Alguns comentários que ilustram a obra:
HA LACHMA
O primeiro trecho da parte em que relatamos o Êxodo do Egito faz uma constatação, um convite e preconiza um anseio.
Primeiramente, ao erguermos um pedaço de Matsá, constatamos o sofrimento de nossos antepassados que, além de trabalharem em regime de escravidão, eram alimentados pelos egípcios com um pão duro e seco, não tão apetitoso como um pão fermentado e macio.
A hospitalidade é uma das mais antigas virtudes do povo judeu, assim como a preocupação com as pessoas menos afortunadas. Por isso, convidamos aqueles que não têm condições de celebrar seu próprio Sêder para fazerem-no conosco.
Ao mesmo tempo, porém, pedimos a Deus que possibilite-nos realizar nosso Sêder de forma mais completa, não só com a pobre Matsá, mas também com a suculenta carne do carneiro de Pêssach, que voltaremos a oferecer assim que Ele tiver compaixão de nós e fizer chegar o advento messiânico e a reconstrução do Templo de Jerusalém!
AVADIM HAYINU
Muitas pessoas tentam esconder, ou mesmo apagar da memória, sua origem, principalmente quando esta foi humilde e sofrida. Nós, os judeus, fazemos questão de recordá-la constantemente. Mencionamos, diariamente, em nossas preces, que fomos escravos no Egito e que Deus nos libertou dessa precária condição humana. Este constante recordar e relembrar serve para que sempre tenhamos em mente que Deus não apenas rege o mundo pela natureza, como também através dos anais da história universal. Assim, a cada dia temos de apreciar e valorizar nossa liberdade, e estarmos conscientes de nossa responsabilidade de manter e transmitir os valores judaicos às gerações que nos sucederão, como forma de garantir e perpetuar nosso estado de homens livres.
MITECHILÁ
Havia uma discussão no Talmud por ocasião da elaboração da Hagadá, sobre como deveria iniciar-se a resposta às quatro perguntas formuladas anteriormente. Samuel, chefe da academia talmúdica de Nehardea, achava que deveria iniciar-se com "Avadim hayínu"; Rav, chefe da academia talmúdica de Sura, era de opinião que deveria iniciar-se com "Mitechila". Ambos os trechos acabaram fazendo parte da nossa Hagadá, pois cada um deles refletia um aspecto diferente da escravidão: "Escravos fomos do Faraó" - a escravidão física; "Em tempos muito antigos" - a escravidão espiritual. Não bastava serem livres de corpo; tinham de ser também livres de espírito!
Várias vezes nós, os judeus, fomos ameaçados por esses dois tipos de escravidão: aquela que nos era imposta de fora para dentro e que ameaçava nossa sobrevivência física, e aquela a que nós mesmos nos impomos e que destrói espiritualmente os judeus que se afastam de Deus e abrem mão das tradições e práticas religiosas que herdamos de nossos pais.
A Hagadá nos ensina que tanto uma como a outra é sinônimo de escravidão.