam, no entanto, que é proibido Rabinicamente.

Os Rishonim diferem quanto ao significado de "propósito definido" de uma melachá:

(1) De acordo com Tossafot (94a), Rabi Shimon sustenta que um trabalho é uma melachá proibida pela Torá somente quando é realizado para atingir um objetivo semelhante àquele para o qual foi feito originalmente no Mishcán. Por exemplo, na construção do Mishcán, as vigas das paredes do Mishcán eram transferidas de um domínio privado (as carroças em que eram transportadas) para um domínio público (o local onde o Mishcán foi erguido). O objetivo desse ato era transportar as vigas para um local onde elas eram necessárias. Portanto, o "propósito definido" da melachá de transferir [de um domínio para outro], é mover um objeto para o domínio em que ele é necessário. Quem transfere um objeto para outro domínio apenas para removê-lo de seu local anterior não é culpado pela Lei da Torá. Embora isso também possa ser construtivo, e até necessário, não é o "propósito definido" dessa melachá (isto é, não é o propósito para o qual essa melachá era feita no Mishcán). Por esse motivo, quem carrega um cadáver de uma casa para um domínio público está isento de responsabilidade pela Lei da Torá, de acordo com Rabi Shimon. Isso ocorre porque não há utilidade nenhuma em colocar o cadáver no domínio público; seu objetivo é apenas removê-lo da casa.

(2) Rashi (93b), no entanto, sustenta que o ?propósito definido? de um trabalho para Rabi Shimon não é somente aquele semelhante ao qual foi realizado na construção do Mishcán. Além disso, refere-se a qualquer propósito positivo que seja a essência da melachá. Assim, de acordo com essa visão sobre a opinião de Rabi Shimon, a pessoa não é responsável por fazer uma melachá, a menos que a faça por um propósito positivo, e não apenas para evitar uma situação negativa. Se uma pessoa carregar algo de um domínio para outro porque o deseja no segundo domínio, ela é responsável por ter realizado a melachá com o objetivo positivo de levar o item ao local onde ela o deseja. Mas se pretende apenas remover o item do primeiro domínio (como no caso de tirar um cadáver de uma casa), Rabi Shimon determinaria que ela não é responsável, uma vez que a melachá foi feita por uma razão puramente negativa.

III. Restrições adicionais no Shabat

Além da proibição básica da Torá de realizar melachá no Shabat, há várias outras restrições no Shabat que derivam de versículos da Torá. Embora a maioria dessas restrições tenha também a força de Lei da Torá, elas não são tão severas quanto as trinta e nove melachot (aquele que viola essas restrições adicionais não incorre em apedrejamento ou caret, e alguém que as viola inadvertidamente não precisa trazer um corban chatat). Essas restrições adicionais incluem o seguinte:

A. Guiar um animal

É proibido pela Lei da Torá uma pessoa realizar uma melachá junto com um animal. Essa proibição é derivada do versículo (Shemot 20:10): Você não deve realizar nenhum trabalho - você .... e o seu animal. A linguagem do verso implica em um caso em que a pessoa e o animal realizam juntos uma melachá proibida (Talmud Bavli 153b; veja Rashi lá). O exemplo clássico é uma pessoa guiando um animal que carrega uma carga.

Embora essa proibição inclua qualquer trabalho proibido realizado em conjunto com um animal, é geralmente chamada de guiando um animal carregado.

B. O descanso do animal

A Torá também proíbe quem possui um animal de deixá-lo fazer uma melachá sozinho. Assim, não se pode permitir que seu animal saia no Shabat carregando uma carga. Alguns dizem que essa Lei é derivada do verso (Devarim 5:14; ver também Shemot 20:10): Você não deve fazer qualquer trabalho - você ..... e todos os seus animais (veja Rashi em Avodá Zará 15a). Outros, no entanto, sustentam que esse versículo proíbe apenas guiar um animal carregado (como discutido acima). Na opinião deles, a fonte da proibição de deixar o animal executar uma melachá por si só no Shabat é o Mandamento positivo (Shemot 23:12): e no sétimo dia você desistirá (do trabalho) para que seu boi e seu burro fiquem relaxados (Tossafot 51b).

C. O descanso do filho

A Torá (Shemot 20:10) declara: Você não deve realizar nenhum trabalho - você, seu filho, sua filha.... Isso ensina que um pai ou mãe não pode permitir que seu filho realize qualquer melachá proibida no Shabat, para benefício dos pais. Mesmo que um filho decida por si próprio realizar uma melachá para o benefício dos pais, eles são obrigados a impedir que ele o faça.

Essa Lei se aplica até mesmo a crianças menores da idade de bat ou bar mitsvá (12 anos para garotas e 13 anos para garotos), sobre as quais começa a obrigação de chinuch (educar o filho a observar as Leis da Torá) (veja Tossafot 121a).

D. Techum - a fronteira do Shabat

No Shabat, uma pessoa é Rabinicamente proibida de ir além de 2.000 amot de sua residência. Esse limite é conhecido como techum do Shabat (fronteira do Shabat), ou simplesmente techum. Essa proibição também é extraída de um verso da Torá (veja Eruvin 51a); no entanto, ao contrário das restrições listadas acima, essa proibição é de origem Rabínica. A derivação de um verso é meramente um asmachta, isto é, uma fonte na Torá que sugere uma Lei Rabínica (Rashi, Shabat 34a).

techum de uma pessoa é medido a partir de sua residência, que é definida como o local em que ela estava quando o Shabat começou. Se ela estava em uma cidade, o techum é medido a partir dos limites da cidade; se ela estava em uma casa isolada, o techum é medido a partir de suas paredes externas, e se ela estava em campo aberto, sua "residência" se estende por quatro amot, nas quatro direções, e o techum é medido a partir do fim dessa área.

Uma pessoa pode mudar seu "local de residência" haláchico - e, portanto, seu techum - antes do Shabat ou Iom Tov, por meio de eruvei techumim. Faz-se isso colocando comida em um local até 2.000 amot de sua residência atual. Com relação às Leis de techum, sua casa é transferida para esse local e o techum se estende por 2.000 amot a partir dali. Isso não lhe dá mais do que o limite de 2.000 amot; apenas muda o ponto a partir do qual é medido. Assim, tudo o que ele ganha em uma direção vem em detrimento à direção oposta.

IV. Decretos Rabínicos especiais

Além das Leis Rabínicas que proíbem atos que se assemelhem às proibições da Torá (e que podem, portanto, levar à violação das Leis da Torá, com as suas sérias consequências), os Rabinos fizeram outras Leis para reforçar o conceito de descanso no Shabat e para aumentar a santidade do Dia.

Eles o fizeram porque, mesmo uma pessoa que evitou todas as melachot, ainda poderia, teoricamente, trabalhar o Shabat inteiro, como faz todos os dias da semana, o que acabaria zombando do conceito de Shabat como um dia de descanso e santidade. Por exemplo, não há proibição da Torá de carregar mercadorias e trazê-las ao mercado (se isso for feito dentro de uma área murada e, assim, a melachá de transferência não for realizada). Tampouco existe uma proibição da Torá contra pesar, medir e empacotar; comprar e vender; pagar e receber dinheiro ou contratar trabalhadores. Em resumo, muitas das principais atividades de negócios seriam admissíveis, simplesmente sob a ótica da Lei da Torá. Os Rabinos, portanto, promulgaram numerosos Decretos para garantir que o Shabat fosse observado com o espírito apropriado. Embora as Leis individuais sejam Rabínicas, quando tomadas em conjunto, servem para cumprir o Mandamento da Torá de descansar no Shabat (Ramban, Vaicrá 23:24; Rambam, Hilchot Shabat 21:1, veja Maguid Mishne lá).

A. Muctsê

Um assunto que aparece em todo este Tratado é a Lei de muctsê. O termo muctsê (literalmente, colocado de lado), refere-se a objetos que, no curso normal dos eventos, não devem ser usados no Shabat: seja porque não estavam aptos para serem usados quando o Shabat começou ou porque eles não são permitidos de serem usados no Shabat ou porque uma pessoa os deixou de lado para não serem usados. Os Sábios decretaram que tais objetos não podem ser movidos no Shabat. Esse Decreto, embora Rabínico, remete aos dias de Nechemiá, no início da era do Segundo Templo (Shabat 123b).

Um objeto que era muctsê no início do Shabat permanece muctsê até o final do Dia, mesmo que a razão de ele ser muctsê deixe de existir por algum motivo. Por exemplo, as frutas que cresciam em uma árvore - que são muctsê porque não podem ser colhidas no Shabat - permanecem muctsê, mesmo depois de caírem da árvore.

Categorias de Muctsê:

Como explicado acima, muctsê é qualquer item que não foi "preparado" para uso antes do Shabat. Essa preparação, no entanto, não precisa ser ativa. Qualquer objeto que, no curso normal dos eventos, possa ser usado é considerado ?preparado? e pode ser manuseado e movimentado. Apenas objetos que, por um motivo ou outro, não possam ser utilizados no Shabat são considerados muctsê.

Vários fatores podem fazer com que um objeto seja considerado muctsê. Estas são algumas das principais categorias:

(1), muctsê por conta de sua própria natureza: essa categoria consiste de itens que não são alimentos nem utensílios; exemplos são pedras, dinheiro e animais.

(2) muctsê por causa de perda monetária: refere-se a utensílios cuja função principal não é normalmente executada no Shabat e cujo proprietário não permite que eles sejam usados para qualquer outra coisa porque são valiosos e receia que eles possam ser danificados. Por exemplo, o bisturi de um cirurgião: como essa ferramenta deve ser mantida em perfeitas condições, o proprietário não permitiria que ela fosse usada para nada além de seu objetivo principal (como, por exemplo, para cortar alimentos).

(3) um utensílio usado para trabalhos proibidos no Shabat: esse grupo consiste em utensílios feitos para serem usados em uma atividade proibida no Shabat, mas podem ser usados para atividades permitidas. [Por exemplo, um martelo é feito para ser usado na construção (uma atividade proibida), mas, às vezes, é utilizado para quebrar nozes (uma atividade permitida)]. Como esses itens podem ser usados para muitas funções, sem serem danificados, eles não são muctsê por medo de uma perda monetária e suas restrições como muctsê no Shabat são mais leves. Pode-se movê-los para usá-los em uma atividade permitida no Shabat, ou porque precisamos do espaço que eles estão ocupando, mas não se pode movê-los para benefício do próprio objeto, como, por exemplo, para tirá-los do sol ou para protegê-los contra roubo.

(4) uma base para um objeto muctsê: este é um item que não é muctsê por si só, mas está sendo usado para segurar ou apoiar algo que é muctsê; por exemplo, uma cama na qual foi colocado dinheiro. A "base" que suporta o objeto proibido é considerada como o próprio muctsê e permanece assim (pelo resto do Dia), mesmo após a remoção do item do muctsê.

(5) nolad (literalmente, nascido): nolad se refere a algo que se tornou utilizável pela primeira vez no próprio Shabat. Obviamente, esses itens não podem ser considerados "preparados" antes de o Dia começar.

B. Atividades dos dias de semana

Os Rabinos proibiram qualquer atividade que seja essencialmente uma atividade feita especificamente durante a semana. Obviamente, essa proibição não proíbe todas as atividades realizadas durante a semana. A proibição se aplica apenas a atividades que os Rabinos baniram. Elas geralmente se enquadram em uma de três categorias:

(1) Atividades semelhantes a uma melachá. Elas são proibidas não porque podem levar a uma melachá, mas porque têm alguma semelhança com uma. [Um exemplo é esticar um coador de tecido por cima de um recipiente, o que é proibido porque se parece, de algum modo, com a construção de um telhado (Mishná 20:1)].

(2) Atividades que podem levar a uma melachá. Essas são atividades que fazem parte de um processo que inclui uma melachá.

(3) Atividades que prejudicam o espírito do Shabat, porque envolvem esforços desnecessários ou excessivos ou porque fazem com que o Shabat pareça um dia comum. Essa categoria é a forma mais comum de "atividades proibidas dos dias da semana".

C. Perseguindo Seus Negócios e Falando Palavras

O profeta Ieshaiahu nos diz para honrar o Shabat "evitando seguir seus assuntos [dos dias de semana] e falando palavras [proibidas]" (Ieshaiahu 58:13). A primeira parte, de seguir seus assuntos, exige que a pessoa evite se envolver em seus assuntos relacionados aos dias da semana, mesmo que nenhuma melachá esteja envolvida. Por esse motivo, os Rabinos proibiram transações comerciais no Shabat (Rashi, Beitsá 36a). Eles também proibiram todas as atividades relacionadas a essas transações, como pesar, medir ou contar quantidades precisas de produtos ou outras mercadorias (Ramban, Vaicrá 23:24). A leitura de documentos de negócios foi incluída nessa proibição (Mishná 23:2), assim como fazer arranjos ou preparativos para atividades proibidas enquanto ainda é Shabat (ver Mishná 23:3).

Com base na cláusula e falar palavras, os Rabinos proibiram a discussão de planos para realizar após o Shabat de qualquer atividade que seja proibida no próprio Shabat. Eles também proibiram falar sobre negócios e fazer cálculos financeiros.

D. Pedindo a um não Judeu (para executar uma melachá para um Judeu)

É proibido, por Decreto Rabínico, pedir a um não Judeu que faça em favor de um Judeu

qualquer atividade que o próprio Judeu estivesse proibido de fazer, seja da Torá ou mesmo Rabínica. De acordo com o Rashi (Avodá Zará 15a), essa proibição também se baseia no aviso do profeta contra falar palavras.

Além disso, é proibido se beneficiar de uma melachá feita por um não Judeu para um Judeu, independentemente se o não Judeu foi instruído por um Judeu a fazer a melachá ou se ele a fez por conta própria. Beneficiar-se do trabalho de um não Judeu é proibido, não apenas durante o Shabat, mas mesmo depois do Shabat, sendo necessário, para tirar proveito do ato, esperar o tempo que leva para fazer tal atividade. Dessa maneira, não se obtém nenhuma vantagem com a atividade proibida que o não Judeu realizou no Shabat.

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A Melachá de Transferir de um Domínio para outro

Uma grande parte do Tratado Shabat lida com a melachá de transferir, que se refere a pegar um objeto de um domínio privado (isto é, fechado) para um domínio público, ou de um domínio público para um privado; ou carregando quatro amot em um domínio público. Essa melachá é comumente chamada de "carregar".

Os quatro domínios

(1) reshut haiachid, domínio privado: esta é uma área fechada que mede pelo menos quatro tefachim por quatro tefachim e tem paredes com pelo menos dez tefachim de altura. Pode estar situada no nível do solo (por exemplo, uma casa) ou abaixo do nível do solo (por exemplo, um poço).

Embora reshut haiachid signifique literalmente "domínio privado", não é necessário que ele tenha um proprietário particular. Mesmo um poste de uma rua pode ser um reshut haiachid, desde que possua as dimensões necessárias. O espaço aéreo acima do reshut haiachid está incluído no reshut haiachid.

(2) reshut harabim, domínio público: é uma área aberta, como uma rua, com pelo menos 16 amot de largura e usada pelo público. Um reshut harabim se estende para cima apenas até uma altura de dez tefachim. Acima disso, é uma "área isenta" (veja abaixo).

(3) carmelit: esta é uma área que não é um reshut harabim (não é usada pelo público ou tem menos de dezesseis amot de largura) nem um reshut haiachid (porque não possui paredes com dez tefachim de altura). No entanto, mede pelo menos quatro tefachim por quatro tefachim. Um exemplo comum é um campo aberto. O espaço aéreo acima de um carmelit se estende a uma altura de dez tefachim, além do qual é considerada uma "área isenta".

(4) mekom petur, área isenta: este é qualquer lugar que não seja um reshut harabim nem um reshut haiachid, mas também não possui as dimensões de quatro tefachim por quatro tefachim que o tornariam um carmelit. Como afirmado acima, o espaço aéreo a mais de dez tefachim acima de um reshut harabim ou acima de um carmelit também é "área isenta".

Proibições da Torá e Rabínica

Pela Lei da Torá, a melachá de transferir limita-se a mover um objeto entre um reshut haiachid e um reshut harabim (ou vice-versa); ou carregar um objeto por quatro amot dentro de um reshut harabim. Não é proibido, pela Torá, transferir um objeto entre um desses dois domínios e um carmelit ou uma "área isenta".

Os Rabinos, no entanto, decidiram que, uma vez que um carmelit se assemelha a um reshut harabim (é aberto) e um reshut haiachid (não é público), deve ser tratado com as restrições de ambos os domínios. Portanto, não se pode carregar um objeto quatro amot em um carmelit ou entre ele e um reshut haiachid (como se ele fosse um reshut harabim), nem se pode carregar entre um reshut harabim e um carmelit (como se ele fosse um reshut haiachid).

Essas restrições Rabínicas não se aplicam a uma "área isenta". É permitido transferir um objeto de qualquer outro domínio para uma "área isenta" e vice-versa.

Eruvei Chatserot

Nos tempos da Mishná, várias casas compartilhavam um pátio (chatser, plural, chatserot). Se um pátio for cercado por muros com dez tefachim de altura, é um reshut haiachid. Assim, deveria ser permitido transportar de uma casa para esse pátio e do pátio para as casas. Os Rabinos, no entanto, concordavam que, como o pátio é mais público do que as casas, ele tem alguma semelhança com um reshut harabim. Portanto, se fosse permitido transportar entre uma casa e um pátio, as pessoas poderiam ser levadas a acreditar que também é permitido transportar entre uma casa e um reshut harabim real. Para impedir que as pessoas cometessem esse erro, os Rabinos decretaram que o transporte entre uma casa e o pátio fosse proibido (ver Rambam, Hilchot Eruvin 1:4-5).

Juntamente com essas restrições, os Rabinos forneceram um procedimento pelo qual as restrições podem ser removidas. Este procedimento é chamado de eruvei chatserot (ou simplesmente eruv). Ele envolve coletar um pedaço de pão de todas as famílias do pátio e colocar todos os pães em uma das casas antes do Shabat. Isso simboliza que todos os moradores do pátio "residem" na casa que contém o pão. O pátio pode, então, ser visto como servindo apenas a uma casa (e não a várias) e não se parece mais com um reshut harabim. Consequentemente, a proibição Rabínica, que supunha que o pátio seria confundido com um reshut harabim, deixa de se aplicar.

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· MISHNÁ - TRATADO ROSH HASHANÁ

A festividade de Rosh Hashaná, que ocorre no primeiro dia do mês de Tishrei, é o primeiro dia do ano novo. É nessa data que D'us Se senta para julgar toda a humanidade e para decretar seu destino para o próximo ano (Mishná 1:2). E é nessa data que a Torá decreta que toquemos o shofar (Vaicrá 23:24, Bamidbar 29:1), para que sejamos lembrados favoravelmente quando formos julgados (Guemará 16a, 26a). Além disso, esta data marca a Criação do mundo e da humanidade (de acordo com uma opinião na Guemará, 10b).

No entanto, Rosh Hashaná não é o começo do ano em todos os contextos. Em algumas áreas da halachá, o ano novo começa realmente no primeiro de Tishrei, mas em outras áreas da halachá, o ano novo começa em uma data diferente, por exemplo, no dia 15 de Shevat (Tu B'Shevat) é o ano novo para as árvores, que é relevante para as Leis de tirar terumá e maasser do fruto das árvores (veja Mishná 1 e notas 8 e 9). Nosso tratado começa com uma lista de todos os diferentes "anos novos".

Depois de abordar o início dos anos, o tratado volta sua atenção para o início dos meses. Os meses do calendário Judaico são baseados nos ciclos da lua, com cada mês começando quando a lua se torna visível como um crescente estreito. Desde os tempos da Torá até os tempos da Mishná e mesmo depois, o início do mês - Rosh Chodesh - não era determinado por um calendário fixo. As pessoas que viam a primeira aparição da lua iam perante um Beit Din (um júri formado por ao menos três juízes, que eram membros do Alto San'hedrin, a mais alta Corte da terra) e contavam aos juízes o que tinham visto. Com base no depoimento das testemunhas, os juízes decidiriam se aquele dia seria ou não Rosh Chodesh. Cerca de metade deste tratado (Mishnaiot 1:3 a 3:1 e 4:4) é dedicada a esse assunto. Os dois capítulos finais deste tratado falam da festividade de Rosh Hashaná; especificamente, de suas duas características especiais - o toque do shofar e a oração prolongada de Mussaf.

O Calendário Judaico

Para entender as Leis de como o Beit Din estabelecia Rosh Chodesh, é necessária uma introdução.

O calendário secular usado no mundo ocidental baseia-se inteiramente no ciclo solar, o que significa que a duração do ano é igual ao tempo que leva para a Terra dar uma volta completa ao redor do sol, que é cerca de 365 dias e ¼. No entanto, a divisão do ano em doze meses (entre 28 e 31 dias) não se baseia em nenhum ciclo astronômico. Não há um evento natural que determine qual dia deve ser o primeiro do mês, ou mesmo que o ano deva ser dividido em doze unidades mensais em vez de cinco, quinze ou vinte. Este não é o caso do calendário Judaico, no qual os meses se baseiam no ciclo lunar, com cada mês correspondendo a uma volta da lua em torno da Terra. Doze desses "meses lunares" formam um ano.

O Ciclo Lunar

Conforme a lua se move em torno da Terra, ela acaba chegando a um ponto em que está exatamente entre a Terra e o sol. Essa posição é conhecida como ?conjunção? da lua e do sol, tendo como ponto de observação a partir da Terra. A duração de tempo entre essas conjunções é de 29 dias, 12 horas, 44 minutos e 3 segundos e Nossos Sábios não dividiram a hora em minutos e segundos, mas em chalakim (partes), dos quais há 1.080 em uma hora (cada chelek é igual a 3 segundos e ou 1/18 de um minuto). Assim, a duração da rotação da lua é de 29 dias, 12 horas e 793 chalakim (Guemará 25a; Rambam, Hilchot Kidush HaChodesh 6:3).

O momento preciso da conjunção, no qual a lua completa sua volta em torno da Terra para iniciar uma nova rotação, é chamado de molad halevaná (nascimento da lua) ou molad, para abreviar (Guemará 20b; Rambam, Hilchot Kidush HaChodesh 6:1). O período entre um molad e o próximo é a duração do mês.

Fases da Lua

Se a lua tivesse sua própria luz, ela sempre pareceria "cheia", como o Sol ou uma estrela. No entanto, a lua não tem luz própria; ao contrário, ela reflete a luz do sol (Rambam, Comentário a 20b; Zohar, Bereshit 135b, 249b; veja também Rabenu Bachya para Bamidbar 28:15 mais amplamente). Dependendo da posição da lua em relação ao sol e à Terra, ela nos aparece sob diferentes formas, variando de um crescente estreito a um círculo completo. Como explicado acima, a lua, em um ponto de seu ciclo (a conjunção ou molad) fica entre o sol e a Terra. Quando isso acontece, o lado da lua que sempre está voltado para a Terra não recebe nenhuma luz do sol, fazendo com que a lua fique totalmente invisível para nós. Algumas horas depois, ao sair de sua posição entre o sol e a Terra, a lua começa a refletir alguma luz solar em direção à Terra. Então, uma pequena parte da lua torna-se visível como um crescente muito estreito (veja Guemará 20b; Rambam, Hilchot Kidush HaChodesh 1:3, com Lechem Mishnê; Aruch HaShulchan HeAssid, Kidush HaChodesh 88:10-12).

Fatores adicionais

Parece que, com base no exposto acima, o mês Judaico deve sempre começar no momento de molad (conjunção) e sua duração deve ser um constante de 29 dias, 12 horas e 793 chalakim (29-12-793).

Nenhuma dessas condições, no entanto, é possível. Somos ordenados a estabelecer Rosh Chodesh baseados no avistamento [da lua] (Guemará 20a; Rambam, Kidush HaChodesh 5:1) e, como afirmado anteriormente, a lua não pode ser vista no momento de molad. Além disso, os meses não se iniciam em intervalos constantes de 29-12-793, porque a Torá ordena que os meses sejam compostos por dias inteiros, e não por frações de um dia; portanto, um mês não pode começar ou terminar no meio do dia (Meguilá 5a). Isso, portanto, impede nosso uso do momento de molad como início do mês.

A Mitsvá de Kidush HaChodesh

A Torá declara: Este mês será para vocês o primeiro dos meses (Shemot 12:2). Este versículo contém um mandamento para que a Corte cumpra Kidush HaChodesh (santificação do novo mês). Com base em certos fatores, o tribunal tinha de determinar qual dia seria Rosh Chodesh e depois declarar que aquele dia tinha a santidade de Rosh Chodesh (Rambam, Hilchot Kidush HaChodesh 1:7).

Essa obrigação se aplicava ao Alto San'hedrin de setenta e um juízes (a mais alta Corte da terra). No entanto, quaisquer três membros do Alto San'hedrin poderiam agir em nome de toda a Corte. Poderiam até nomear não membros para reivindicar Rosh Chodesh, desde que esses não membros também tivessem a devida ordenação (San'hedrin 2a; Rambam, Hilchot Kidush HaChodesh 1:5, 5:1).

Exceto em circunstâncias extraordinárias, a mitsvá de santificar Rosh Chodesh deveria ser realizada na Terra de Israel (Brachot 63a; Rambam, Hilchot Kidush HaChodesh 1:8). Para fazer sua determinação, o Beit Din (tribunal de três juízes nomeados para santificar Rosh Chodesh) contava com o testemunho de pessoas que alegassem ter visto a":lua nova", ou seja, o primeiro crescente visível da lua. Essas pessoas deveriam ser testemunhas elegíveis, aptas a testemunhar perante um tribunal. Depois de decidir que as testemunhas eram elegíveis e seu depoimento, confiável, o Beit Din santificava o dia e declarava Rosh Chodesh.

O Beit Din também contava com uma grande quantidade de outras informações astronômicas, incluindo o momento do molad, para verificar se as testemunhas estavam dizendo a verdade. Por exemplo, se as testemunhas afirmassem que viram a "lua nova" antes de molad, ou se a descrevessem como estando em uma posição que não fosse de acordo com os cálculos astronômicos, seu testemunho seria rejeitado (Mishná 2:6; Rambam, Hilchot Kidush HaChodesh 1:6, 2:4).

Se outras testemunhas depusessem no "30º dia" do mês que termina e seu testemunho fosse aceito, naquele dia seria declarado Rosh Chodesh. Assim, o mês anterior teve apenas 29 dias e foi chamado deficiente, porque teve menos do que o total 29-12-793 do ciclo lunar. Se as testemunhas não depusessem no 30º dia, o dia seguinte se tornaria, automaticamente, Rosh Chodesh, sem a declaração do Beit Din. Nesse caso, o mês anterior teve 30 dias e seria chamado de cheio (ou grávido), porque teve mais do que os 29-12-793 do ciclo lunar (veja Rambam, Hilchot Kidush HaChodesh 1:3 e 8:2).

Como Rosh Chodesh poderia cair em um dos dois dias, a mesma dúvida existia em relação a qualquer festividade que tivesse início em uma data específica naquele mês. Portanto, uma vez que o Beit Din tomasse sua decisão, eles informavam o povo de que poderiam celebrar as festividades nas datas apropriadas. As pessoas que moravam em lugares distantes, que não podiam ser informadas a tempo, tinham de celebrar Iom Tov por dois dias, pois não sabiam qual dos dois dias era realmente Iom Tov (Rambam, Hilchot Kidush HaChodesh 5:4-6).

O Calendário Fixo

Este método para determinar qual dia é Rosh Chodesh foi usado até o ano 4118 após a Criação (358 E.C.). Naquela época, a vida comunitária judaica na Terra de Israel estava em risco de colapso devido à perseguição estrangeira, e a própria instituição do San?hedrin estava em perigo. Rav Hilel II (descendente direto da 13ª geração de Hilel, o Ancião), que era o chefe do San'hedrin, estabeleceu o atual calendário judaico e encerrou o processo de santificação de Rosh Chodesh com base no avistamento da lua. Usando cálculos astronômicos e haláchicos, ele e sua Corte criaram o sistema em uso hoje e santificaram todos os Rosh Chodesh, até a vinda de Mashiach, quando a santificação baseada no avistamento da lua será restaurada (veja Ramban, Sefer HaZechut, Guitin, Cap. 4).

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· MISHNÁ - TRATADO PESSACHIM

Este tratado aborda as leis de Pessach, a festividade que comemora a redenção dos Judeus da escravidão no Egito. A redenção é a base da nossa fé, porque o povo Judeu realmente viu os milagres que Deus realizou para eles. Eles perceberam, assim, que Deus não apenas criou o universo, mas que Ele também controla a natureza e a usa para recompensar os inocentes e punir os culpados. A Torá declara que os Judeus daquela época deveriam ensinar essas lições a seus filhos, que deveriam ensiná-las aos filhos de seus filhos e assim por diante, através das gerações, até os dias de hoje. Assim, os eventos do Êxodo, que são celebrados em Pessach, continuam a inspirar a crença em Deus e em Sua supervisão sobre nossas vidas (Ramban sobre Shemot 13:16).

A Torá dedica mais mandamentos referentes a Pessach do que a qualquer outra festividade. Segundo Rambam (início de Hilchot Chamets U?Matsá e início de Hilchot Corban Pessach), nada menos do que vinte e quatro mandamentos são exclusivos de Pessach. Oito deles dizem respeito a chamets, matsá e contar a História do Êxodo (veja abaixo), e dezesseis dizem respeito à oferta de pessach (veja Introdução Geral, Parte II).

O nome deste tratado é Pessachim, no plural, porque foi dividido, nos tempos dos Gueonim, em dois tratados: um conhecido como Pessach Rishon (primeiro Pessach) e outro como Pessach Sheni (segundo Pessach). Pessach Rishon consistia dos primeiros quatro e do décimo capítulos do tratado, que abordam as leis que são aplicáveis até hoje, como a proibição de chamets e a exigência de comer matsá. Pessach Sheni se refere ao restante do tratado (Capítulos 5 a 9), que aborda as leis da oferta de pessach (veja Tossafot Iom Tov, em sua introdução ao tratado).

As leis de Chamets

Chamets é um grão que foi misturado com água e deixado fermentar antes de ser cozido.

Apenas cinco grãos - trigo, cevada, espelta, centeio e aveia - podem se tornar chamets. Em Pessach, não podemos comer chamets, obter qualquer outro benefício dele ou mesmo possuí-lo ou mantê-lo em nossas casas.

Omer

A Torá proíbe, de forma rigorosa, comer chamets em Pessach (Shemot 13:3), como está declarado: chamets não deve ser comido (Rambam, Hilchot Chamets U'Matsá 1:7). Quem violar conscientemente esta lei é punido com caret (Shemot 12:15,19). "Aquele que pecar inadvertidamente (ou não sabia que a comida era chamets ou não sabia que é proibido comer chamets) deve trazer uma oferta de chatat" (Kereitot 1:1-2).

A proibição da Torá de comer chamets começa, na verdade, em Erev Pessach (um dia antes de Pessach) no meio do dia, mas as penalidades de caret etc. aplicam-se apenas a quem comeu chamets no próprio Pessach (Guemará 28b). Sob a lei Rabínica, somos proibidos de comer chamets duas horas antes do meio do dia (Mishná 1:4, opinião de Rabi Iehudá).

Benefício

A Torá também proíbe ter outros tipos de benefício do chamets (além de comer); por exemplo, dá-lo como alimento para o animal de alguém ou vendê-lo a um não Judeu. No entanto, o pecado de se beneficiar do chamets não acarreta as punições listadas acima (Tossafot 21b). De acordo com a lei da Torá, tirar algum benefício do chamets é proibido a partir do meio do dia de Erev Pessach; de acordo com a lei Rabínica, é proibido uma hora antes (Mishná 1:4).

Posse de chamets

É proibido, pela Torá, ter chamets em casa (ou em outras instalações) em Pessach. Essa proibição é imposta por dois mandamentos: e chamets não será visto... em todas as suas fronteiras (Shemot 13:7) e Por um período de sete dias, massa fermentada não será encontrada em suas casas (12:19 lá). Com base nesses versículos, a proibição costuma ser chamada de para não ser visto e não ser encontrado.

Eliminação

É uma mitsvá positiva eliminar o chamets, como declara a Torá (Shemot 12:15): Mas, no primeiro dia, você deverá eliminar a massa fermentada de suas casas. Os Sábios ensinam que essa mitsvá deve ser realizada, no mais tardar, no meio do dia em Erev Pessach (Guemará 4b-5a). De acordo com o decreto Rabínico, o prazo é de uma hora antes do meio do dia.

Há duas maneiras de eliminar o chamets:

Procura e destruição. Deve-se procurar em todas as áreas onde o chamets pode ter sido trazido e destruí-lo fisicamente (Mishná 1:1).

Anulação. Decide-se, em sua mente e oralmente, que qualquer chamets em sua posse não tem valor ou utilidade, tornando-o legalmente nulo e sem efeito.

Pela Torá, qualquer um dos métodos é suficiente (Ran, pág. 1a). Os Rabinos, no entanto, exigem que usemos os dois métodos (veja a introdução ao Capítulo 1).

A Mitsvá de Matsá

Somos obrigados, pela Torá, a comer matsá na primeira noite de Pessach. Matsá é uma massa que foi assada antes que tivesse a chance de fermentar. Ela deve ser feita de uma das cinco espécies de grãos que podem se tornar chamets (trigo, cevada, espelta, centeio e aveia). Matsá só é adequada para a mitsvá se alguém a tenha impedido de se tornar chamets; além disso, ela deve ter sido guardada com a intenção de que fosse usada para a mitsvá (ver Mishná 2:5). Nos outros dias de Pessach, não é obrigatório, pela Torá, comer matsá, apenas proibido ingerir chamets (Guemará 120a).

A Oferta de Pessach

Como mencionado acima, os Capítulos 5 a 9 deste tratado abordam, principalmente, as leis do corban (oferenda) de pessach. A Torá ordena (Shemot 12: 6,8) que todo Judeu vá ao Templo e traga uma oferta de pessach no dia 14 de Nissan - Erev Pessach - e a coma naquela noite, em Jerusalém, na refeição do Seder. Cada pessoa não precisa trazer sua própria oferta; várias pessoas podem se reunir para trazer uma única oferta e dividir sua carne.

Muitas das leis discutidas nesses capítulos são comuns a todas as ofertas (corbanót); portanto, para entender adequadamente esses capítulos, é necessário estar familiarizado com muitas leis e regras básicas dos corbanót (oferendas) do Templo. Elas serão descritas em uma introdução especial ao Capítulo 5.

A obrigação de comer a oferta de pessach é um mandamento positivo da Torá e é um dos dois únicos mandamentos positivos para os quais a penalidade por não cumprir a obrigação é caret (o outro é circuncisão). No entanto, a Torá fornece um dia substituto para aqueles que não puderam oferecer o pessach no momento oportuno, porque estavam tamê ou por não terem conseguido chegar a Jerusalém a tempo. A oferta feita neste dia - a tarde de 14 de lyar - é conhecida como pessach sheni (segunda oferta de pessach).

A noite do Seder

Somos obrigados pela Torá, na primeira noite de Pessach (15 de Nissan) a relatar os milagres e maravilhas que Deus realizou para nossos antepassados no Egito (Rambam, Hilchot Chamets U'Matsá 7:1) A fonte dessa mitsvá é o verso (Shemot 13:8): Você contará a seu filho sobre aquele dia, dizendo: "Por causa disso, Hashem agiu em meu benefício quando saí do Egito" (Sefer haChinuch Mitsvá 21). Não basta simplesmente contar a história; mas, cada judeu deve se ver como se tivesse deixado o Egito pessoalmente, pois isso está implícito no versículo: "Hashem agiu em meu benefício quando deixei o Egito" (Mishná 10:5).

Outra mitsvá da Torá se aplica a esta noite: a de comer maror (vegetais amargos). No entanto, a mitsvá da Torá é a de comer maror juntamente com a oferta de pessach. Atualmente, portanto, quando a oferta de pessach não é trazida, a obrigação de comer maror é apenas Rabínica (Rambam, Hilchot Chamets U'Matsá 7:12).

Além disso, há várias mitsvot Rabínicas que, entre outras, incluem beber quatro copos de vinho e recitar Halel.

Os Sábios exigem que cumpramos as mitsvot da noite em uma ordem específica. Por esse motivo, as obrigações da noite são chamadas de Seder (que significa ordem). As leis do Seder são apresentadas no décimo capítulo deste tratado.

Desde a destruição do Templo em Jerusalém, somos incapazes de levar ou comer o corban de pessach (assim como levar qualquer outro corban), ou mesmo de cumprir a mitsvá da Torá de comer maror. Embora quase dois mil anos tenham se passado desde a tragédia, nosso povo nunca parou de desejar a reconstrução do Templo e a retomada dos serviços de sacrifícios. A cada ano, concluímos o Seder com a declaração No próximo ano, em Jerusalém! E rezamos: Assim como tivemos o mérito de realizar o Seder, assim também teremos o mérito de fazer [a oferta de pessach]. Esperamos que, pelo mérito de estudar as leis de Pessach, vejamos a reconstrução do Templo, observemos as mitsvot do corban de Pessach e realizemos o Seder em sua forma completa e adequada breve, em nossos dias, Amén.

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· MISHNÁ - TRATADO MOÊD CATAN

Os dias sagrados do ano são de dois tipos: Shabat e Iom Kipur, durante os quais todos os trabalhos (melachá) são proibidos (veja Shabat 7:2 para melachot), e Iom Tov (Pessach, Shavuot, Rosh Hashaná e Sucot), durante os quais algumas atividades necessárias para o preparo de alimentos são permitidas, mesmo que elas envolvam melachá (veja Introdução Geral ao Tratado Beitsá).

No entanto, as festividades de Pessach e Sucot são, elas mesmas, divididas em dois períodos diferentes de santidade: o primeiro e o último dia de cada festividade têm a santidade completa de um Iom Tov, no qual fazer melachá é proibido, exceto para o que é necessário para o preparo de alimentos; e têm os dias intermediários (cinco, no caso de Pessach; seis, para Sucot), durante os quais, a maioria das melachot é permitida. Esses dias intermediários são conhecidos como Chol Hamoed (literalmente, o período mundano da festividade), e são esses dias e suas Leis que formam o assunto do Tratado Moêd Catan (literalmente, festividade menor).

Chol Hamoed

Ao contrário da impressão popular, Chol Hamoed é um período sagrado - embora não tão sagrado quanto o primeiro e o último dia de Iom Tov - e muitas atividades são proibidas durante esse período. Algumas são proibidas por questões de melachá, outras porque elas poderiam fazer com que o Chol Hamoed perdesse o senso de santidade e fariam com que parecessem dias de trabalho comum.

As Leis de Chol Hamoed estão enraizadas no princípio de que a melachá deveria ser proibida também durante o Chol Hamoed, e são permitidas apenas para fins específicos. Obviamente, tudo o que é permitido durante o primeiro e o último dia de Iom Tov também é permitido em Chol Hamoed. Além disso, a melachá é permitida em cinco situações básicas.

Alimento para consumo humano

Uma pessoa pode preparar alimento em Chol Hamoed para ser consumido na festividade (Guemará 12b). Mesmo aquelas melachot proibidas em Iom Tov para reparação de alimentos (veja Introdução ao Tratado de Beitsá) são permitidas em Chol Hamoed. Essa categoria inclui: (a) preparação direta do item a ser consumido, como colheita, moagem e captura; (b) atos preliminares que permitem a preparação real dos alimentos, como a construção de um forno (Mishná 1:9).

Necessidades da festividade

Atividades que preenchem as necessidades de uma pessoa ou aumentam seu prazer durante a festividade. Se o trabalho não requer habilidade, pode ser feito de uma maneira normal. No entanto, se o trabalho exigir um certo grau de habilidade (por exemplo, carpintaria, costura), isso não poderá ser feito em estilo profissional, mas apenas da maneira de um amador. O trabalho é considerado não profissional, se for realizado por uma pessoa não qualificada ou por um artesão que faz uma mudança, que transforma seu trabalho no de um amador (Mishná 1:8).

Algo que será perdido

É permitido fazer o trabalho necessário para evitar uma perda monetária, como danos à propriedade (Mishná 1:1).

Necessidades comunitárias

Melachot que beneficiam o público são permitidas em Chol Hamoed, sejam elas necessárias ou não para a festividade. Se, no entanto, o trabalho não for necessário até depois do festival, deverá ser feito de maneira não qualificada (veja Mishná 1:2, nota 9).

Um trabalhador que não tem o que comer

Uma pessoa que não tem comida pode trabalhar em Chol Hamoed para ganhar dinheiro para comprar o que precisa (Mishná 3:4). Ela não é obrigada a vender seus bens pessoais (Mishná Brurá 542:8).

Fatores que proíbem o trabalho com Chol Hamoed

Mesmo o trabalho realizado para qualquer um dos propósitos descritos acima pode ser proibido em uma das seguintes circunstâncias:

Grande esforço

O trabalho que envolve grande esforço é proibido em Chol Hamoed (Mishná 1:1).

Cena pública

Se uma pessoa que faz o trabalho permitido pode ser suspeita, aos olhos do público, de violar as Leis de Chol Hamoed, é preferível [e às vezes obrigatório] fazer o trabalho em um ambiente privado (Mishná 2:5).

Agendamento de um trabalho para Chol Hamoed

Se uma pessoa for capaz de fazer seu trabalho antes ou depois da festividade, mas decidir fazê-lo em Chol Hamoed, é proibido fazê-lo em Chol Hamoed (Mishná 1:10).

Trabalho por contrato

Mesmo o trabalho permitido não pode ser feito mediante pagamento [exceto no caso de um trabalhador que precise de dinheiro para comer] (Guemará 12a; veja a edição Schottenstein de Moêd Catan, nota 11 lá).

Leis de Luto

A segunda parte do terceiro capítulo deste tratado aborda, longamente, as Leis de Luto, especialmente de como elas são observadas em Iom Tov e durante Chol Hamoed. Uma introdução a essas Leis aparece no início da Mishná 5 daquele capítulo.

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· MISHNÁ - TRATADO MEGUILÁ

Meguilat Esther (o Pergaminho de Esther), comumente chamada de "a Meguilá", relata como a população Judaica do Império Persa foi salva da destruição. Haman, um oficial de alto escalão da Corte do rei Achashverosh, conspirou para matar todos os Judeus do império, mas seus planos foram frustrados por Mordechai - o líder espiritual do Povo Judeu - e sua filha adotiva, Esther. Em vez de ser morto por seus inimigos, o Povo Judeu revidou e conseguiu derrotá-los. Eles comemoraram sua vitória com banquete e regozijo. Para celebrar esses eventos, Mordechai e Esther propuseram a festividade anual de Purim, que foi promulgada por Anshei Knesset HaGuedolá (os Homens da Grande Assembleia), da qual Mordechai era membro.

A Data de Purim

A Meguilá relata que, em muitas partes do Império Persa, os Judeus lutaram e derrotaram seus inimigos no dia treze de Adar, e comemoraram sua vitória no dia seguinte, quatorze. Na capital de Shushan, no entanto, eles lutaram por mais um dia e, portanto, não comemoraram até o dia quinze (Esther 9:17-18). Para festejar aqueles dois dias originais de celebração - o décimo quarto e o décimo quinto dia de Adar - os Sábios estabeleceram duas datas diferentes para Purim: Na maioria dos lugares, Purim é observado no décimo quarto dia de Adar, mas em qualquer cidade que se assemelhe a Shushan (em relação a ser cercada por muros) é observado no dia quinze, conhecido como "Shushan Purim".

Leitura da Meguilá

O assunto principal do Tratado Meguilá é a mitsvá de ler a Meguilá em Purim. Essa mitsvá é mencionada na própria Meguilá: e esses dias devem ser lembrados e comemorados (9:28). Os dias da Meguilá são "lembrados" por meio de se ler sobre eles. Todo Judeu é obrigado a ler a Meguilá (ou ouvi-la sendo lida) de um pergaminho. Ela é lida duas vezes, uma à noite e outra durante o dia.

As Outras Mitsvot de Purim

A Meguilá descreve Purim como dias de festa e alegria, e de enviar porções [de alimento], cada homem a seus semelhantes, e de dar presentes aos pobres (9:22). Portanto, três mitsvot são mencionadas neste versículo:

1. A festa de Purim: É preciso participar de uma refeição festiva, que inclua vinho, e pão, no dia de Purim.

2. Envio de presentes de alimentos: deve-se dar, ao menos, duas porções de alimentos ou bebidas a, no mínimo, uma pessoa.

3. Presentes para os pobres: É preciso dar comida ou dinheiro a, pelo menos, duas pessoas pobres.

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· MISHNÁ - TRATADO IOMÁ

O nome do tratado, Iomá, palavra em aramaico que significa "o dia", refere-se ao Iom Kipur, o Dia do Perdão. Este dia foi designado pela Torá como uma chance de nos arrependermos de nossos pecados e sermos perdoados por eles, como está escrito (Vaicrá 16:30): Pois neste dia, Ele expiará você para purificá-lo; de todos os seus pecados diante de Hashem você será purificado. Embora possamos nos arrepender em qualquer dia do ano, Deus torna mais fácil fazê-lo no Iom Kipur. Além disso, existem muitas transgressões para as quais somente o arrependimento não é suficiente; também precisamos da santidade do próprio Iom Kipur, a fim de obter perdão e expiação (ver Mishná 8:8).

A Torá ordena em relação ao Iom Kipur (Vaicrá 16:31): vocês devem se afligir. O que significa que devemos nos abster de certos prazeres. A Torá menciona essa obrigação cinco vezes em vários lugares, sugerindo que é preciso se privar de cinco maneiras diferentes no Iom Kipur. É proibido (a) comer ou beber, (b) lavar-se, (c) ungir-se com óleo, (d) usar sapatos, (e) ter relações conjugais. Essas Leis são discutidas no último capítulo do Tratado.

Em nossos dias, o dia é inteiramente dedicado ao jejum, arrependimento e oração. Quando o Templo Sagrado estava de pé, no entanto, o foco do Povo Judeu era na Avodá (Serviço) do Cohen Gadol em Jerusalém, no local mais sagrado do planeta. Em todos os outros dias do ano, ninguém podia entrar na parte mais sagrada do Templo - o Santo dos Santos. Mas neste dia, o Cohen Gadol entrava nele nada menos do que quatro vezes. Do amanhecer à noite, o Cohen Gadol realizava uma série de atividades que proporcionava expiação pelos pecados de todo o Povo Judeu. Atualmente, em todas as Sinagogas, os Judeus recitam a descrição desse Serviço na oração de Mussaf de Iom Kipur, para que o nosso discurso compense a sua realização, como o profeta (Hoshea 14:3) disse: que os nossos lábios compensem os touros [oferecidos no Serviço do Templo].

A maior parte deste Tratado descreve as atividades do Cohen Gadol, começando com os preparativos que ele fazia durante os sete dias anteriores ao Iom Kipur, suas ações na noite de Iom Kipur e seu longo Serviço (avodá) no próprio Dia. As Leis trazidas aqui são amplamente baseadas em Vaicrá 16:1-28.

O Serviço dos Sacrifícios

Para entender a avodá do Cohen Gadol em Iom Kipur, é necessário conhecer algumas Leis gerais sobre os Serviços dos Sacrifícios (Corban ou Corbanot, no plural) no Templo.

Uma oferta de animal era tratada da seguinte maneira: ele era abatido no Pátio do Templo da mesma maneira que um animal comum - por meio de shechitá (o abate ritual estabelecido pelas Leis Judaicas para tornar uma carne casher). Depois que o animal era abatido, o sangue que jorrava de seu pescoço era recolhido com uma tigela. Na maioria dos casos, o sangue era transportado para o Altar Externo, que ficava no Pátio, e jogado (ou aplicado) nesse Altar de uma maneira específica. O resto do sangue era derramado na base do Altar. E pelo menos algumas partes do animal eram queimadas em cima desse mesmo Altar.

Dos muitos tipos de ofertas de animais (olá, chatat, shelamim, asham etc.), enfocaremos aqui os três tipos que eram trazidos no Iom Kipur: olá, chatatot (plural de chatat) externos e internos.

A. olá: O sangue de uma oferta (corban) olá era jogado contra as paredes do Altar Externo. Toda a oferta era cortada e queimada no Altar; nenhuma parte era comida.

B. chatat - ofertas de pecado:

Havia dois tipos de ofertas de chatat:

(1) chatat externo: o sangue de uma oferta chatat externa era aplicado com o dedo nos quatro cantos (chamados de "chifres") do Altar Exterior. Apenas certas partes do animal (os chamados emurin) eram queimadas no Altar Externo, e sua carne era comida pelos Cohanim no Pátio.

(2) chatat interno: o sangue de uma oferta chatat interna era coletado dentro do Santuário, onde era aspergido em direção à cortina (parochet) que separava o "Santo" do "Santo dos Santos", e depois era aspergido no Altar Interno. (O sangue das ofertas chatat internas trazidas em Iom Kipur também era aspergido dentro do Santo dos Santos). Certas partes (emurin) eram queimadas no Altar Externo, da mesma forma que o chatat externo. O restante da oferta - carne, couro etc. - era queimado em um local designado fora de Jerusalém.

II. A Avodá do Iom Kipur

O Cohen Gadol realizava todos os Serviços do Templo neste dia; não apenas os serviços especiais de Iom Kipur, mas também os Serviços regulares (que normalmente eram feitos pelos Cohanim comuns) realizados todos os dias do ano. Nesse Dia sagrado, mesmo os serviços regulares eram elevados a um nível superior, tornando-se parte do Iom Kipur, do qual apenas o Cohen Gadol era o encarregado.

Toda a avodá do Dia pode ser dividida em duas partes: (a) a "avodá interna", que inclui todos os serviços que o Cohen Gadol realizava dentro do Santo dos Santos e suas atividades relacionadas; e (b) a "avodá externa", que inclui os Serviços do Iom Kipur que não estavam vinculados ao Santo dos Santos, bem como os Serviços diários regulares.

A. A Avodá Interna

O Cohen Gadol entrava no Santo dos Santos quatro vezes: uma vez para queimar o ketoret (incenso), uma vez para aspergir o sangue do touro, uma vez para aspergir o sangue do bode (veja abaixo) e uma vez para recuperar os vasos que ele havia usado na queima do ketoret.

A Torá ordena que o Cohen Gadol trouxesse um touro e ordena que o Povo trouxesse dois bodes (Vaicrá 16:3,5). O Cohen Gadol oferecia o touro como uma oferta chatat interna e ele aspergia o seu sangue dentro do Santo dos Santos. Ele fazia um sorteio sobre os dois bodes. Um deles era selecionado como o "bode para Hashem", que o Cohen Gadol oferecia como uma oferta chatat interna e cujo sangue ele também aspergia dentro do Santo dos Santos. O outro bode era selecionado como o "bode para Azazel", que era entregue pelo Cohen Gadol a outro homem, que o levava para o deserto e o empurrava de um penhasco.

avodá interna consistia de todos os Serviços relacionados ao touro, o bode para Hashem (incluindo o sorteio) e o ketoret. Embora muitos desses Serviços fossem realizados fora do Santo dos Santos, como o abate de animais, eles ainda faziam parte da avodá interna.

B. A Avodá Externa

Como mencionado acima, no Iom Kipur, o Cohen Gadol também realizava os Serviços regulares do Templo, feitos todos os dias do ano. Estes incluíam terumat hadeshen (remoção das cinzas do Altar), trazer o tamid (uma oferta olá que era trazida duas vezes por dia, uma vez pela manhã e outra à tarde), queimar o ketoret regular (o ketoret era queimado no Altar Interno duas vezes por dia, uma de manhã e outra à tarde), e a limpeza e a iluminação da Menorá.

No Iom Kipur, o Cohen Gadol também oferecia dois carneiros: um como olá pessoal e outro como olá para o Povo. Embora fossem ofertas especiais do Iom Kipur, elas não pertenciam à avodá interna, porque nenhum dos seus Serviços era realizado dentro do Santo dos Santos.

Outro conjunto de animais que o Cohen Gadol tinha que oferecer era o Mussaf do Iom Kippur. Em todo Shabat, Iom Tov e Rosh Chodesh, um conjunto de ofertas, conhecido como Mussaf, era trazido. No Iom Kipur, o Mussaf consistia de um touro e sete cordeiros, que eram ofertas olá, e um bode, que era uma oferta chatat externa.

C. As Roupas do Cohen Gadol

Em todos os outros dias do ano, sempre que o Cohen Gadol realizava alguma Avodá no Templo, ele usava um conjunto de oito peças de roupas (listadas na Mishná 7:5). Elas são chamadas "roupas douradas", porque algumas delas eram feitas de ouro ou continham fios de ouro. No Iom Kipur, ele usava as roupas de ouro apenas para a Avodá externa. Para a Avodá interna, ele usava quatro peças de linho, chamadas de "roupas brancas".

O Cohen Gadol trocava suas vestimentas sagradas cinco vezes no Iom Kipur. De manhã, ele trocava suas roupas pessoais pelas vestimentas douradas; mais tarde, ele as trocava pelas brancas, depois, para as douradas novamente, depois, as brancas novamente, e as douradas pela terceira vez. A cada mudança, ele mergulhava em um micvê e lavava as mãos e os pés duas vezes, uma antes da imersão e outra, depois.

D. A Sequência da Avodá

Com base nos diferentes conjuntos de roupas, a Avodá do Iom Kipur do Cohen Gadol pode ser dividida em cinco partes (cada um dos Serviços listados abaixo é seguido por sua fonte na Mishná):

Primeira Parte - Vestimenta dourada (1)

1. Terumat Hadeshen - remoção de parte das cinzas do Altar (1:8)

2. Abater o tamid da manhã, pegar o seu sangue e jogá-lo contra o Altar Exterior (3:4)

3. Queimar o ketoret da manhã no Altar Interior (3:4)

4. Preparar as lâmpadas da Menorá para acender à noite (3:4)

5. Queimar o tamid no altar externo (3: 4)

6. Oferecer parte do mussaf - o touro e os sete cordeiros, que eram todas ofertas olá (7:3, opinião de Rabi Akiva)

Segunda Parte - Vestimenta branca (1)

7. Confessar os seus pecados e os pecados de sua família, enquanto apoia as mãos no touro, que é uma oferta chatat interna (3:8)

8. Fazer o sorteio com os dois bodes, determinando qual deles seria trazido como uma oferta chatat interna (o bode para Hashem) e qual seria enviado para o deserto e jogado de um penhasco (o bode para Azazel) (4:1)

9. Confessar os seus pecados, os pecados dos membros de sua casa e dos outros Cohanim no mesmo touro (4:2)

10. Abater o touro e pegar seu sangue (4:3)

11. Queimar o ketoret dentro do Santo dos Santos (5:1)

12. Aspersão do sangue do touro dentro do Santo dos Santos (5:3)

13. Abater o bode, que é uma oferta chatat interna, pegar o seu sangue e aspergir o seu sangue no Santo dos Santos (5:4)

14. Aspergir o sangue do touro em direção à Cortina (5:4)

15. Aspergir o sangue do bode em direção à Cortina (5: 4)

16. Misturar o sangue do touro e do bode, aplicar a mistura nos cantos (chifres) do Altar Interno (5:5), e aspergi-la também no Altar Interno (5:6)

17. Verter o restante da mistura de sangues na base do Altar Externo (5: 6)

18. Confessar os pecados de todo o Povo Judeu, apoiando as mãos na cabeça do bode para Azazel (6:2)

19. Enviar o bode para Azazel para o deserto (6:3)

20. Remover os emurin (as partes do touro e do bode, cujos sangues foram aspergidos no Altar Interno, e colocá-los em um vaso) (6:7)

21. Enviar as carcaças do touro e do bode para fora de Jerusalém para queimá-las (6:7)

22. Ler as passagens da Torá relacionadas a Iom Kipur (7:1)

Terceira Parte - Vestimenta dourada (2)

23. Oferecer a próxima parte do Mussaf, um bode que é uma oferta chatat externa (7:3, de acordo com Rav)

24. Oferecer o carneiro do Cohen Gadol e o carneiro do Povo (7:3)

25. Queimar no Altar os emurin do touro e do bode, cujos sangues foram aspergidos no Santo dos Santos e no Santuário (Rav 7:3)

Quarta parte - Vestimenta branca (2)

26. Remover do Santo dos Santos a concha e a pá que haviam sido usadas na queima do ketoret (7:4)

Quinta parte - Vestimenta dourada (3)

27. Oferecer o tamid da tarde (Rav 7:3)

28. Queimar o ketoret da tarde no Altar Interior (7:4)

29. Acender as lâmpadas da Menorá (7:4)

Depois de terminar todos os Serviços, o Cohen Gadol lavava as mãos e os pés, tirava as roupas douradas e vestia as suas roupas pessoais. O Povo acompanhava o Cohen Gadol no caminho entre o Templo e a sua casa. Depois do jejum, ele fazia um banquete com seus amigos para celebrar a sua saída com segurança (vivo) do Santo dos Santos (7:4).

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Com a destruição do Templo em Jerusalém, perdemos a Avodá do Iom Kipur que o Cohen Gadol realizava em nosso nome. No entanto, apesar de quase 2.000 anos terem se passado desde essa terrível tragédia, nosso povo nunca parou de desejar a reconstrução do Templo e a retomada dos Serviços de sacrifício. Todos os anos, no final de Iom Kipur, clamamos a Deus: ano que vem, em Jerusalém! Nosso anseio diário é que este apelo seja cumprido em breve, para que possamos mais uma vez testemunhar e nos beneficiar da Avodá do Templo e do Iom Kipur muito rapidamente, em nossos dias, Amén.

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· MISHNÁ - TRATADO CHAGUIGÁ

A Torá ordena a cada homem Judeu que vá ao Templo (Beit HaMicdash) três vezes por ano - durante as festividades de Pessach, Shavuot e Sucot - para comparecer diante de D'us e trazer ofertas de sacrifício para o Altar (você não aparecerá diante de Mim de mãos vazias). Dois tipos de ofertas devem ser trazidos: uma olat reiá (literalmente, uma oferta queimada de comparecimento) e shalmei chaguigá (literalmente, uma oferta de paz de celebração) (Rambam, Hilchot Chaguigá 1:1). Como em todas as ofertas de sacrifício, estas são abatidas e seu sangue é derramado nas paredes do altar. A carne da olat reiá é, então, queimada no Altar; nenhuma parte dela é ingerida. A carne dos shalmei chaguigá, no entanto, é comida pelo proprietário da oferta, sua família e convidados; e apenas uma parte de suas gorduras e órgãos é queimada no Altar.

O Capítulo Um ensina as regras para essas obrigações: quem é obrigado, quanto deve valer a oferta, que tipo de dinheiro pode ser usado para comprá-las e quando essas ofertas podem ser levadas.

I. As Leis de Tumá e Tahará

A última parte deste tratado (da Mishná 2:5 em diante) aborda as Leis de tumá e tahará. Tumá é um tipo de impureza espiritual que se liga a pessoas, utensílios e alimentos, sob certas circunstâncias ou como resultado de condições especiais. As leis de Tumá e sua contraparte, tahará (pureza), são decretos das Escrituras, cujas raízes não conseguem ser compreendidas pela lógica e experiência humanas comuns (Rambam, Hilchot Micvaot 11:12). Por esse motivo, sua terminologia não pode ser traduzida adequadamente. Isso requer o uso de vários termos hebraicos da Mishná para explicar as discussões dessas leis. Portanto, apresentamos, a seguir, breve resumo de alguns dos principais termos e regras das Leis de tumá.

Fontes de Tumá

A Torá classifica certas pessoas e coisas como "fontes de tumá". Isso inclui um cadáver, uma nevelá (carcaça de qualquer animal morto que não tenha sido abatido por meio de shechitá, o abate ritual da Torá obrigatório para tornar um animal apto para consumo), um shérets (carcaça de uma das oito espécies de animais rastejantes, ou seja, roedores e répteis, listados em Vaicrá 11:29-30), um zav (um homem com um tipo incomum de emissão seminal), uma nidá (mulher menstruada), uma zavá (uma mulher que experimenta fluxos em períodos anormais), uma metsorá (uma pessoa afetada por tipos específicos de descolorações da pele, descritos em Vaicrá Cap. 13), uma mulher após o parto, bem como outras fontes. Cada uma dessas fontes primárias de tumá (à exceção do cadáver) é conhecida como av hatumá (literalmente, pai de tumá). Um av hatumá transmite tumá a pessoas, utensílios, alimentos e bebidas que entrarem em contato com ele, por exemplo, tocando-o. [Um cadáver possui um grau mais alto de tumá, conhecido como avi avot hatumá, um tipo de tumá não discutido neste tratado]. Os exemplos de av hatumá mencionados acima são todas "fontes" de tumá no sentido em que a tumá se origina neles, como resultado de sua situação ou condição. Eles não adquiriram sua tumá de outra coisa. No entanto, há situações especiais nas quais uma pessoa ou objeto pode se tornar um av hatumá interagindo com uma das fontes mencionadas acima. Uma delas, que aparece na Mishná 2:7, é o caso de midras (literalmente, pisando), um objeto que adquiriu tumá quando um zav, zavá, nidá ou uma mulher após o nascimento da criança repousa sobre ele (sentando-se, ficando em pé sobre ele ou apoiando-se nele). Como qualquer outro av hatumá, ele é capaz de transmitir tumá a pessoas, utensílios, alimentos e bebidas que entrarem em contato com ele.

Objetos que Podem se Tornar Tamê

Como mencionado acima, há três categorias de coisas que podem se tornar tamê por meio do contato com uma fonte de tumá: (a) pessoas; (b) utensílios (objetos que foram criados para serem usados de uma maneira específica, como cadeiras, louças, roupas, em contraste com blocos de madeira ou metal ou argila ou fios de lã etc.); (c) alimentos e bebidas. As diferentes categorias estão sujeitas a diferentes níveis de tumá, como será explicado abaixo.

A Transferência de Tumá e Níveis de Tumá

Tumá é transmitida de um av hatumá para uma pessoa, utensílio ou alimento que entrar em contato com ele, e estes, por sua vez, têm a capacidade de transmitir a tumá adiante. A tumá enfraquece cada vez que é passada. Assim, quando um av hatumá transmite tumá para um ser humano ou objeto, ele se torna um rishon de tumá (primeiro grau de tumá adquirida). Esse nível de tumá é muito fraco para transmitir tumá a pessoas ou utensílios; ele pode transmitir tumá apenas a alimentos e bebidas. Esses, por sua vez, tornam-se um sheni de tumá (segundo grau de tumá adquirida). [Esses termos geralmente são abreviados simplesmente como av, rishon e sheni.]

Um sheni é muito fraco para transmitir tumá a chulin (comida não sagrada) que o tocar, o que torna impossível para o alimento comum possuir um terceiro grau de tumá. No entanto, terumá e codesh absorvem graus adicionais de tumá (embora não seja o mesmo número de graus para ambos).

Restrições de Tumá

Uma pessoa que esteja tamê está proibida de entrar no Templo, ingerir ou tocar em terumá ou codesh (alimento sacrificial). Da mesma forma, utensílios que estão tmeim (plural de tamê) não podem ser levados ao Templo ou entrar em contato com terumá ou codesh.

Purificação de Tumá

Pessoas e utensílios geralmente podem ser purificados de sua tumá por imersão em um micvê. Depois da imersão, a pessoa ou objeto está tahor em relação a chulin, ele não o tornará mais tamê. No entanto, no que diz respeito a terumá, o processo de purificação é concluído somente após o pôr do sol do dia da imersão (anoitecer). Durante o período entre a imersão e o pôr do sol, a pessoa ou objeto é conhecido como tevul iom (aquele que mergulhou naquele dia). Um tevul iom retém um certo grau de tumá, que o proíbe de entrar no Templo ou de tocar ou comer terumá e codesh (alimento de sacrifício). Seu toque faz deles um shelishi (terceiro grau de tumá adquirida).

As pessoas que se tornam tamê como resultado de uma irregularidade em sua condição corporal (zav, zavá, metsorá, mulher após o parto) devem trazer uma oferta de sacrifício no dia seguinte à imersão. No período entre o anoitecer após a imersão e a oferenda, eles são conhecidos como mechussar kipurim (a quem falta expiação). Como sua purificação ainda não está completa, eles ainda mantêm um leve grau de tumá, e se tocarem no codesh irão torná-lo um revii, quarto grau de tumá adquirida.

Restrições Rabínicas

As regras apresentadas acima são aquelas que se aplicam sob as Leis da Torá. Os Sábios, no entanto, decretaram muitas restrições adicionais. A última seção de nosso tratado aborda, principalmente, vários desses decretos Rabínicos. Cada um deles será explicado no local apropriado. As rigorosidades, no entanto, não podem ser entendidas sem uma compreensão clara das Leis da Torá que acabamos de apresentar.

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· MISHNÁ - TRATADO BEITSÁ

O Tratado Beitsá aborda as Leis de Iom Tov. Ele define quais melachot (trabalhos; veja abaixo) são autorizados de serem feitos em Iom Tov e quais atividades são proibidas por Decreto Rabínico. Beitsá (literalmente, ovo) leva o nome da primeira Mishná, que discute a Lei de um ovo posto em Iom Tov.

Iom Tov

O termo Iom Tov se refere às festividades como um todo, e inclui tanto os dias nos quais melachá (trabalho) é proibida (o primeiro e o último dia de Pessach e Sucot, Shavuot e Rosh Hashaná), bem como os dias intermediários das festividades de Pessach e Sucot, conhecidos como Chol HaMoed (quando a maioria das melachot é permitida, embora sujeitas a certas condições). No entanto, na Mishná, e especialmente neste tratado, o termo Iom Tov refere-se especificamente aos dias nos quais a melachá é proibida. As Leis de Chol HaMoed são abordadas no tratado Moêd Catan.

Melachá

O termo melachá (plural, melachot) aparecerá frequentemente em nosso comentário a este tratado. Refere-se a qualquer um dos 39 trabalhos proibidos no Shabat. Eles estão listados no Tratado Shabat (Mishná 7:2). Embora a Mishná liste 39 melachot específicas, cada uma delas é, na verdade, uma categoria de trabalho e inclui muitas atividades relacionadas, conhecidas como toladot (trabalhos derivados das 39 categorias principais).

Melachot permitidas em Iom Tov

Em geral, as melachot proibidas no Shabat são proibidas também em Iom Tov - com uma grande exceção. A Torá declara (Shemot 12:16): Nenhuma melachá pode ser feita neles (no primeiro e no sétimo dia de Pessach); no entanto, o que é ingerido por qualquer alma, por si só, pode ser feito por você. Com este versículo, a Torá permite realizar melachá em Iom Tov, a fim de preparar alimento para consumo humano. Por isso, temos permissão, por exemplo, de passar fogo, cozinhar, assar e até levar comida pelas ruas em Iom Tov.

No entanto, está claro, a partir de várias declarações na Mishná e na Guemará, que nem todas as melachot são permitidas, mesmo para preparar alimentos para Iom Tov. Por exemplo, embora seja permitido abater um animal em Iom Tov para comer a sua carne (Mishná 3:3), é proibido capturar um animal em Iom Tov (Mishná 3:1). Da mesma forma, embora seja permitido cozinhar frutas e legumes em Iom Tov, é proibido colhê-los (Guemará 3a).

A Guemará não estabelece uma regra clara para quais melachot são permitidas e quais não são. Com base nas várias decisões da Guemará, os Rishonim (Comentaristas do Talmud que viveram entre os anos 1000 e 1500 da era comum) sugerem diversas explicações para a diferença entre as melachot permitidas e as proibidas:

(1) Rashi (23b e 9a) explica que as melachot que podem ser feitas antes de Iom Tov, sem afetar a qualidade ou o sabor dos alimentos, são proibidas de serem feitas em Iom Tov. Somente aquelas melachot que, se feitas antes de Iom Tov, levariam a uma qualidade inferior dos alimentos em Iom Tov, são permitidas em Iom Tov. Portanto, a captura é proibida em Iom Tov, uma vez que não faz diferença para a qualidade dos alimentos se o animal foi capturado antes de Iom Tov ou em Iom Tov. Da mesma forma, é proibido colher produtos em Iom Tov, porque podem ser colhidos em Erev Iom Tov e consumidos no dia seguinte com praticamente nenhuma diferença de sabor. Por outro lado, o abate e o cozimento podem ser feitos em Iom Tov, porque a carne fresca e os alimentos cozidos na hora têm um sabor significativamente melhor do que a carne e os alimentos cozidos no dia anterior.

(2) Rosh (3:1) e Ran (Rif 12b) propõem que as melachot proibidas são aquelas geralmente feitas para preparar grandes quantidades de alimentos a serem utilizados para um determinado período. Somente aquelas que são comumente feitas em pequenas quantidades, para se preparar alimento para consumo imediato, são permitidas. Assim, é permitido o abate e o cozimento, uma vez que geralmente são feitos em pequenas quantidades, para preparar as refeições do dia. Mas é proibido colher produtos ou capturar animais, uma vez que essas melachot, em geral, são feitas em quantidades maiores, para abastecerem muitos dias, semanas ou até meses.

(3) Tossafot (3a) cita o Talmud Ierushalmi (1:10), que extrai de um versículo que, das melachot envolvidas na fabricação de pão (as onze primeiras das 39 melachot listadas em Shabat 7:2), apenas aquelas a partir de "fazer a massa em diante" são permitidas em Iom Tov. Aquelas listadas anteriormente (todo o processo de plantio, colheita, processamento do grão até peneiração) são proibidas. Portanto, cozinhar e assar são melachot permitidas porque aparecem após amassar, na lista das melachot relacionadas à confecção de pães. No entanto, é proibido pegar uma fruta na árvore ou um legume no campo, porque é uma toladá (subcategoria) da melachá de colher, já que essa atividade é obrigatoriamente feita antes de se chegar ao estágio de fazer a massa. A lista das melachot envolvidas na fabricação do pão serve como modelo para outros grupos de melachot. Portanto, é proibido capturar (a primeira das melachot envolvidas na fabricação de couro) porque é como colher grãos (Tossafot 23b). O abate é permitido porque é como amassar (Iam Shel Shlomo 3:1). Rav, em seu comentário à Mishná 3:1, parece seguir esta opinião de Tossafot.

Da Torá ou Rabínica?

Quaisquer que sejam os motivos, há uma questão de saber se as melachot proibidas, mesmo para a preparação de alimentos, são proibições da Torá ou apenas Decretos Rabínicos. A partir do Tossafot e do Talmud Ierushalmi, citados acima, é claro que elas são proibições da Torá. Essa também é a visão de Ramban (Milchamot ibid.) e parece ser a visão de Rashi (23b). Por outro lado, Rambam, Rosh e Ran (nas fontes citadas acima) sustentam que elas são proibidas apenas Rabinicamente (mas, pela Lei da Torá, todas as melachot usadas para a preparação de alimentos são permitidas em Iom Tov).

Muctsê

Um tópico que aparece em todo este tratado é a Lei de muctsê. O termo muctsê (literalmente, colocado de lado), refere-se a objetos que, no curso normal dos eventos, não se espera que sejam usados em Shabat ou Iom Tov: ou porque eles não estavam aptos para serem usados quando o Shabat ou o Iom Tov começou; ou porque seu uso não era permitido; ou porque uma pessoa os deixou de lado para não serem usados. Os Sábios decretaram que esses objetos não podem ser manuseados ou movimentados no Shabat ou no Iom Tov. Esse decreto, embora Rabínico, remonta aos dias do profeta Nechemiá (Shabat 123b).

Há também uma proibição contra o uso de muctsê; por exemplo, comê-lo ou usá-lo como lenha. Esta proibição é tratada com mais rigor do que a proibição de mover muctsê. É extraída de Shemot 16:5, que se refere ao man que caiu no Deserto: ?No sexto dia, eles devem preparar o que trouxerem; e será o dobro do que eles colhem todos os dias?. O versículo implica que a comida do Shabat deve ser preparada antes do Shabat. Um alimento que é muctsê, sendo "posto de lado" em relação a seu uso, não é considerado preparado e, portanto, não pode ser ingerido no Shabat (Pessachim 47b).

Um objeto que estava muctsê no início do Shabat ou Iom Tov permanece muctsê até o fim do dia, mesmo que a razão de ser muctsê deixe de se aplicar nele por algum motivo. Por exemplo, as frutas que cresciam em uma árvore - que são muctsê porque não podem ser colhidas no Shabat ou no Iom Tov - permanecem muctsê, mesmo depois de caírem da árvore.

Razões para proibir Muctsê

Rambam (Hilchot Shabat 24:12-13) apresenta três razões para a proibição de muctsê:

(1) O profeta (Isaías 58:13) disse ao povo para não andar ou falar em Shabat da mesma maneira que fazia nos outros dias da semana (Se você restringir seus pés no Shabat... de falar de coisas). Como devemos nos abster de conversar e até de andar da mesma maneira que fazemos durante a semana, certamente devemos nos abster de mover objetos no Shabat da maneira como os movemos durante a semana. Caso contrário, veríamos o Shabat como um dia da semana e nos ocuparíamos com atividades, como levantar e mover objetos de uma parte da casa para outra. Estando em descanso e em casa, uma pessoa pode procurar algo com o que se ocupar e, como resultado, não descansar completamente.

(2) Se uma pessoa fosse autorizada a manusear utensílios que normalmente são usados para fazer melachá, ela poderia se esquecer e, inadvertidamente, fazer uma melachá no Shabat.

(3) Pessoas que não são donas de um comércio ou de uma profissão e não trabalham durante toda a semana não seriam vistas como repousando no Shabat. Portanto, os Sábios acrescentaram a proibição de muctsê para que todos descansem mais no Shabat do que em um dia da semana.

Rashi (12a) acrescenta uma quarta razão. Os Sábios proibiram o transporte de muctsê para que as pessoas não se esquecessem e levassem objetos para a rua no Shabat. Eles não proibiram mover objetos os quais se pretende usar no Shabat, pois isso tornaria o Shabat muito difícil para a maioria das pessoas observar. Portanto, eles limitaram sua proibição a itens os quais não se espera que sejam usados naquele dia.

As categorias de Muctsê

Como explicamos acima, muctsê é qualquer item que não foi "preparado" para uso antes do Shabat. Esta preparação, no entanto, não precisa ser ativa. Qualquer objeto que, no curso normal dos eventos, deva ser usado é considerado "preparado" e pode ser manuseado e movimentado. Apenas objetos que, por um motivo ou outro, não sejam utilizados são considerados muctsê.

Vários fatores podem fazer com que um objeto seja considerado muctsê. Estas são algumas das principais categorias:

(1) colocado de lado por causa do que ele é

Essa categoria consiste em itens que não são alimentos nem utensílios. Exemplos disso são pedras, dinheiro e animais. Outro exemplo importante é a madeira, que é totalmente muctsê apenas no Shabat. A madeira separada para ser queimada pode ser usada para cozinhar em Iom Tov. Da mesma forma, os animais designados para abate não são muctsê em Iom Tov.

(2) separado por causa de preocupação com perda monetária

Esta categoria consiste em utensílios cuja função principal não é normalmente executada no Shabat ou no Iom Tov e cujo proprietário não permite que sejam usados para qualquer outra coisa porque são valiosos e ele está preocupado com a possibilidade de eles serem danificados. Por exemplo, o bisturi de um cirurgião. Como essa ferramenta deve ser mantida em perfeitas condições, o proprietário não a utilizaria para nenhuma outra finalidade (como cortar alimentos).

(3) um utensílio cujo uso principal é proibido em Shabat e Iom Tov

Refere-se a utensílios feitos para serem usados em uma atividade proibida no Shabat ou no Iom Tov, mas, às vezes, são usados para atividades permitidas. [Por exemplo, um martelo é feito para ser usado na construção (uma atividade proibida), mas, às vezes, é usado para quebrar nozes (uma atividade permitida)]. Como esses itens podem ser usados para muitas funções, sem serem danificados, eles não são muctsê por conta de perda monetária. Portanto, suas restrições de muctsê são mais brandas.

(4) um objeto permitido usado como base para um objeto proibido

Este grupo consiste em itens que não são muctsê, mas são usados para reter ou apoiar itens que são muctsê. Por exemplo, uma cama em que o dinheiro foi colocado. A "base" que suporta o item proibido é considerada o próprio muctsê e permanece assim (pelo resto do dia), mesmo após a remoção do item. [Isso se aplica somente quando o item permitido se tornou uma ?base? antes do início do Shabat ou do Iom Tov.]

(5) nolad (literalmente, nascido)

Nolad refere-se a algo que surgiu ou se tornou utilizável no Shabat ou no Iom Tov. Obviamente, esses itens não podem ser considerados "preparados" antes de o dia ter começado.

Rabi Iehudá e Rabi Shimon

Existe uma disputa abrangente entre Rabi Iehudá e Rabi Shimon no que diz respeito à extensão das proibições de muctsê. Rabi Iehudá é muito mais rigoroso em relação a muctsê do que Rabi Shimon. A disputa deles afeta várias áreas da Lei de muctsê. Algumas Mishnaiot seguem a visão de Rabi Iehudá, enquanto outras seguem a visão de Rabi Shimon. Estas serão explicadas no local apropriado.

Prefácio

INTRODUÇÃO

A Mishná: o que é? Que importância tem?

A Torá Oral

Costuma-se dividir a Torá (a Doutrina Divina outorgada por Deus ao Povo de Israel) em duas partes: a Torá Escrita e a Torá Oral. A Torá Escrita é o texto sagrado que versa sobre os preceitos (mitsvot), enquanto a Torá Oral é a explicação de tais preceitos, ensinando os seus detalhes e as circunstâncias nas quais devem ser cumpridos.

Todas as mitsvot foram ensinadas por Deus a Moshé juntamente com a sua explicação.

Por exemplo, na Torá está escrito (Vaicrá 23) para construir cabanas (sucot) e habitar nelas durante uma semana, a partir do décimo quinto dia do sétimo mês do calendário judaico. Deus passou esse preceito a Moshé e depois lhe ensinou que, neste período, cada um deve fazer suas refeições e dormir dentro das cabanas; que esta é uma obrigação apenas dos homens, e não das mulheres; que um enfermo está isento desse preceito; que o teto da cabana deve ser feito de plantas etc. O mesmo se aplica a todas as mitsvot. Moshé, por sua vez, escreveu a própria Lei no Livro da Torá, e passou a explicação oralmente a toda sua geração.

A partir de então, em cada geração havia um Grande Tribunal, responsável por ensinar a Torá Oral e dissipar qualquer dúvida que surgisse em relação às Leis. Assim consta no Tratado Avot: :Moshé recebeu a Torá no Monte Sinai e a transmitiu a Iehoshua e ele (a transmitiu) aos anciãos e eles aos profetas e os mesmos transmitiram-na aos Homens da 'Grande Assembleia' (Anshê Kenesset Haguedolá)".

Junto com essa Torá Oral foram transmitidas regras de dedução, a serem aplicadas aos textos da Torá Escrita, denominadas "as treze fórmulas (midot) de dedução da Torá". Os Sábios de cada geração podiam, analisando os textos da Torá Escrita à luz dessas regras (midot), deduzir novas Leis, tirando, assim, dúvidas ocasionais sobre os preceitos (mitsvot). Deve-se notar que, diferentemente das Leis transmitidas por Moshé, essas novas Leis poderiam ser objeto de polêmica, uma vez que seria possível haver discussão entre os Sábios sobre qual era a Lei correta a ser deduzida do versículo. Se este fosse o caso, o que a maioria decidisse era aceito por todos.

Desta forma, o Grande Tribunal de cada geração tomava como base o que era transmitido pela geração anterior e acrescentava, se fosse o caso, suas próprias deduções. Acrescentava também, quando necessário, certas proibições, cuja meta era criar um "afastamento" das proibições da própria Torá. Isto porque Deus ordenou o seguinte (Vaicrá 18:30): "Tomem cuidado com o que ordenei para que seja resguardado"; ou seja, devem ser criadas medidas de prevenção para que as pessoas não cheguem a transgredir as proibições da Torá. Além disso, os Sábios formulavam decretos e costumes que achassem adequados. Tais Leis rabínicas têm aspecto obrigatório, pois a Torá diz (Devarim 17:11): "Não se desvie de tudo o que (os Sábios) lhe disserem".

Tudo isto era passado oralmente de geração em geração. Não havia, no entanto, um texto fixo: cada mestre transmitia esses ensinamentos a seus discípulos com as palavras que considerasse mais adequadas.


A Compilação da Mishná

Esta forma de transmissão da Torá perpetuou-se por mais de mil e quinhentos anos, até a época de Rabi Iehudá Hanassi e seu tribunal. Rabi Iehudá Hanassi, chamado simplesmente de "Rebi" pelos Sábios de sua geração, percebeu que essa situação não poderia continuar. Por conta dos diversos massacres e da opressão exercida pelo Império Romano, o número de estudiosos era cada vez menor e os Judeus, dispersavam-se pelo Mundo. Além disso, a capacidade de apreensão e de memorização diminuía a cada geração. Sendo assim, a continuação da Torá Oral corria perigo. Tornou-se necessário padronizar um texto fixo, igual para todos, que pudesse ser estudado e decorado rapidamente.

Por conta disto, Rabi Iehudá Hanassi, auxiliado por outros grandes Sábios, reuniu todos os ensinamentos, Leis e explicações transmitidas por Moshé e acrescentadas pelos Sábios de todas as gerações até então, referentes a todas as áreas de abrangência da Torá. Ele compilou, a partir deste grande conjunto, uma única obra: a Mishná. Isto ocorreu cento e cinquenta anos após a destruição do Segundo Templo, ou seja, há cerca de mil e oitocentos anos.

Vale notar que Rebi não precisou redigir um texto completamente novo. Já haviam sido transmitidas, por gerações anteriores, várias Mishnaiot (plural de Mishná), ou seja, linguagens fixas de estudo ensinadas pelos mestres e decoradas pelos alunos. Havia, no entanto, várias versões de Mishnaiot. No Talmud (Tratado Nedarim 41) consta, inclusive, que Rebi sabia de cor treze versões de estudos. Dentre elas, ao compilar a Mishná, Rebi adotou, em geral, a linguagem de Rabi Meir, discípulo do famoso Rabi Akiva, por ser ela bem precisa e bem organizada; ou seja, por versar sobre Leis referentes aos mesmos assuntos em sequência, além de não conter frases supérfluas (exceto raras exceções). Além disso, era uma versão concisa, que transmitia praticamente apenas as opiniões dos Sábios, omitindo as fontes e as provas de cada um.

A partir desses textos, Rebi construiu sua Mishná. Parte das Mishnaiot deixou como estava, enquanto outra parte ele modificou um pouco, melhorando a linguagem ou acrescentando alguma explicação. Além disso, ele às vezes inseria no texto outras opiniões ou estudos posteriores aos da época de Rabi Meir.

A Mishná foi um sucesso. Os estudiosos de todo o mundo Judaico, ao verem sua qualidade e precisão, deixaram de lado as versões anteriores e passaram, a partir de então, a decorar e ensinar esta Mishná de Rabi Iehudá Hanassi. Daí por diante, todas as outras versões foram alcunhadas de "braita", ou seja, "Mishná externa". Elas têm um valor especial: por serem mais extensas, podem ajudar na interpretação de uma Mishná. A Mishná, contudo, é a base. Se há, por exemplo, divergência entre uma Mishná e uma braita, apenas a Mishná é levada em conta. Afinal, a Mishná passou pela supervisão de Rabi Iehudá Hanassi.


Rabi Iehudá Hanassi e Sua Época

Nassi (soberano) era o título dado a quem presidia o Alto Tribunal (San'hedrin), e quem exercia essa função era considerado o líder dos Judeus, em Israel, na Época da Mishná. Rabi Iehudá Hanassi era a sétima geração, filho após filho, de nessiim (plural de nassi) desde Hilel, descendente do próprio Rei David.

Na época de Rabi Iehudá Hanassi, o César era Antônio Pio, que evitava guerras e que procurou manter a paz em todo o território do Império Romano. Esta foi uma época de trégua para os Judeus. Além disso, Antônio Pio tinha muito apreço por Rebi e eles mantinham relações amistosas.

O próprio Rebi era uma pessoa muito influente. Além de rico, era extremamente sábio e erudito, e também um exemplo de bondade e boas virtudes. A admiração que as pessoas da geração tinham por ele era imensa. Muitas são as alcunhas de apreço que lhe foram atribuídas e vale notar que ele era chamado, além de Rebi, de "Rabenu Hacadosh" ('nosso santo mestre'). Após sua morte, seus discípulos acrescentaram à Mishná a seguinte afirmação: "Desde que Rebi faleceu, não há mais humildade e temor ao pecado" (Tratado Sotá, capítulo 9, Mishná 14).

Tudo isso contribuiu para o sucesso de sua obra. Sem esta época de calma, ou sem a influência e domínio que Rebi tinha sobre todos os Sábios, ele não conseguiria reunir todos os ensinamentos dispersos da Torá Oral ou divulgar a obra que compilou.

De maneira semelhante, a Torá Oral foi ensinada por Deus a Moshé (e por Moshé ao povo) depois da Torá Escrita, como explicação dela. Dessa forma, a Torá Escrita seria a "primeira" enquanto a Oral seria a "segunda".

Outro sentido é o de "ensinamento". Quando Moshé diz ao povo (Devarim 6:6-7): ?Estes dizeres, que eu lhe ordeno hoje, estarão no seu coração, e você os ensinará a seus filhos?, ele emprega para este "e você os ensinará" o termo hebraico "veshinantam", uma flexão do verbo shanen, do qual deriva o substantivo Mishná. Mais especificamente, trata-se de um estudo tão aplicado, a ponto de a pessoa ficar "afiada" ("shanun") nele. Nenhum nome seria mais adequado a este fabuloso conjunto de Leis, tão estudado e decorado, como a Mishná.


Obras Posteriores

A obra de Rebi foi continuada por seus discípulos. Um deles, Rabi Chiya, compilou a Tossefta, uma coletânea de braitot (plural de braita), que serve como ampliação e explicação da Mishná. Outros discípulos, como Rabi Hoshaia, também compilaram várias braitot.

A Mishná, no entanto, continuou sendo o texto básico de estudo das Leis da Torá, para sempre. Em todas as gerações subsequentes, não houve nenhum centro de estudos que deixasse de pesquisar e de se aprofundar em seu texto, deduzindo novos aprendizados e implicações. Com o tempo, no entanto, surgiram também divergências quanto à interpretação correta do texto de algumas Mishnaiot e de suas Leis, bem como à Lei prática (halachá) que deve ser adotada.

Cerca de trezentos anos após a destruição do Templo, um grande sábio, Rabi Iochanan, compilou, em Israel, o Talmud Ierushalmi ("Talmud de Jerusalém", conhecido também como "Talmud de Erets Israel"). Cem anos depois, na Babilônia, Rav Ashi compilou o Talmud Bavli ("Talmud da Babilônia"). Os dois "Talmud" têm como meta a elucidação da Mishná, bem como trazer novas Leis deduzidas pelos tribunais rabínicos desde a época de Rabi Iehudá Hanassi.


A Torá Oral é Escrita

Como citado anteriormente, a explicação da Torá Escrita foi transmitida oralmente desde Moshé até Rabi Iehudá Hanassi, e por isso ela era denominada "Torá Oral". Essa forma de transmissão era proposital. Consta no Talmud (Tratado Guitin 60b) que é proibido escrever a Torá Oral (enquanto a Torá Escrita, por sua vez, deve ser ensinada com a leitura do texto, e não de cor). Isso é necessário para que a explicação seja passada por um mestre, de modo que o aluno possa esclarecer eventuais dúvidas, enquanto um texto escrito pode levar a erros ou dúvidas.

Com o tempo, contudo, tornou-se necessário que a Torá Oral fosse finalmente escrita. Isso inclui a Mishná, as braitot, o Talmud etc. Se essa medida não fosse tomada, corria-se o perigo de a Torá Oral ser total ou parcialmente perdida. Há, no entanto, uma discussão entre os comentaristas se foi o próprio Rebi que permitiu fazê-lo ou se ele apenas organizou a Mishná para ser estudada oralmente, e só em gerações posteriores os Sábios se viram obrigados a permitir que ela fosse escrita, bem como as braitot e o Talmud.


A Estrutura da Mishná

A Mishná é composta por "tratados" de títulos e temas principais diferentes, agrupados em seis conjuntos de assuntos afins. Cada um desses conjuntos é chamado de seder ("ordem"). São eles:

1. Seder Zeraim (Grãos) - sobre os preceitos referentes à produção agrícola (dos quais grande parte só se aplica à Terra de Israel). Inclui, por exemplo, as Leis referentes ao abandono dos campos no sétimo ano (shemitá), a proibição de fazer enxerto (kelaim), o abandono e doação de parte da colheita aos pobres, a separação de outra parte aos leviim etc.

2. Seder Moêd (Data Festiva) - sobre os preceitos referentes ao Shabat e às festas do calendário Judaico.

3. Seder Nashim (Mulheres) - sobre as Leis referentes ao matrimônio, divórcio e afins.

4. Seder Nezikin (Prejuízos) - sobre as leis referentes às negociações financeiras, ao pagamento de danos causados, às disputas judiciárias etc.

5. Seder Codashim (Sagrados) - sobre os sacrifícios.

6. Seder Taharot (Purezas) - sobre as Leis de pureza e impureza.

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