Prefácil
Com grande prazer navegarei na leitura da criativa ficção de Roland Fischmann.
Obra escrita com muita propriedade e emoção, que penetra a rotina de um policial científico judeu que, diariamente, em um IML, convive com a manipulação de corpos e todas as suas angústias diante de caos de mortes coletivas e assassinatos.
Em uma data manhã, o perito tem sua rotina quebrada. Recebe a missão de participar não somente da perícia como de toda a investigação, em busca de solucionar o caso da morte de um rabino.
A trama tem como pano de fundo um olhar criterioso diante da morte: não um olhar para um corpo com um número, seguindo protocolos estanques, e sim um olhar para um corpo de um homem morto que possuí uma história de vida, mudando assim todo o rumo para a elucidação do mistério.
A discussão do crime passa pela análise de todos os elementos e pessoas envolvidos: esposa, família, amigos e também as relações de poder que se associam ao papel de rabino em uma comunidade, levando os personagens e o próprio leitor a discutir valores que construímos durante a vida, seja na profissão, seja na vida pessoal. Valores como amizade, gratidão e honra.
O rabino, após a morte, tem a vida vasculhada para verificar inimigos e possíveis assassinos; são levantadas suas últimas ações em vida, e começa a ser percebido que ele era um homem, antes de ser rabino.
Ser rabino é uma profissão? Uma missão? Um rabino pode deixar de ser rabino? Pode trocar de profissão? Quando morre, seu legado, seus atos influenciam sua comunidade? Ao longo da investigação , ao ouvir os depoimentos, Luciano, o perito policial, se depara em vários momentos com essas questões.
O autor, durante toda a trama, demonstra as aflições de suas personagens diante da rotina da vida cotidiana, com todos os percalços de suas funções, com seus dilemas pessoais com o árduo trabalho do perito que investiga as causas de muitas morte.
Quem pode tirar a vida? Quem dá a vida? Como um homem é capaz de um ato tão radical ao tirar a vida de alguém ou de si mesmo? Qual o sentido da vida?
Como o desvendar de um crime pode gerar tantas perguntas não respondidas e questionamentos sobre a vida de um homem, seja rabino, seja médico, seja um investigador?
Na luta pela sobrevivência, cruzamos com a vida e a morte a todo instante e nos debatemos sobre como preservar a dignidade humana num momento tão doloroso.
Podemos ir além com a leitura desta bela obra e perguntar como viver e conviver com dignidade. O livro é um suspense ou uma ficção? posso apenas afirmar que é um enigma, um estudo de caso policial muito bem articulado e de leitura instigante!