DO LIVRO
JUDAÍSMO PARA O SÉCULO 21
TSITSÍT
Fala aos filhos de Israel e dize-lhes que façam para eles franjas sobre as bordas de suas vestes, pelas suas gerações; e porão sobre as franjas da borda um cordão azul celeste... e lembrareis todos os mandamentos do Eterno, e os fareis; e não errareis indo atrás de (pensamento de) vosso coração e atrás (à vista) de vossos olhos... Eu sou o Eterno, vosso Deus, que vos tirei da terra do Egito, para ser vosso Deus.
Números 15:37-41
Franjas farás para ti e as porás nos quatro cantos da tua vestimenta.
Deuteronômio 22:12
(1) Vestuário e personalidade
Todos nós já experimentamos os efeitos psicológicos das roupas. Sabemos como podem melhorar ou piorar nosso ânimo. Acima de tudo, as roupas nos tornam conscientes da nossa dignidade humana e condição moral.
O ASPECTO PSICOLÓGICO
Uma moça suíça conheceu um estudante africano em Londres e casou-se com ele. Ele era o rei de uma tribo no Malawi e, quando foram para a casa dele, ela viu-se na condição de rainha. Notou que as mulheres da tribo eram apáticas e indiferentes, quase animalescas na sua letargia. Praticamente não vestiam roupa alguma. Então, mandou trazer fardos de tecidos coloridos para que elas fizessem vestidos. Quando se viram trajadas, houve uma dramática mudança naquelas mulheres. Tornaram-se vívidas, interessadas, entusiasmadas e ativas. Seu aspecto humano desabrochou.
(2) A função do Tsitsít
A origem da vestimenta do modo como a Torá descreve foi o de cobrir a vergonha dos primeiros seres humanos, quando estes falharam em cumprir a primeira missão que o Altíssimo lhes designou (Gênesis 3:7,11,21). O senso de vergonha é precioso; é a voz de Deus conclamando a que nos elevemos acima dos nossos desejos animais e egoístas. Uma das funções da roupa é lembrar-nos da nossa condição humana superior.
Isto se aplica a todos os seres humanos. Por que a Torá pede a nós, judeus, que usemos franjas (Tsitsít) nas bordas de nossas vestes? A própria Torá nos dá a resposta: "e lembrareis todos os mandamentos do Eterno e os fareis". Como isto é feito? Devemos presumir que, assim como a Milá tem um efeito em nossos corpos, os Tefilín em nossa cabeça e braço, a Mezuzá em nossos umbrais, nos santificando e a nossos lares e orientando-nos para propósitos apropriados, o Tsitsít santifica nosso vestuário do mesmo modo. A palavra Tsitsít tem o sentido de crescer, florescer. Tsíts quer dizer "brotar". Em outras palavras, a Torá deseja que nossas roupas nos façam dar frutos espirituais.
As roupas admoestam cada um de nós: sejam humanos! Você são mais, muito mais que macacos com cultura. Usem vosso regalo Divino do livre-arbítrio para subirem ao topo do vosso potencial moral.
O Tsitsít nos augura que as roupas que vestimos por sermos humanos possam florescer num pleno comprometimento da nossa condição adicional de judeus.
(3) Atado e ao mesmo tempo livre
Se examinar um Tsitsít mais cuidadosamente, você notará que cada ponta consiste de quatro fios de linha, inseridos por um buraco feito na borda de uma veste e dobrado em forma de "oito". Os dois grupos de quatro são amarrados juntos e atados firmemente, enrolando um dos fios em volta dos outros sete. (Veja figura 3). A parte atada não deve exceder o comprimento de um terço do todo, para que dois terços do Tsitsít estejam livres.
Sabemos que o "seis" representa o mundo físico e o "sete", a dimensão espiritual da mente e do livre-arbítrio (capítulo 41/1). O número "oito", conectado a Shavuót e Sheminí Atséret, simboliza uma dimensão espiritual acima e além da mente humana: a fonte Divina da Torá (capítulo 43/2 e 47/2). Portanto, amarrar o oitavo fio em torno dos outros sete, como ilustrado graficamente abaixo, nos mostra a função das Mitsvót, que exercem seu benéfico controle sobre nossas atividades mentais e físicas.
Mas dois terços do Tsitsít pendem livremente. As restrições da Torá servem para nos orientar na direção certa. Contudo, muito é deixado por conta da decisão de cada indivíduo. As diretrizes da Torá nos dão espaço para desenvolvermos nossos potenciais do modo que melhor se adaptem a nós. A extensão do que é "livre", no Tsitsít, é duas vezes maior que a extensão do que é "atado".
(4) Linha azul celeste
A Torá exige que o oitavo fio seja tingido de azul celeste - Techélet. Era esta a tonalidade usada nas vestes do Sumo Sacerdote (Êxodo 28:31) e que fazia lembrar a tonalidade dos oceanos e do céu. Objetos na linha do horizonte, tais como uma colina distante, também nos parecem azuis. Esta cor, portanto, simboliza a dimensão espiritual e os limites do alcance da nossa mente, realçando para nós o significado do "oito".
Ao longo do tempo, a arte de se produzir o Techélet foi perdida. É uma cor que pode ser simulada por outros pigmentos, mas a Torá insiste apenas no Techélet. Grandes esforços tem sido feitos em Israel par redescobrir o Techélet. Mas enquanto isto não for feito, usamos um fio branco em seu lugar. Contudo, a própria ausência do Techélet do nosso Tsitsít ensina que nossa missão como judeus só pode ser cumprida com Torá e Mitsvót autênticas e não por meio de substitutos ou simulações. O Tsitsít com seus oito fios, tenham eles o Techélet ou um fio branco, nos caracterizam como "homens de um chamado sagrado" (veja capítulo 26) e como "membros" de um "reino de sacerdotes e nação santa" - nossa descrição quando recebemos a Torá. (Durante séculos, um sistema numérico vem transmitindo a idéia de um Deus único, ao qual nossas vidas são dedicadas. Veja Figura 3. Isto se baseia no sistema da Guemátria - os valores numéricos das letras hebraicas. Veja Tabela 9.)
(5) Quatro cantos
Este mandamento exige que coloquemos o Tsitsít nos quatro cantos das nossas roupas, indicando "os quatro cantos da Terra". Com este ato lembramos que o chamado que recebemos como judeus não serve somente para nós, mas que deve beneficiar toda a humanidade.
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CURIOSIDADES DO
LIVRO JUDAICO DOS PORQUÊS
Por que muitos judeus usam talitót grandes?
Muitos judeus ortodoxos e conservadores acreditam que o talit deve cobrir uma grande parte do corpo, se ele for classificado como uma "vestimenta", na qual devem estar suspensas as franjas. A maioria dos judeus usa um talit do tipo "cachecol". Este tipo de talit é considerado adequado já que o mandamento exige o uso de tsitsiót e não do talit. O Código de Lei Judaica estabelece que o tamanho mínimo para o talit deve ser suficiente para "cobrir um menino pequeno capaz de andar".
A bênção recitada ao envolver-se com o talit termina com as palavras lehitatêf betsitsit ("envolver-se com o tsitsit").
Por que o azul é a cor usual do bordado do talit?
O azul faz lembrar o cordão azul que se acrescentava às franjas (tsitsiót). O mandamento está explícito no Livro de Números (15:38) "e porão sobre as franjas da borda, um cordão azul celeste." O cordão azul não é mais usado porque se desconhece a origem dessa tintura. Em seu lugar, o azul passou a ser a cor das listras do talit.
O Talmud (Menachot 43b) indica que o azul era a cor preferida dos judeus porque o Mediterrâneo, a maior superfície aquática perto da Israel antiga, apresenta esta coloração. A tradição diz que esta cor é um reflexo do trono de Deus que, acredita-se, é decorado com safiras.
Por que alguns talitót tem listras pretas em vez de azuis?
Alguns estudiosos acham que, por se desconhecer a origem natural do azul original (techélet) seria impróprio tentar imitá-lo por meios artificiais. Ao usar o negro, em vez do azul, se chama a atenção para a diferença, e isto serve para nos lembrarmos pungentemente de Deus, sendo esta a intenção original da legislação.
Outros estudiosos creem que o azul foi proibido nos tempos dos romanos porque eles se opunham ao uso desta cor pelas pessoas comuns (o azul era uma cor reservada para a nobreza).