PREFÁCIO
Já faz cinquenta anos desde que as lendas da literatura hassídica lançaram seu feitiço sobre mim. Logo em seguida comecei a recontar as lendas do ciclo do Baal Schem, das quais surgiu este livro. O material existente era tão informe que fiquei tentado a lidar com ele como se fosse algum tipo de tema para a poesia. Que eu não tenha sucumbido a tal tentação, devo-o ao poder do ponto de vista hassídico, que encontrei em todas estas histórias. Havia algo de decisivo ali que precisava ser realmente lembrado. O que era isto pode ser depreendido do que se segue. Dentro desses limites, porém, que proíbem a introdução de motivos estranhos, restou à plasmação épica toda a liberdade. Somente algum tempo depois da publicação da edição original alemã deste livro, em 1907, impus um compromisso muito estrito à minha relação de autor com a tradição das lendas hassídicas um compromisso que me obrigou a reconstruir a ocorrência pretendida em cada uma das histórias, individualmente, não importa quão tosca e desajeitada fosse a forma pela qual nos fora transmitida. Os resultados dessa nova relação, ao tomarem forma num trabalho que levou três décadas, foram coletados em Os Contos dos Hassidim (edição hebraica, 1947; edição inglesa, Os Primeiros Mestres, 1947, Os Últimos Mestres, 1948). Mais tarde, empreendi, pela primeira vez, para satisfazer a ambas - a verdade e a liberdade - a narrativa romanceada Gog e Magog, na edição hebraica, 1943.
A presente revisão de A Lenda do Baal Schem, realizada no verão de 1954, é de natureza puramente estilística; o caráter do livro manteve-se inalterado.
Martin Buber
Jerusalém, 1955